Isidoro Baçon, Luciano Moreira, Lugans Maia, Daniel Silva e Rinaldo Feijó poderiam ser chamados de segunda geração dos voluntários da pátria. Em 1956, quase um século depois de voluntários participarem da Guerra do Paraguai, brasileiros começaram a integrar as tropas das missões de paz das Nações Unidas. Baçon fez parte do grupo que participou da primeira operação com soldados nacionais. Com apenas 20 anos, foi para o Egito, no Batalhão Suez. De lá para cá se passaram cinco décadas, mas o sentimento dos "novatos" é o mesmo do veterano: participar de uma missão é algo que fica marcado para sempre.
Baçon não seguiu carreira no Exército depois que voltou da missão. Ele conta que, em 1956, cumpria o serviço obrigatório no Rio de Janeiro, quando topou a proposta de ir para a "viagem fantástica". "Ninguém sabia muito bem o que faríamos lá. Tudo era mistério". O evento foi tão marcante na vida dele que ele fundou a primeira associação no Brasil para reunir ex-combatentes do Batalhão Suez. Ele também é fundador de um museu que lembra a história das participações do país em missões de paz.
Século 21
Dos mais de 50 anos que separam a primeira missão do Brasil na Organização das Nações Unidas (ONU) até o reconhecido trabalho no Haiti, o país mudou muito. Nesta última década o governo tem se esforçado para ampliar seu papel nas Nações Unidas e conquistar o tão requisitado as-sento permanente no Conselho de Segurança do órgão. E o panorama é o mesmo em todo o mundo. Cada vez mais nações têm participado. Em toda a história da ONU esse é o momento em que a instituição mais participa de missões de paz: 15, com 100 mil pessoas envolvidas.
O capitão do Exército Luciano Moreira fez parte, em 2006, da Missão da ONU para a Estabilização no Haiti. Durante seis meses participou de uma rotina pesada que incluía 28 dias de trabalho e dois de descanso. Ele comandou um pelotão de 30 homens da infantaria, linha de frente das ações. Na partida do Brasil, o grupo tinha um misto de expectativa e ansiedade, porque o Haiti ainda era um território desconhecido, com histórico re-cente de golpes militares e com conflito civil armado em curso.
O que mais chamou a atenção do capitão foi a miséria. Não há Estado no Haiti, não há luz, água e esgoto. "O fato que mais me marcou foi quando dei doces para uma família e as crianças comemoraram como se fosse a melhor coisa do mundo. Este foi o único dia em que voltei para a base e chorei", conta Moreira.
Sudão
O coronel Rinaldo Feijó acabou de retornar do Sudão, país africano vizinho do Egito. Por um ano ele ajudou a mediar conflitos entre o exército do país e rebeldes do sul que desejam a separação. Após este período em um dos locais mais pobres do mundo, onde milhões de pessoas já morreram vítimas da guerra civil, Feijó voltou com o sentimento de viver em uma nação abençoada. "As diferenças culturais são enormes. A parte norte do Sudão vive sob a influência do islamismo e a sul é formada por diversas tribos."
Tanto o coronel Feijó quanto o capitão Moreira afirmam que o Brasil é bem visto nas missões de que participa. No caso do Haiti, por exemplo, os brasileiros são coordenadores da Minustah e em algumas favelas somente os militares daqui conseguiram realizar uma ocupação pacífica. No Sudão, os brasileiros ocupam cargos de comando e assessoria. A percepção dos dois é confirmada pela ONU. "Os brasileiros demonstram alto grau de profissionalismo e ganharam a admiração dos atores envolvidos", diz Giancarlo Summa, diretor do Centro de Informação das Nações Unidas para o Brasil.