Revoltados com o desaparecimento de três homens, moradores de Humaitá (a 400 km de Manaus) atearam fogo na sede da Funai e da Funasa na noite de ontem e destruíram 13 veículos e três barcos usados no transporte de índios. Índios da etnia Tenharin, que vivem em uma área próxima à cidade, faziam compras na região central quando começaram a ser hostilizados pelos moradores, que os responsabilizam pelo desaparecimento dos três. Cerca de 60 índios decidiram se refugiar na base do 54º Batalhão de Infantaria de Selva, o que desencadeou a revolta da população. O tumulto começou por volta das 19h. Segundo a Policia Militar em Humaitá, cerca de 3.000 pessoas participaram do protesto e entraram em confronto com os policiais. Usando galões com gasolina, os moradores atearam fogo na sede da Funasa (Fundação Nacional de Saúde) e da Funai (Fundação Nacional do Índio) e nos carros estacionados no pátio e depois seguiram para as margens do rio Madeira, onde incendiaram três barcos de grande porte usados para transportar os índios para a aldeia. A PM ainda tentou conter a multidão com balas de borracha e bombas de efeito moral, mas o efetivo reduzido recuou diante da multidão. Cinco pessoas ficaram feridas no confronto com a polícia. Foram atendidas no hospital local e liberadas. Foram enviados para Humaitá homens da Força Nacional, da Policia Rodoviária Federal e das polícias Civil, Federal e Militar. A PF não informou o efetivo enviado à região. Clima tenso Na manhã de hoje, em entrevista à imprensa, o superintendente da PF em Rondônia, Carlos Manoel Gaya da Costa, disse que o clima na região é de muita tensão. Segundo ele, os índios não são amigáveis e limitaram a área de atuação dos agentes da PF na área indígena. "Eles dificultam o acesso da polícia à área e negam envolvimento no desaparecimento dessas pessoas", disse Gaya da Costa, ressaltando que teme um confronto entre índios e brancos na região. Os moradores acreditam que os índios sequestraram os três homens -Aldeney Ribeiro Salvador, funcionário da Eletrobras, Luciano Conceição Ferreira, representante comercial, e Stef Pinheiro de Souza, professor da rede municipal de Humaitá- em represália pela morte de um cacique Tenharim, encontrado sem vida na rodovia Transamazônica. Os índios dizem que ele foi assassinado, mas a polícia disse que ele foi vítima de um atropelamento. Os três estão desaparecidos desde o dia 16 de dezembro, quando saíram da cidade de Apuí com destino a Humaitá. Desde quarta-feira, um grupo bloqueia a BR-319, que liga Humaitá a Apuí. A reportagem não conseguiu contato com a Funai em Humaitá. Na Funai em Manaus, foi informado que uma equipe está se deslocando para a região. A terra indígena possui 1.309 hectares, foi criada em 1993 e é habitada por cerca de 220 índios.

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