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Dona Branca, moradora de Ponta Grossa, recebeu uma casa construída com sacos de terra: “É bem fresquinho”, diz | Luciano Mendes/Gazeta do Povo
Dona Branca, moradora de Ponta Grossa, recebeu uma casa construída com sacos de terra: “É bem fresquinho”, diz| Foto: Luciano Mendes/Gazeta do Povo

Regulação

Projetos financiados pelo governo precisam ser normatizados

Qualquer imóvel que seja financiado por programas de habitação do poder público precisa seguir as normas vigentes para o setor de construção civil. Por isso, projetos que usam materiais alternativos precisam se adequar às normas já existentes para serem aprovados, por exemplo, no programa Minha Casa, Minha Vida.

O vice-presidente administrativo do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Paraná (Sinduscon-PR), Euclésio Finatti, lembra que os processos construtivos precisam ser avaliados pelo Ministério das Cidades e pela Caixa Econômica Federal antes de serem financiados. "Eu posso construir uma casa com papelão e receber o pagamento pelo projeto, embora a casa não esteja normatizada. Mas, se houver financiamento público, eu não posso realizar esse tipo de construção", aponta.

Finatti acrescenta que a construção civil utiliza tradicionalmente produtos que degradem o meio ambiente ao serem coletados, como a areia e o ferro. No entanto, o segmento vem evoluindo gradativamente para empregar novos processos construtivos menos degradantes.

Dona Branca, como é mais conhecida a desempregada Amanda Lopes de Souza, 59 anos, que vive na periferia de Ponta Grossa, nos Campos Gerais, nunca pensou em morar numa casa de terra. Ela tinha uma residência de madeira com uma única peça onde cabia apenas uma cama de solteiro, um fogão e uma pia. Com a ajuda de uma ONG e da iniciativa privada, ela ganhou uma casa mobiliada feita com sacos de terra no mesmo terreno onde vivia. A casa está entre os projetos alternativos da construção civil que aliam o baixo custo e a preservação ambiental, com o uso de materiais sustentáveis.

Para erguer as paredes de barro de 40 centímetros de espessura, técnicos da ONG Instituto de Desenvolvimento Sustentável do Paraná (Idesp), com sede em Ponta Grossa, encheram vários sacos de 60 quilos com terra e os empilharam até os transformar numa casa com quarto, sala e cozinha conjugados e banheiro. As paredes foram rebocadas com solo-cimento e pintadas com gel-tinta, um produto desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais.

Para Dona Branca, a construção veio em boa hora. Ela vivia da coleta de materiais recicláveis, mas teve um acidente de trabalho e agora conta com o auxílio de familiares. "Eu não posso mais trabalhar, mas tenho uma casa muito boa", comentou.

O diretor do Idesp, Felipe Rodrigues, diz que a ONG busca parcerias para construir mais 60 casas de terra na cidade. "Ela custa um quarto do valor da convencional e usa materiais que não agridem o meio ambiente", acrescenta. A técnica, segundo ele, está registrada no banco de dados do Banco do Brasil como uma tecnologia sustentável.

EcoMoradia

A 107 quilômetros de Ponta Grossa fica Tibagi, que também tem um projeto sustentável voltado à população carente. O programa EcoMoradia, desenvolvido desde 2010 pela prefeitura, é executado por meio de uma associação que fabrica os tijolos ecológicos – que não são queimados em forno e por isso não emitem gás carbônico – e constrói as casas. Cada peça de tijolo tem dois furos grandes que possibilitam a construção por encaixe, diminuindo o uso de cimento.

Hoje existem 109 residências espalhadas por vários bairros de Tibagi. As primeiras construções usavam telhas de embalagens de leite longa-vida recicladas, mas na fase atual são usados telhados convencionais. O coordenador de habitação do programa EcoMoradia, José Carlos Salles, conta que o uso do tijolo ecológico permite que o custo final da residência fique em cerca de R$ 8 mil. "Damos prioridade para atender mulheres de baixa renda e contratamos pessoal para trabalhar na associação", comenta.

AlternativasCaixas de leite e entulho viram material de construção

Materiais recicláveis e resíduos industriais são a matéria-prima dos pesquisadores do EcoHabitare, um programa desenvolvido pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). O coordenador do programa e doutorando em Gestão Ambiental pela Universidade Federal de Santa Catarina, José Fernando Arns, conta que busca parcerias com organizações sociais e órgãos públicos para disseminar os produtos projetados para as construções sustentáveis.

Entre os produtos estão tijolos ecológicos, telhado verde e aquecedor de latinhas de alumínio. Um dos projetos de tijolos ecológicos usa entulho de construção civil. Num dos testes de resistência, acrescenta o coordenador, o tijolo é colocado dentro de um balde com água por 40 dias e, ao final do período, permanece sem alterações.

Além disso, o tijolo é mais barato. Enquanto o milheiro do tijolo cerâmico custa em média R$ 350, o ecológico sai por R$ 220.

Já o telhado verde consiste em painéis de embalagens de leite longa-vida reciclados cobertos com 10 centímetros de terra e plantas com 30 centímetros de altura. O efeito térmico é uma das vantagens, pois o imóvel fica fresco no verão e quente no inverno.

Para serem desenvolvidos de forma consolidada, sugere Arns, é importante que os projetos com materiais sustentáveis sejam bem planejados e verifiquem, antes de tudo, se há oferta de matéria-prima na região. "O mais importante é fazer um produto que não precise de alta temperatura para ser produzido e que seja fácil de ser confeccionado em comunidades pequenas", lembra ele.

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