O ex-policial e advogado Mizael Bispo de Souza foi condenado a 20 anos de prisão hoje (14) pela morte de sua ex-namorada Mércia Nakashima. O crime ocorreu em maio de 2010, em Nazaré Paulista (a 64 km de São Paulo).
O julgamento durou quatro dias no Fórum de Guarulhos (na Grande São Paulo). Ao todo, nove pessoas foram ouvidas, sendo cinco de acusação, três de defesa e um perito arrolado pelo juiz Leandro Bittencourt Cano. O réu foi ouvido ontem e voltou a negar participação no crime.
Uma das testemunhas mais importantes foi o delegado Antônio Assunção de Olim, responsável pela investigação, que foi ouvido anteontem. Em mais de cinco horas de depoimento, ele afirmou ter certeza da participação de Mizael no crime.
Neste último dia de júri, defesa e acusação argumentaram por cerca de 1 hora e meia. A Promotoria tentou mostrar que Mizael mentiu no interrogatório e mostrou fotos e e-mails de Mércia, o que emocionou os jurados. A defesa disse que esses e-mails foram editados e disse que não há provas concretas contra o réu.
O vigia Evandro Bezerra Silva também é acusado de participação no crime. Inicialmente, ele iria a julgamento com Mizael, mas o júri foi desmembrado e o julgamento do vigia adiado para 29 de julho. A decisão aconteceu à pedido da defesa de Bezerra, que alegava tese conflitante entre os dois acusados.
Terceiro dia
O terceiro dia de julgamento foi marcado pelo depoimento de Mizael, que afirmou que as provas contra ele foram forjadas, e que nunca esteve na represa de Nazaré Paulista (a 64 km de São Paulo), onde o corpo de sua ex-namorada Mércia Nakashima foi encontrado.
"Levaram meu sapato lá [na represa], ou pode ser da minha rua, que é de terra. Juro pela minha filha de onze anos que nunca estive na represa", disse Mizael. No calçado, foi encontrada uma alga compatível com a que existe na represa. "Nunca queiram estar nas mãos da polícia, porque não é fácil", disse o réu.
Ele também disse que não poderia atirar contra Mércia devido a uma lesão sofrida em 1999, que o fez se aposentar da Polícia Militar. Segundo ele, o problema ocorreu devido a um choque elétrico, que provocou uma deficiência na mão direita. Ele disse ainda que tinha duas armas em casa, mas negou que andasse com elas.
Além de Mizael, foram ouvidos na quarta-feira dois peritos. O primeiro foi Renato Pattoli, responsável pelos laudos feitos durante as investigações. Na ocasião, o promotor Rodrigo Merli Antunes insinuou que Mizael usou um silenciador para matar Mércia, o que validaria o depoimento de uma testemunha mantida anônima que aponta ter ouvido gritos, mas não tiros.
Já a defesa, tentou desqualificar os laudos, principalmente as análises feitas do sapato do réu, que encontraram terra, indícios de sangue e osso, um pedaço metálicos contendo chumbo e zinco, além de uma alga que seria compatível às que vivem na represa onde o carro e o corpo da advogada foram encontrados.
Depois dele, foi ouvido Hélio Garcia Ramaciotti, que analisou os horários e trajetos feitos por Mizael e Mércia na noite do crime, 23 de maio de 2010. Ele também analisou os dados do vigia Evandro Bezerra Silva, também acusado de envolvimento no crime.
Ele disse que Mizael poderia ter ido até a represa de Nazaré Paulista e retornado para o local em que estava seu carro, no estacionamento do Hospital Geral de Guarulhos (na Grande São Paulo), no horário em que uma testemunha afirma tê-lo visto.
Mizael afirma que não deixou o estacionamento do hospital e que estaria acompanhado de uma prostituta. Outras testemunhas, no entanto, já afirmaram nos últimos dois dias que os registros telefônicos não são compatíveis com essa versão e que ele teria saído do local.
Segundo dia
O investigador Alexandre Simoni Silva foi a última testemunha a depor nesta terça-feira, segundo dia de julgamento. Encarregado de analisar dados telefônicos do acusado, ele disse que o réu usava um celular para falar com Mércia e outro, sem cadastro, para falar com o vigia Evandro Bezerra da Silva, também acusado de envolvimento no crime.
