Queimado, com um tiro na boca, sacos plásticos na cabeça, sem roupas e com sinais de violência sexual. Assim a polícia encontrou ontem o corpo da universitária Ana Cláudia Caron, 18 anos, desaparecida desde terça-feira passada. O corpo foi deixado em Almirante Tamandaré, região metropolitana de Curitiba, perto da Rodovia dos Minérios, após os motéis, debaixo de uma linha de alta tensão. A jovem foi levada da porta de uma academia, na Rua Paula Gomes, no Centro de Curitiba, quando estacionava o veículo Pálio, placa AKI-5603.
O crime é investigado por uma força-tarefa da Polícia Civil que, entre as pistas, tem informações captadas por torres do telefone celular de Ana Cláudia. A polícia trabalha com as hipóteses de seqüestro relâmpago, roubo do carro da vítima e até vingança, porque ela não carregava dinheiro, nem cartões de crédito. A academia a que ela se dirigia é freqüentada por policiais, o que pode reforçar a tese de vingança. Há ainda a possibilidade de assalto à mão armada.
Testemunhas contam que Ana Cláudia foi levada por dois homens que teriam se aproximado do carro e apontado uma arma para a vítima. Um guardador de carros, que trabalha no local, teria se aproximado do veículo e foi ameaçado pelos bandidos. A dupla entrou no veículo e saiu do local com a estudante. Segundo investigações, ela seguia para a academia com o namorado, em um carro separado. Ele ainda chegou a ver Ana Cláudia estacionando o Pálio na Rua Paula Gomes, após a esquina da Rua Duque de Caxias.
No mesmo dia, a polícia foi acionada pelos amigos da estudante que freqüentam a academia. Eles dizem que ficaram sabendo do fato meia hora depois, por testemunhas que viram a ação dos bandidos. "Assim que ficamos sabendo ligamos para a polícia. Todo mundo ficou desesperado. Saímos para ver o que tinha acontecido, mas os dois já tinham levado ela. Depois, telefonamos para avisar o que aconteceu para a família dela", disse um instrutor da academia, que preferiu não se identificar.
Segundo o delegado-chefe do Tigre, Riad Farhat, que coordena a força-tarefa, a polícia não vai divulgar qualquer informação sobre o caso para não prejudicar a investigação. "A única coisa que podemos adiantar é que não se trata de seqüestro", diz Farhat, lembrando que não houve pedido de resgate. Já o Pálio de Ana Cláudia ainda não foi encontrado pela polícia.
A universitária cursava o segundo semestre de Educação Física, na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Ela morava com a família no bairro Ahú. O corpo está sendo velado desde ontem na Capela da Luz, na Rua Desembargador Hugo Simas, e será sepultado hoje no Cemitério Paroquial São Marcos, no bairro Abranches.
Dor
Sentimentos de dor e revolta se misturavam quando familiares e amigos de Ana Cláudia foram reconhecer o corpo da estudante no Instituto Médico-Legal de Curitiba. "O que minha irmã não passou nas mãos desses bandidos durante esses dois dias? Estamos todos chocados e muito abalados. É uma situação muito difícil de lidar. Minha irmã era uma menina linda, estudiosa, carismática e cheia de vida. Não tenho palavras para descrever o que estamos sentindo", lamentou Alessandra Caron.
O pai da estudante, Paulo Roberto Caron, estava muito consternado. Ele disse que a polícia é quem vai dar as respostas encontrando os assassinos. "Isso é fruto da nossa insegurança", afirmou. Em Almirante Tamandaré, cerca de 23 mulheres foram mortas ou desapareceram no município até o ano de 2002.