Após uma fala polêmica no dia 7 de fevereiro deste ano, o então apresentador do Flow Podcast Bruno Aiub, conhecido como Monark, passou a ser chamado de nazista por milhares de mensagens na internet, foi “demitido” da empresa que ajudou a fundar e teve seu canal com 3,6 milhões de seguidores desmonetizado pelo YouTube.
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Monark sofreu um cancelamento massivo na internet, capitaneado em grande parte por influenciadores e usuários de redes sociais ligados à esquerda, por ter defendido um conceito amplo de liberdade de expressão, no qual a apologia a regimes totalitários como o nazismo e o comunismo não seria considerada crime, assim como ocorre hoje nos Estados Unidos graças à Primeira Emenda à Constituição norte-americana.
Desde o ocorrido, o apresentador pediu desculpas publicamente e disse repetidas vezes que não tem nenhuma simpatia com ideias nazistas, apenas defendeu um ponto de vista de uma maneira errada. Mesmo assim, a conta do cancelamento chegou: todos os patrocinadores do podcast que Monark apresentava foram pressionados a cancelarem os contratos de publicidade com o programa, o que de fato ocorreu e por pouco não levou o estúdio Flow, que gerencia não apenas o Flow Podcast, mas vários outros programas, à falência.
Para lidar com a crise, Monark e o sócio, Igor Coelho, ambos fundadores do estúdio e do podcast, decidiram romper a sociedade para que a crise não atingisse mais severamente a empresa. Além disso, o programa veiculou em várias ocasiões conteúdos contrários a regimes totalitários e assumiu a responsabilidade pelo ocorrido. Não adiantou. O YouTube decidiu penalizar o Flow Podcast com quase dois meses de desmonetização, o que só foi revisto após uma campanha em que dezenas de apresentadores de podcasts Brasil afora com milhões de seguidores pressionaram publicamente a plataforma de vídeos para que revisse a posição.
Já o canal de Monark não teve a mesma sorte e permanece sem monetização até hoje. Diante da penalização, o apresentador decidiu criar um novo podcast, desta vez na plataforma Rumble, concorrente do YouTube. O programa aposta suas fichas na liberdade de expressão e já trouxe como convidados humoristas, políticos, jornalistas, artistas e cientistas. Mesmo em uma plataforma pouco conhecida no Brasil, os cerca de 30 episódios do programa já ultrapassaram 2,5 milhões de visualizações no Rumble.
Nesta entrevista exclusiva, Monark falou à Gazeta do Povo sobre o episódio de cancelamento, os danos do “politicamente correto” à liberdade de expressão e os métodos de ação de militantes de esquerda para silenciar vozes opostas.
Desde o ocorrido, você pediu desculpas publicamente e deixou claro que não simpatiza com ideias nazistas. Mesmo assim, sofreu duras consequências e perseguições diversas. Pensando hoje, você mudaria algo na forma como lidou com a crise?
Monark: Mudaria muita coisa. O problema é que não era só eu lidando, tinha toda uma empresa, várias pessoas envolvidas, e acho que isso acabou me impedindo de lidar da melhor maneira possível. Se fosse hoje, acho que teria agido de outra forma. Acho que eu não pediria desculpas, eu teria defendido meu ponto com mais afinco. Mas a outra decisão, que era a de continuar no Flow, não dependia só de mim.
Fora a parte profissional, como ficou sua vida após o cancelamento? Você ainda tem sido alvo de militantes?
Monark: Vejo muitos comentários bestas na internet sobre mim, mas é só isso. Não está rolando uma grande perseguição posterior. Consegui seguir minha vida normalmente; estou trabalhando, estou produzindo.
Foi uma porrada forte. Tinha muita gente achando que eu iria me matar por causa do cancelamento, muita preocupação nesse sentido. Em questão de cancelamento, talvez tenha sido o maior caso no Brasil. Saiu em vários grandes jornais, no Brasil e em outros países. Foi algo bem grande.
Um pouco antes da sua fala que gerou a polêmica você fez críticas ao nazismo e ao comunismo. Qual é o peso político do seu cancelamento? Isto é, ao equiparar ambos os regimes, você acredita que isso pode ter despertado essa forte reação da esquerda?
Monark: No episódio, eu falei que a esquerda radical tem muita voz, e por isso que fazer apologia ao comunismo é liberado. Depois veio a frase infeliz de que se os comunistas podem ter um partido, os nazistas também poderiam ter.
Eu acho que criticar o comunismo pode ter ajudado [a impulsionar o cancelamento], mas a verdade é que eu já era alvo há muito tempo. Já estavam tentando acabar com minha reputação há anos.
