Sem condições de pagar aluguel de uma casa, o guardador de carros Valdomiro Ferreira de Castro, de 63 anos, decidiu, em 1997, que iria morar em um automóvel. Desde então, o lar dele já foi um Fusca, um Passat, um Variant e até um carrinho de papel.
Há dois anos, Valdomiro vive em uma Kombi. E, embora tenha mudado constantemente de veículo, ele permanece no mesmo endereço: a Travessa Osmar Razzolini, no bairro Portão, em Curitiba.
O paranaense de Pinhão, cidade do centro-sul do estado, começou a morar dentro de carros depois que sua esposa faleceu. "Fiquei um bom tempo em depressão e, como não tinha condições de pagar aluguel de uma casinha para mim, resolvi morar dentro do meu carro", conta.
Na Kombi, Valdomiro consegue distribuir bem o espaço. No bagageiro fica a despensa, e os bancos traseiros servem de sofá-cama - com espaço para um televisor e o aparelho de DVD. Os bancos dianteiros foram retirados e se transformaram em cozinha com armários e fogão. Na parte da frente do veículo, Valdomiro improvisou um armário com roupas e com o resto dos seus pertences.
Tomar banho e cuidar da higiene pessoal fica difícil dentro da Kombi, por isso o guardador de carros conta com a ajuda dos vizinhos de uma loja de autopeças ao lado para usar o banheiro. "Enquanto nós emprestamos o nosso banheiro para ele, seu Valdomiro cuida da loja no período da noite", comenta um dos funcionários da autopeças.
Vizinhança
Carlos Alberto Alves, de 44 anos, é vizinho de seu Valdomiro e proprietário da loja de autopeças. Alves conhece o guardador de carros desde quando ele estacionou por ali o veículo pela primeira vez. "Ele nunca deu trabalho para ninguém. Aqui na região todos gostam dele e o ajudam doando roupas e comida", revela.
Para lavar roupas, seu Valdomiro conta com a ajuda de uma vizinha. "Uma vez por semana a moça vem aqui pegar minhas roupas e entrega tudo limpo e bem passadinho", diz o morador da kombi.
Sonho
Para garantir o sustento, além de guardar carros pela manhã, Valdomiro vende sucata doada pelos proprietários de oficinas mecânicas da redondeza, enquanto sonha com uma residência própria. "Não vejo a hora de sair o sorteio da minha casa. Quando penso nisso fico até emocionado", desabafa o guardador, que está há dois anos na fila da Cohab.
Atualmente, a única pessoa da família na qual ele mantém contato é uma sobrinha que mora em Curitiba. Hoje sua única companhia e sua parceria mais fiel é seu cão, o vira-latas Rex.
O lar de Valdomiro