Enquanto o Centro de Curitiba perde habitantes, os bairros da periferia e os municípios da região metropolitana, por vezes com menos infraestrutura, incham. Ao mesmo tempo, o comércio e a rede de serviços do Centro, que concentra ainda a força financeira da cidade, com os principais escritórios, atraem os cidadãos de menor poder aquisitivo, por causa do preço, da variedade e da tradição dos estabelecimentos. O trânsito caótico na região durante o dia e a "desertificação" à noite são reflexos diretos desta falta de outras centralidades definidas na cidade.
"Até existem outros centros em bairros como o Portão, mas que não chegam a formar uma centralidade forte o bastante para competir com o Centro de Curitiba, que acabou se expandindo, nos últimos anos, para o Batel, o Centro Cívico e o Juvevê", explica a geógrafa do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes) e da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano (Sedu), Rosa Moura, que também é pesquisadora do Observatório das Metrópoles.
O mesmo acontece com municípios da região metropolitana. "O centro financeiro mais desenvolvido entre esses municípios é o de São José dos Pinhais. Mesmo assim, ele ainda não é suficientemente atraente para consumidores de outras cidades da RMC. Nesse ponto faltam também estradas intermunicipais, já que o consumidor que tem de passar por Curitiba para chegar a São José acaba ficando na capital mesmo."
Para Rosa, o problema da falta de outras centralidades foi construído pelo próprio projeto de planejamento de Curitiba, que parte do Centro para os bairros por meio de vias estruturais, organizando a cidade e fazendo com que outras centralidades sejam um pouco "esquisitas" em termos de organização espacial, se localizando em volta dessas vias estruturais.
De 1970 a 2000, o Centro de Curitiba perdeu cerca de 10 mil habitantes, não só deixando de ser o mais populoso, mas também sequer constar entre os dez mais. É o que diz um estudo dos arquitetos e professores do mestrado Gestão Urbana da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Clóvis Ultramari e Fábio Duarte, de 2006, com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No final dos anos 1970, quando o plano urbanístico de reestruturação da cidade estava em pleno processo de implantação, a parcela do Centro na população total era de 4,1%. Vinte anos depois, caiu para 2,1%.
Mesmo centralidades temáticas são escassas em Curitiba. Há a Avenida Manoel Ribas e entorno com restaurantes e lojas de decoração, a Rua Teffé, com os calçados, a região do Batel, com os bares e restaurantes e para por aí. "Uma tendência de atividades em outros pontos da cidade também diminuiria o fluxo para o Centro. Ainda assim, há várias soluções para distribuir melhor esse fluxo", sugere outro professor de Gestão Urbana da PUCPR, Tomas Moreira.
Para o supervisor do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), Ricardo Bindo, uma das opções é o metrô. "Uma conexão intermodal como o metrô, com uma maior integração metropolitana, conseguiria diminuir, consideravelmente, o fluxo de ônibus que circulam pelo centro da cidade, a exemplo do que ocorreu, em certa escala, com a instalação dos terminais nos bairros, anos atrás." Ainda assim, cerca de 30% dos 2,9 milhões de passageiros/dia, segundo a Urbs, vão até o Centro.
Ciclovias, como já foi prometido pelo Ippuc, e melhorias nas calçadas também são fundamentais, mas Moreira aposta boa parte de suas fichas em outra mudança: a cultural. Uma campanha no estilo Lixo que não é lixo, ou ainda horários escalonados de trabalho. "Uma parte das pessoas entra às 7 horas, outra às 8 horas e assim por diante, diluindo a entrada e saída de pessoas do Centro. São mudanças das quais a sociedade civil também tem de tomar parte para convencer a população a deixar o carro em casa."