Hoje a política nacional antidrogas estabelece que o tratamento dos dependentes químicos deve ser feito nos Caps Centro de Atenção Psicossocial. Em Curitiba, por exemplo, a desintoxicação é feita nos Centros Municipais de Urgência, hospitais de média complexidade. Somente nos casos em que o paciente oferece risco à própria vida ele é encaminhado a hospitais psiquiátricos. Há apenas 145 leitos nesses locais. Essa é uma das críticas de familiares e especialistas. Como um usuário crônico de crack vai buscar ajuda se as alternativas que tem são o meio aberto, onde o contato com as drogas permanece, e as vagas em hospitais psiquiátricos são escassas?
Conforme esclarece a coordenadora de saúde mental da prefeitura de Curitiba, Cristiane Venetikides, a lei da reforma psiquiátrica estabelece que a chamada internação compulsória deve ocorrer somente em casos extremos. Esse tipo de procedimento deve, inclusive, ser informado ao Ministério Público. Ela ressalta que o tratamento de dependentes químicos é feito individualmente e que não há receita mágica para cada um.
"Depende do tipo e da quantidade de droga, por exemplo", explica. "Há pacientes que conseguem a abstinência somente frequentando os Caps, outros precisam de um leito psiquiátrico e outros que precisam ficar em comunidades terapêuticas. Mas nada vai funcionar se o paciente não quiser." Cristiane lembra que mesmo nas comunidades terapêuticas há a necessidade de se fazer o tratamento médico porque é considerado uma ação complementar.
Mas, para algumas famílias, como as consequências do uso de drogas foram tão devastadoras, a única saída para o usuário é o afastamento desse meio. E elas esbarram na falta de vagas. Clínicas particulares chegam a cobrar R$ 11 mil por um período de tratamento. As alternativas acabam sendo as comunidades terapêuticas, que geralmente são organizações não governamentais. Algumas prefeituras até mantêm convênios para garantir atendimento, mas a falta de vagas também é constante.
O presidente da Associação das Comunidades Terapêuticas de Curitiba e Região Metropolitana (Compacta) e coordenador da Casa de Recuperação Água da Vida (Cravi), psicólogo Flávio Roberto de Almeida Lemos, avalia que o problema de atendimento na área da dependência se deve em parte à própria política antidrogas do governo federal. "Estamos em um processo de desospitalização", lembra. "O Brasil só propõe uma forma de tratamento e acho isso ridículo. Por exemplo, o sujeito é um usuário de crack comprometidíssimo. Você acha que o Caps vai funcionar para ele? O Caps só funciona para aquele usuário moderado, leve. O governo desassistiu o usuário de drogas."