A morte de um jovem de 21 anos por policiais militares na madrugada desta quinta-feira (9) provocou revolta nos moradores da Vila Torres, em Curitiba. Familiares e moradores acusam policiais militares de terem executado o rapaz, que não teria oferecido resistência, sem motivos. A versão da Polícia Militar dá conta de que os policiais revidado os disparos. André Santos das Neves não tinha antecedente criminal.
Segundo os moradores e familiares, que não quiseram ser identificados, André dormia no segundo andar do sobrado de sua família com sua namorada, que está grávida de quatro meses. Por volta da 0h30, teria se acordado com os barulhos da porta do seu quarto sendo arrombada por um grupo de policiais, que não tinham mandado de prisão. Assustado, André teria pulado pela janela de seu quarto.
A equipe de policiais, que estariam sem identificação, deu voz de prisão. O jovem teria se rendido, mas, mesmo assim, foi alvejado com quatro tiros dentro de casa. Os moradores contam ainda que o corpo foi arrastado até a rua. André foi morto no início da madrugada. Ele foi encaminhado ao Hospital Cajuru, mas não resistiu aos ferimentos.
Na casa, há vestígios de sangue, inclusive no corredor por onde a vítima teria sido arrastada. Há também marcas de duas solas de botinas sobrepostas na porta de madeira do quarto onde o jovem estaria dormindo. Dois projéteis disparados teriam sido entregues à Polícia Civil. "Disseram que iam colocar um saco na minha cabeça. Falei que estava grávida, mas eles nem se importaram", declarou a namorada de André, que afirma ter sofrido agressões verbais.
O pai de André, o funcionário do setor administrativo da Polícia Civil Antônio das Neves, diz que os carros policiais que participaram da morte do jovem tinham os seguintes números: 5877, 4518, 6880 e 6881. Segundo ele, as equipes eram da Ronda Ostensiva Tático Móvel (Rotam).
No hospital, Antônio afirma que policiais militares reconheceram que houve um equívoco na abordagem. "Eles estavam atrás do Tanakinha, que chegou a levar um tiro nas nádegas esses dias. No dia 4, a Rotam realmente esteve na Vila procurando por ele", explica Antônio. Os dois seriam parecidos.
Apesar de não ter antecedentes, o pai confirma que alguns amigos do rapaz tinham envolvimento com tráfico e que a mãe dele é dependente química. "Mas a polícia não pode generalizar. Não é porqueele tinha amigos que foram para o caminho do crime que ele também eracriminoso", aponta o pai.
Uma tia conta ainda que André teria sido ameaçado dias antes por PMs "fortemente armados". "Fazíamos um churrasco, uma confraternização na minha casa. Até que vieram os homens, gritando e xingando. Olharam para o piá e juraram ele de morte", descreveu uma tia de André. A equipe policial que teria feito essa ameaça é a de número 6882.
A versão da PM
Já a Polícia Militar alega que André foi baleado na rua. Os policiais militares teriam revidado disparos de escopeta do acusado, que também estaria portando uma metralhadora 9 milímetros, 80munições, 50 pedras de crack e uma certa quantidade de maconha. Segundo o Major Antônio Zanatta Neto, responsável pelo setor de comunicação da PM, todo o material apreendido foi entregue no Centro Integrado de Atendimento ao Cidadão (CIAC), que registra as ocorrências policiais durante a madrugada.
O delegado-titular do 10º Distrito Policial, que fez o atendimento, não retornou as ligações da reportagem até as 19h30. Como o caso tem autoria conhecida, as investigações deverão ser transferidas para o 2º Distrito Policial, responsável pela área da Vila Torres. "De qualquer forma, iniciamos um inquérito interno para apurar o caso. Uma conclusão deverá ser divulgada em 60 dias", assegura Zanatta. Os policiais já teriam sido identificados.
O corpo de André foi velado nesta tarde, na Rua Almir Zagonel, a mesma onde mora e teria sido morto.