O que era um mero adereço colorido para muitos jovens passou a ser visto como uma preocupação para pais e professores depois que a notícia sobre a pulseira do sexo veio à tona na semana passada. Antes, não havia qualquer conotação sexual, nem mesmo malícia, para quem comprava e usava o acessório como modismo. "Os pais não sabiam o significado que as pulseiras poderiam ter quando estavam comprando para seus filhos", conta a orientadora educacional Margarete Cunico, do Colégio Novo Ateneu.
Um jogo carregado de erotismo, que teria origem na Inglaterra, ganhou repercussão a partir de e-mails e outras ferramentas de comunicação na internet. De acordo com as regras, quem tem uma pulseira arrancada fica com uma dívida que varia de um abraço até atos sexuais, de acordo com a cor do adereço. Entretanto, no Brasil, o acessório não era relacionado a esta prática. "Não via desta maneira aqui. Vejo como um boato. Na Europa até pode existir, mas aqui eu acho bobagem. Foi só uma modinha mesmo, assim como piercings, óculos coloridos e colarzinhos", avalia a corretora Fernanda Azevedo, mãe de duas meninas que continuam a usar as pulseiras.
Contudo, a discussão se transformou em alerta para pais e professores. Escolas passaram a proibir o uso das pulseiras pelos alunos e os pais começaram a observar mais o comportamento dos filhos. "Não acho errado que proíbam o uso nas escolas. Tem de ser assim mesmo", considera Fernanda. "Não sabia do que se tratava. Tanta coisa que acontece que a gente não acompanha. Se é boato ou não, não sei até onde vai isso", afirma a manicure Carla Aparecida Campos. A filha dela, de 9 anos, tomou a iniciativa de jogar as pulseiras no lixo.
O uso de uma pulseira ganhada em uma brincadeira de mau gosto causou constrangimento para um adolescente de 15 anos, depois que sua família associou a cor do acessório com a mensagem do jogo. "Não é uma questão de contestar a orientação sexual. A humanidade acabou transformando as pessoas em coisas que devem ser consumidas", lamenta a assistente social Valéria Lopes dos Santos.
As pulseiras ainda são vistas como um sinal de amizade. Três jovens, todos com 14 anos, compraram o acessório em conjunto, há cerca de um mês, como símbolo de união. "Não existe malícia alguma e continuamos usando. É uma bobagem o que dizem. Não existe nenhuma regra", conta um deles. Duas irmãs, de 14 e 10 anos, compraram as pulseiras coloridas há duas semanas por serem um adereço da moda. Quando souberam do significado que poderiam ter, tomaram atitudes diferentes. "Fiquei com medo e dei as minhas para minha irmã", conta a caçula. "Acho que é besteira. Está na moda, todo mundo usa. Troco [pulseiras] com minhas amigas", diz a mais velha.
De acordo com os comerciantes, a venda das pulseiras não é associada a qualquer ritual. Já foram sucesso há cerca de cinco anos e, agora, a moda voltou. "O pessoal procura a pulseira como algo normal, assim como os outros acessórios", diz o comerciante Jorge Garcia. Já Sheila Pedrotti reclama da queda nas vendas depois da polêmica. "Caiu bruscamente. Antes vendia uns 150 conjuntos por dia. Agora, no máximo 20".
* * * * * * * *
Interatividade
Como os pais devem abordar a orientação sobre o uso das pulseirinhas com as crianças?
Escreva para leitor@gazetadopovo.com.br
As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.