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A mercearia de Maria Moreira, 58 anos, na Rua Quirino Zagonel, 175, transformou-se em uma espécie de central dos Correios para o pessoal do beco no Jardim Itália, em São José dos Pinhais, região metropolitana de Curitiba. As cerca de 20 casas localizadas no beco ao lado do armazém não têm endereço e muito menos uma numeração que as localize. Quem mora ali, quando precisa passar o endereço, tem de contar com a benevolência de alguém que more perto. Este alguém, normalmente, é Maria ou seu marido, Cilas Moreira, 69 anos.

Assim como as famílias do beco do Jardim Itália, quem mora em áreas em que não há regularização fundiária sofre com o mesmo problema: não recebe correspondência em casa. "Todo mundo aqui usa o endereço da dona Maria", conta a moradora Rosângela Aparecida Corrêa, 39 anos.

Toda vez que o carteiro passa no armazém de Maria, a rotina é a mesma. Maria e Cilas separam a correspondência e mandam avisar os vizinhos. Quando estão cansados ou sem tempo, esperam que os vizinhos passem para ver se chegou carta.

O clima de camaradagem entre os vizinhos é intenso. A privacidade, no entanto, tem de ser deixada de lado. "Uma vez recebemos uma intimação por conta de um rolo com a moto do meu marido. Todo mundo ficou sabendo. Tivemos de ficar dando explicação", conta Rosângela. "Às vezes as crianças pegam as cartas e abrem antes de nos entregar", diz outra moradora, a dona de casa Meire Cardoso Domingos, 36 anos.

Depender da camaradagem do vizinho pode representar também falta de eficácia na entrega de correspondência. "Até nos avisarem que chegou carta ou até irmos lá na dona Maria ver se chegou alguma coisa, perdemos data de pagar conta e promoções", ressalta Rosângela.

Maria e Cilas, no entanto, dizem não se incomodar com o transtorno. "Claro que seria melhor que cada um tivesse sua caixinha de correio, mas não é incômodo. Não tem despesa nenhuma, são todos nossos vizinhos, clientes, tudo gente boa, então não tem problema", afirma Cilas.

De acordo com ele, incômodo é continuar a receber correspondências endereçadas a pessoas que já não moram mais no beco. "Temos de devolver cerca de 15 cartas por semana", conta.

De acordo com os Correios, São José dos Pinhais e Fazenda Rio Grande são os municípios da região metropolitana de Curitiba considerados críticos na entrega de correspondência. Em São José dos Pinhais, as localidades do Jardim Monte Líbano, Jardim Libanópolis, Jardim Del Rey, Jardim Carmen II, Contenda e Malhada são os mais problemáticos.

"A entrega postal eficaz depende totalmente da urbanização das ruas, sendo indispensável a denominação e numeração ordenada dos logradouros", diz a nota oficial divulgada pelos Correios. Dessa forma, conforme os Correios, áreas de ocupação irregular ou em que houve uma expansão que a prefeitura não acompanhou tendem a ter problema na entrega.

Caixa comunitária

Para tentar amenizar o problema, em alguns locais é instalada uma caixa postal comunitária – medida paliativa enquanto a área de ocupação não é regularizada. Em todo o Paraná, há 45,4 mil caixas postais comunitárias que atendem 76 mil famílias. Contudo, as caixas postais não conseguem suprir toda a demanda, já que a implantação depende de convênios com as prefeituras.

Segundo os Correios, a caixa postal comunitária é um serviço gratuito e provisório. "Já me acostumei a ir buscar correspondência na caixa postal comunitária, faço isso há oito anos", diz Santina de Souza, moradora do bairro Barro Preto, em São José dos Pinhais.

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