Ele também afirmou que o telefone de Mizael apresentou uma "movimentação atípica" na noite do crime de acordo com a captação das antenas de telefonia. Segundo ele, o sinal do celular do ex-policial ficou distante do local onde estava seu carro, no estacionamento do Hospital Geral de Guarulhos.
Antes do investigador, já tinha sido ouvida outra testemunha de defesa, Rita Maria de Souza. Ela era corretora de imóveis em uma imobiliária que fica no mesmo prédio onde funcionava o escritório de Mizael. Ela disse que Mizael ajudou Mércia profissionalmente, ia buscá-la em casa e era "cavalheiro" - abria a porta para ela.
O delegado Antônio Assunção de Olim, responsável pela investigação do caso, foi a testemunha mais importante e disse durante as cinco horas em que prestou depoimento que Mizael tem culpa no crime. Ao ser questionado sobre a participação de outras pessoas no crime, Olim afirmou ter certeza que "foram só os dois" - Mizael e o vigia Evandro Bezerra Silva.
Olim foi a testemunha ouvida por mais tempo neste segundo dia de júri. A defesa tentou desqualificar as investigações presididas por ele e, em alguns momentos, a inquirição da defesa irritou a testemunha, assim como o juiz Leandro Cano, que ameaçou mais de uma vez instaurar o sistema presidencialista caso as perguntas continuassem a ser acrescidas de comentários.
Depois de Olim, foi ouvido o advogado Arles Gonçalves Júnior, que acompanhou o interrogatório do vigia Evandro ainda durante as investigações. Ele negou que tenha havido qualquer tipo de arbitrariedade na ocasião e ressaltou que o vigilante admitiu ter ido buscar Mizael na represa de Nazaré Paulista (a 64 km de SP), a mesma em que o corpo de Mércia foi encontrado e que, antes disso, Mizael havia afirmado estar bravo com Mércia.
O advogado da OAB falou também sobre a reconstituição do crime, em Nazaré Paulista, e disse ter presenciado uma briga entre o advogado de Mizael, Samir Haddad Júnior, e Márcio Nakashima, irmão de Mércia, que se empurraram. Márcio teve a camiseta rasgada, mas o advogado não soube precisar por quem.
Primeiro dia
O primeiro dia de júri foi marcado por provocações e discussões entre as duas partes. Uma das testemunhas ouvida foi o engenheiro Eduardo Amato Tolezani, que afirmou que que a versão de Mizael de que estava estacionado no Hospital Geral de Guarulhos (na Grande São Paulo) na hora da morte de Mércia não é possível, de acordo com os registros telefônicos do celular dele.
Mizael havia dito durante as investigações que estava com uma prostituta, em seu carro, na noite do crime. O engenheiro, no entanto, cruzou as informações enviadas pela operadora de telefonia Oi com os dados do GPS do carro do policial aposentado, o que contesta a afirmação.O estudo, feito a pedido do Ministério Público, mostrou que, enquanto o GPS do carro apontou que o veículo estava no estacionamento do hospital, ligações feitas e recebidas pelo celular de Mizael, usavam antenas de telefonia que não atendiam aquela área.
Antes de Tolezani, prestou depoimento o biólogo Carlos Eduardo de Mattos Bicudo, que analisou os sapatos de Mizael e afirmou que havia neles a mesma alga encontrada na represa de Nazaré Paulista (a 64 km de São Paulo), onde o corpo de Mércia foi encontrado.
"O sapato analisado foi submerso na água da represa. Não há outra hipótese para essa alga estar lá", afirmou a testemunha. Apesar disso, ele afirmou que a alga existe sim em outros locais do Estado de São Paulo.
Também foi ouvido no plenário Márcio Nakashima, irmão de Mércia. Ele disse que o réu fazia ameaças e perseguia a vítima. 'Quando ele não conseguia falar com ela, ele saía atrás dela. Ele gostava de controlar o que ela fazia", afirmou.
Márcio disse ainda que, mesmo após o fim da parceria profissional - eles eram sócios em um escritório de advocacia - e do relacionamento, Mizael continuava passando em frente ao prédio da vítima. O acusado também ligava repetidamente para o celular de Mércia, o que fez com que ela trocasse o número do celular diversas vezes.
Durante o depoimento de Márcio, Mizael foi retirado do plenário a pedido do Ministério Público. De acordo com a acusação, a testemunha se sentia ameaçada pelo réu. A defesa contestou que, por ser advogado, Mizael faria sua autodefesa, porém o juiz deu seu parecer favorável à Promotoria.