Você diz que a esquerda sempre te perseguiu, mas você não se define como “de direita”. Por que você acha que houve esse cancelamento tão forte capitaneado principalmente por pessoas mais à esquerda?
Monark: Acho que é porque em muitas das minhas falas, ainda mais conversando com figuras políticas importantes do país, meu contraponto era sempre contra o identitarismo e contra o método que a esquerda hoje usa para fazer política. Então, acho que virei alvo por causa disso. "Pô, o cara está estragando o nosso jogo ali, isso não é bom pra gente. Vamos tirar ele da jogada". Talvez eu estivesse fazendo um estrago, talvez eu estivesse convencendo pessoas do quão ridículo é o identitarismo, a política de cancelamento, essas coisas.
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Após o Elon Musk anunciar que tinha intenção de comprar o Twitter para lutar pelo direito à liberdade de expressão, ele passou a sofrer diversos ataques na internet. Na sua opinião, por que há tanto receio pelos que defendem o “politicamente correto” a dar voz a todos, independentemente de visão política?
Monark: Porque essa é uma noção que vai diretamente contra o controle que eles tentam exercer através do politicamente correto. Ao se permitir os discursos mais variados possíveis, você mina a capacidade deles de coagir uma sociedade a pensar de uma determinada forma. Hoje, se você pensar diferente, se torna automaticamente uma pessoa "maligna".
A esquerda não quer perder o controle ideológico que sente que tem na internet hoje, e o Elon Musk, um cara poderoso, trazendo o Twitter para esse lado da liberdade, eles veem como uma grande ameaça ao controle político que eles hoje exercem.
Uma tática dos canceladores é pressionar agressivamente as empresas que patrocinam programas, veículos de comunicação ou figuras públicas para que suspendam contratos e inviabilizem financeiramente seus alvos. Como você avalia a forma como as empresas têm lidado com essas pressões?
Monark: De forma geral, lidam muito mal. A parte de mídia das empresas normalmente é controlada por funcionários que costumam comprar essas narrativas. E quem está mais acima na empresa pensa que é melhor se afastar de quem está sendo alvo do cancelamento do que comprar uma briga. Eles não querem comprar briga porque sentem que isso pode acabar prejudicando a imagem da empresa.
Assim como nós somos reféns dessa galera, as empresas também são. Veja o caso do dono do Madero [empresário Junior Durski, apoiador de Jair Bolsonaro]. Ele foi ultra atacado pelo posicionamento político dele, e isso acaba afetando a empresa dele. Se você for olhar no Ifood, as notas que dão para o restaurante dele são mais baixas, e acredito que isso não seja por causa da qualidade do restaurante, mas porque a galera comprou essa narrativa de que ele é bolsonarista, logo ele tem que ser cancelado para sempre.
Então acho que as empresas ficam com medo de serem alvo nesse sentido e tentam se afastar o mais rápido possível de qualquer polêmica. Nisso elas acabam se tornando reféns e ao mesmo tempo parte dessa máquina de cancelamento.
Depois de ser penalizado pelo YouTube, você decidiu passar para a plataforma Rumble. Qual é a proposta dessa plataforma, globalmente falando e especificamente para o Brasil?
Monark: É justamente a defesa da liberdade de expressão. Quando o YouTube começa a ser um ente censurador, a querer regular o discurso público, isso abre uma brecha de mercado para que outras empresas que não tenham essa postura censuradora se estabeleçam como lugar livre.
Então acho que o Rumble aproveitou isso e passou a se posicionar dessa forma, porque sente que consegue atrair as pessoas que estão de saco cheio de serem controladas por uma grande empresa. É algo que tem funcionado bastante nos Estados Unidos, porque o YouTube tem censurado muitos grandes influenciadores lá fora, e eles precisam de um lugar que se sintam seguros. E o Rumble oferece um lugar para que as ideias possam ser expostas.
E a plataforma está indo bem aqui no Brasil?
Monark: Está indo bem, mas a polêmica fez com que eles adiantassem bastante os planos de vir para cá. Eles aproveitaram esse hype do que estava acontecendo, do cancelamento, para provar o ponto deles, que eles são uma empresa que vai defender a liberdade de expressão.
Eles enxergaram na minha história uma boa forma de provar esse ponto e se estabelecer no Brasil. Mas justamente por terem adiantado um pouco os planos de vir para cá, a plataforma ainda precisa de algumas adaptações, como, por exemplo, ser traduzida para português e ser localizada para que, quando você entre no site com IP brasileiro, encontre conteúdos em português. Acho que logo vão resolver isso, e a plataforma vai ficar mais acessível para os brasileiros.
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