O telefone do 156 toca 43 vezes por dia, em média, com pedidos para que a Fundação de Ação Social (FAS) resgate moradores de rua em Curitiba. Foram quase 16 mil telefonemas em 2014. O dado reforça a impressão de quem caminha pelo Centro da cidade. A questão do povo da rua está mais visível, embaixo das marquises, nas praças, viadutos, nas mais diversas ruas. Na última semana, a reportagem da Gazeta do Povo chegou a contar 104 moradores de rua espalhados pela região central (confira no mapa).
Sem um censo oficial ou crescimento nos registros de atendimentos, a FAS não consegue definir se a população de rua aumentou. O número de atendimentos feitos pelo município é de 3,3 mil ao ano.
Somente a Praça Rui Barbosa tem onze pontos com 30 moradores de rua. Em uma das principais avenidas da cidade, a Sete de Setembro, as marquises dos edifícios viraram acampamentos. O perfil daqueles que fazem das calçadas suas casas varia muito. A reportagem encontrou um homem que recentemente saiu do Complexo Penal de Piraquara após cumprir pena por roubo. Outros são dependentes de crack, pessoas vindas de outros estados e dependentes de álcool. Também estavam na rua um idoso que ficou sem ter onde morar quando os filhos dividiram o único terreno dele, alguns casais, crianças e muitos que não querem ajuda de ninguém.
Complexidade
O número de ligações feitas para o resgate social da FAS revela uma população incomodada. Mas o problema vai além do desconforto causado aos comerciantes e habitantes da região central. Os moradores de rua têm o direito de estar onde estão. Em um dos edifícios na Avenida Sete de Setembro, um condomínio reclama constantemente da presença dos vizinhos da rua. No local, toda noite um grupo dorme na marquise do imóvel. “Eu acabo ajudando, mas já criaram problemas. Eles brigam, aparecem traficantes aqui”, contou uma moradora, que pediu para não ser identificada. Apesar disso, a compaixão acaba vencendo o incômodo. “Eu sou contra ajudar. Só dou comida”, diz outra moradora.
Um potencial motivo para a sensação de aumento no número de moradores de rua é o recente fechamento da Central de Resgate Social na Rua Conselheiro Laurindo, no Centro. Foram abertas outras unidades, na Avenida Getúlio Vargas (230 vagas) e outra para mulheres e público LGBT na Rua Desembargador Westephalen (50 vagas). “Não sabia da mudança. Nem fomos avisados direito”, comentou um morador de rua, que pediu para não ser identificado. Já Claudete Garcia, de 38 anos, falou que agora o acesso ficou mais difícil, pois estava acostumada a ir à Central.