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Entrevista

Mistura não serve para divulgar o tango

Consagrado pela crítica como o maior dançarino de tango do século 20 e eleito o melhor coreógrafo no American Choreography Awards por seu trabalho no filme Tango, do diretor espanhol Carlos Saura, o bailarino argentino Juan Carlos Copes, 75 anos, apresentou-se ontem à noite em Curitiba, encerrando o Campeonato Classificatório de Tango 2006, do qual foi jurado e padrinho. Além de assinar a coreografia do filme, Juan também encarnou um papel análogo à sua vida real: um grande professor e coreógrafo de tango. Em seus quase 60 anos de carreira, Juan foi mestre de mais de mil alunos, incluindo o bailarino russo Mikhail Barishnikov e os atores norte-americanos Robert Duvall e Liza Minelli.

Na adolescência, Copes fez aulas de tango durante dois anos, dia e noite. Hoje, ele mantém a escola Esquina de Carlos Gardel, em Buenos Aires, e prepara seu novo espetáculo, que estréia no fim do ano. Em entrevista exclusiva, o artista fala sobre a nova onda do tango.

O que o senhor acha do namoro do tango com a música eletrônica, experimentado recentemente por grupos argentinos e até por conjuntos de países europeus?

O ruim disto é que as pessoas de fora do nosso país acham que isso é tango, mas não é. Seria como tirar os verdadeiros instrumentos do samba. Vocês não gostariam disso. Estão exagerando na globalização e isso tira a idiossincrasia de cada país. Faz 25 anos que espero um artista do porte de Madonna ou Michael Jackson, mas representando o verdadeiro tango, para atrair os jovens. É preciso ter respeito pela tradição. O tango é uma coisa romântica, criativa e, sobretudo, vem do coração. Sem romantismo se perde tudo. O que os brasileiros vão ver em Buenos Aires é esse romantismo. Aqui no Brasil, assisti a um show de samba muito colorido em uma casa noturna no Rio, mas encontrei o verdadeiro samba em uma churrascaria onde as pessoas dançavam como sentiam. Hoje tudo está muito eletrônico. Os jovens dançam nesse ritmo, mas um dia eles vão entender, vão voltar e dizer que o Copes tinha razão.

Mas o senhor acredita que o tango é disseminado por esse novo ritmo?

Não. É como a música clássica, não tem de pôr instrumentos eletrônicos. As pessoas vão buscar uma coisa, mas encontram outra. A disseminação ocorre porque as pessoas querem fugir da globalização e buscam isso no "abraço". Em Estambu, por exemplo, estão dançando La Cumparsita (um tango clássico). Nos países frios eles encontram no tango uma forma de escutar a música sem ter de recorrer a bebidas energéticas. O mistério do tango é o "abraço" e se você dança assim nunca mais vai querer deixar de dançar.

E como o senhor avalia o tango dançado por brasileiros?

Os brasileiros conseguem se adaptar ao tango. Vocês têm o ritmo no sangue. Um dos melhores dançarinos de tango da Argentina hoje é um brasileiro. Os brasileiros sabem captar o tango, assim como alguns argentinos sabem dançar samba muito bem.

E qual o conselho para os que não são profissionais e querem se aventurar no tango?

Você tem de gostar do tango. Uma frase que sempre digo nas "aulas" – entre aspas, porque tango não se aprende – é que o mais difícil é tornar o tango fácil. Outra dificuldade é saber deslizar pelo chão, é preciso respeitá-lo.

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