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Relacionamentos

Moldados pelas redes sociais

O contador Lúcio Mário Milczevski – com Eduardo Domanski  e Eduardo Pavloski – criou uma comunidade de corrida em um site de relacionamento que chegou a 2,7 mil usuários | Hugo Harada / Gazeta do Povo
O contador Lúcio Mário Milczevski – com Eduardo Domanski e Eduardo Pavloski – criou uma comunidade de corrida em um site de relacionamento que chegou a 2,7 mil usuários (Foto: Hugo Harada / Gazeta do Povo)
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Fabrizzio Zanette reuniu um grupo de amigos para ajudar outras ONGs

Pesquisas recentes mostram como as redes sociais – virtuais ou não – de amigos, conhecidos, familiares e colegas de trabalhos moldam a vida das pessoas. São influências que podem tanto tornar melhor quanto piorar a vida das pessoas. Como isso acontece é o objeto de levantamentos em áreas que vão da economia à saúde. A conclusão é que as redes de relacionamentos moldam nosso comportamento muito mais do que poderíamos imaginar.

Na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, pesquisadores coletaram informações de um banco com 12 mil pessoas, acompanhadas durante 30 anos. Os resultados mostraram que, além da influência direta das pessoas com quem nos relacionamos, os indivíduos são afetados também por pessoas que nem conhecem, como o amigo do amigo. É como se houvesse uma "transmissão" do comportamento e sentimentos.

O estudo, publicado no livro O poder das conexões, do pesquisador Nicholas Christakis, mostra que um indivíduo tem 15% mais chance de ser feliz se estiver conectado a uma pessoa feliz. Ao lado de alguém infeliz, as chances caem 7%. Quando uma pessoa com quem estamos conectados no segundo grau – o amigo do amigo – também se sente feliz, nossa probabilidade de compartilhar o sentimento é 10% maior. Segundo Christakis, cada amigo extra reduz em dois dias por ano a frequência de solidão. A obesidade também poderia ser enquadrada como uma espécie de epidemia social: ter um amigo que se torna obeso aumenta em até 57% a chance de engordar.

Social desde sempre

Apesar de o ser humano sempre viver em rede, na última década a discussão ganhou as universidades em função do boom da internet e do aparecimento das redes virtuais. Para o pesquisador Au­­gusto de Franco, criador da Escola de Redes e estudioso da área há uma década, viver conectado sempre foi uma característica do Homo sapiens. "O que nos torna humanos não é o genoma. Ele apenas determina o que é humanizável. Só com o relacionamento nos tornamos uma pessoa."

A conexão com os outros é es­­sencial para determinar se o indivíduo será magro, se terá uma alimentação saudável e quais serão os seus gostos e preferências. "O ser humano nasce em rede. A internet apenas acelera este processo, porque permite uma interação em tempo real com pessoas do outro lado do planeta", explica Franco.

Até mesmo a economia sofre esta influência. O grupo de amigos pode ser decisivo na forma como o dinheiro é gasto – como o tipo de roupas compradas ou os restaurantes frequentados. Christakis cita uma pesquisa em que 55% dos entrevistados tinham sido indicados para a atual vaga de emprego por pessoas com quem conversavam ocasionalmente. "As redes, que começam na família, expandem-se e ficam mais complexas. Podem ser efetivas e úteis para extrair informações e alimentar a confiança, que guia o mundo das trocas", diz a economista e professora da Universidade Mackenzie Roberta Muramatsu.

As redes, entretanto, não "condenam" os indivíduos e são um fator que pode ser alterado ao longo da vida. Professora de Psicologia Social da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Neuzi Barbarini explica que o ser humano passa por dois processos de socialização. A primária está relacionada aos anos iniciais de vida, quando a influência direta da família é maior. Depois vem a secundária, a que estamos sujeitos durante toda a vida. "O olhar do outro é que nos constrói como pessoa, apesar de nem sempre haver uma relação de causa e efeito direta nas nossas relações."

Internet mexeu na educação, artes e política

A internet ampliou a capacidade de conexão entre os seres humanos. Em 2002, era possível encontrar qualquer indivíduo no mundo com seis pessoas intermediárias, tese da famosa teoria dos "seis graus de separação". Em 2011, essa medição foi feita no Facebook e o número havia caído para 4,7 intermediários, ampliando as possibilidades de ligação com os outros.

Essa capacidade de conexão teve influência em diversos setores da sociedade, como a educação e a política. As redes virtuais transfor­­maram as possibilidades de aprendizagem. Os estudantes não estão mais limitados aos colegas de classe e ao professor, podem procurar materiais, aulas diferentes e ajuda de outros profissionais. Criador da Escola de Redes – rede virtual que reúne sete mil pesquisadores –, Augusto de Franco diz que a internet ajudou a descentralizar o conhecimento. "O conhecimento ficou ‘trancado’ nos mosteiros e depois nas universidades. Hoje não existe este monopólio."

E não é apenas na aprendizagem formal que a internet tem impacto. Em outras áreas, como a dança e música, ela também pode ser decisiva. Chris Anderson – curador das conferências TED (Technology Entertainment e Design), que reúnem especialistas de todo o mundo para a realização de palestras, depois disponibilizadas gratuitamente na rede – citou recentemente o exemplo de jovens dançarinos. Eles colocam vídeos na internet e competem com os demais para ver quem dança melhor. A "moda" já chegou no Brasil e garotos do Rio de Janeiro disputam para saber quem é o dançarino mais criativo da cidade. Um dos vídeos já teve mais de 11,5 milhões de visualizações.

Participação

A política também sofreu influência das redes sociais. No mundo árabe as reivindicações a favor da democracia tiveram a web como grande ferramenta mobilizadora. "Sou otimista sobre a relação entre a internet e política. As pessoas cobram mais o poder público e exigem transparência. Não será uma ‘Ágora’ virtual, mas seremos mais democráticos e tolerantes", diz Sérgio Braga, cientista político e professor da UFPR.

Colaboração descentraliza poder de ação

O conceito de redes também está sendo usado para ampliar as potencialidades do terceiro setor. Cássio Martinho – um dos autores do livro "Vida em rede: conexões, relacionamentos e caminhos para uma nova sociedade", lançado em novembro de 2011 – explica que a ação em rede redesenha a organização do trabalho e proporciona relações horizontais e aumento da conectividade entre as pessoas. O benefício para as ONGs é o ganho de escala em resultados e diminuição dos custos. "Quebra-se a hierarquia organizacional e o conflito é colocado no centro do processo".

Coordenadora de Desen­­volvimento Institucional e Redes do Instituto C&A, Cristiane Félix explica que a forma colaborativa permite que todos participem do processo. "Essas conexões podem ser indutoras de desenvolvimento e transformação."

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