"Doença não é individual, é familiar", diz neurologista

"Eu costumo dizer que a doença de Alzheimer não é individual, é familiar, porque afeta a todos os familiares do paciente. Se a família não estiver bem estruturada, o tratamento é muito mais difícil", afirma o médico neurologista e vice-coordenador do De­­par­tamento Científico de Neu­rologia Cognitiva e do En­­velhecimento da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), Ivan Hideyo Okamoto.

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Idade avançada não é sinônimo de falta de memória

Para os médicos da Academia Brasileira de Neurologia (ABN) é importante que a população se conscientize que a idade avançada não está relacionada à perda progressiva de memória. "Nós seres humanos temos a mania do pensamento binário, ou tem ou não tem, ou é bom ou não é bom, ou temos boa memória ou não temos.

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10 sinais de alerta

A Academia Brasileira de Neurologia elencou os 10 principais sintomas da doença de Alzheimer. Fique atento às observações para ajudar a identificar a enfermidade:

> O esquecimento chega a afetar as atividades normais e o trabalho.

> Dificuldade para realizar tarefas do cotidiano.

> Dificuldade para comunicar-se.

> Desorientação no tempo e no espaço.

> Diminuição da capacidade de juízo e de crítica.

> Dificuldade de raciocínio.

> Colocar coisas no lugar errado com frequência.

> Ter alterações constantes de humor e de comportamento.

> Apresentar mudanças na personalidade.

> Deixar de ter iniciativa para fazer as coisas.

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São Paulo - Ela chega lenta e sem alarde. Primeiro causa esquecimentos de fatos banais e recentes. Com o passar do tempo, altera a capacidade de raciocínio e modifica o comportamento, podendo levar até à morte, associada a outras enfermidades. É a doença de Alzheimer, descoberta no início do século 20 pelo médico Alois Alzheimer, e que recebeu os primeiros medicamentos em escala comercial há apenas uma década. Os mitos em torno da enfermidade, a negação do paciente e da própria família e a falta de preparo dos médicos em fazer um diagnóstico preciso dificultam o tratamento da doença. Hoje, segundo a Academia Brasileira de Neurologia (ABN), somente entre 5% e 10% dos pacientes portadores da doença fazem o tratamento específico.

A doença de Alzheimer afeta pessoas de 40 a 90 anos, porém é mais frequente a partir dos 65 anos de idade. Ela provoca a morte do neurônio, atingindo principalmente a capacidade cognitiva do doente. Como a causa é desconhecida, não há formas seguras de prevenção e como a cura ainda não foi descoberta, o tratamento é realizado no sentido de frear o avanço da doença. O número de doentes de Alzheimer também é impreciso. A ABN estima que existam 2 milhões de pacientes no Brasil, mas o Ministério da Saúde fala em 1,2 milhão.

Para desmistificar a doença, a ABN realiza a Campanha de Conscientização da Doença de Alzheimer na próxima segunda-feira, dia 21 – que é dia mundial da enfermidade –, com a distribuição de panfletos informativos à classe médica e divulgação na imprensa. A coordenadora do Departamento Científico de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da ABN, a médica Márcia Lorena Fagundes Chaves, ressalta que é importante que a sociedade deixe de relacionar o esquecimento à idade. "O esquecimento não é normal, o normal é você chegar na velhice com uma boa qualidade de vida", afirma. O vice-coodenador do mesmo departamento, o médico Ivan Hideyo Okamoto, reconhece que a iniciativa ainda é tímida. "Somos uma gota no oceano, mas precisamos mudar esse pensamento", acrescenta. Ambos concederam entrevista coletiva sobre Alzheimer na última terça-feira no Hotel Quality, em São Paulo.

Tratamento

Quanto mais precoce o diagnóstico, maiores a chances de sobrevida do paciente com Alzheimer. O neurogeriatra e membro da ABN no Paraná Luiz Carlos Benthien lembra que a doença não é hereditária e que a confirmação se dá principalmente por entrevistas com pacientes e familiares, além de testes neuropsicológicos. Como outros males têm sintomas semelhantes ao Alzheimer, é importante que o profissional seja especialista na área de demência.

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Os medicamentos estão disponíveis na rede pública, embora sejam pouco procurados. "Chega a vencer a validade, a procura é bastante baixa", lembra a médica Marcia Chaves. Mesmo assim, o Ministério da Saúde alega que a procura vem aumentando. A partir da inclusão no Sistema Único de Saúde (SUS), o governo federal passou a gastar de R$ 8,10 milhões em 2003 para R$ 63 milhões em 2008. Nas farmácias, os medicamentos para o controle de Alzheimer podem passar de R$ 400 a caixa.

Benthien afirma que o acesso ao tratamento é maior na região sul do país. "Se a média é de até 10% no Brasil, eu acredito que no sul chegue a 20%, porque isso tem muita relação com o perfil socioeconômico e o acesso à mídia", informa. Somente Benthien atende 8 mil pacientes com doença de Alzheimer no Paraná entre os estágios leve e moderado da enfermidade.

A repórter viajou a convite da Academia Brasileira de Neu­­rologia