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Mauri Garcia Ramos, morador de rua há cinco anos, já possui cadastro e o cartão que dá acesso ao Guarda Pertences | Vivian Faria/Gazeta do Povo
Mauri Garcia Ramos, morador de rua há cinco anos, já possui cadastro e o cartão que dá acesso ao Guarda Pertences| Foto: Vivian Faria/Gazeta do Povo

A partir desta quarta-feira (13), moradores de rua que quiserem guardar seus pertences durante o dia podem recorrer ao Guarda Pertences situado na rua Dr. Faivre, 1.212, entre a Avenida Sete de Setembro e a Avenida Visconde de Guarapuava. O local, inaugurado na tarde desta terça-feira (12), é um projeto experimental da Fundação de Ação Social (FAS) e tem por objetivo estender a dignidade dos moradores de rua.

“As pessoas que estão na rua têm pertences com valor muitas vezes sentimental. Até agora elas guardavam nos bueiros, nas cabines telefônicas, nos buracos”, diz a diretora de Proteção Social Especial, Ângela Mendonça.

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O Guarda Pertences funcionará diariamente, das 7 horas às 21 horas. Apesar do extenso horário de funcionamento, moradores de rua devidamente cadastrados e em posse de um cartão – o mesmo que dá acesso aos banheiros da Urbs – poderão armazenar pertences ali entre às 7h e às 9h e retirá-los das 19h às 21h. No restante do tempo será possível usar o banheiro do local. Quem deixar pertences ali terá prazo de 48 horas para buscá-los e, em caso de abandono, os casos serão avaliados individualmente.

Inicialmente, cem moradores de rua serão atendidos para que o funcionamento do local seja estabelecido. Nas próximas semanas, porém, a expectativa da FAS é que novos moradores se cadastrem no Atendimento Social Avançado, na Praça Osório, e em alguma das outras unidades da instituição para poderem ter acesso ao Guarda Pertences, já que a necessidade do serviço foi identificada por uma pesquisa feita com os próprios moradores. “Conversando com eles, descobrimos que eles não queriam deixar as coisas nas ruas e que aceitavam um local para armazená-las”, conta a presidente da instituição, Márcia Fruet.

Quem faz o cartão recebe também uma pochete para poder armazenar pequenos objetos de que pode precisar durante o dia, como documentos e remédios.

Novas estratégias

O Guarda Pertences faz parte de uma nova estratégia da Fundação de Ação Social para tentar se aproximar de moradores de rua mais resistentes às suas ações. Entre elas está a disponibilização dos banheiros da Urbs e a abertura de um restaurante comunitário, que deve ser inaugurado em cerca de dois meses ao lado do Guarda Pertences. No mesmo prédio, que pertence à União e foi cedido à Prefeitura, também devem ser instalados a Casa de Acolhimento de Regresso, a Assessoria de Direitos Humanos, centros de capacitação e os conselhos de direitos.

Reação

Entre os moradores de rua presentes na inauguração, a iniciativa é vista com bons olhos. Ozéio de Aguiar Souza, que vive nas ruas há três anos, diz que sem ter onde guardar suas coisas, não é possível ter muitos pertences e, os que têm, podem atrapalhar na busca por um emprego, por exemplo. “É bom para sair procurar emprego. Se você chega com um monte de mochila, eles já desconfiam que é morador de rua e nem ligam mais”, conta.

O relato é reiterado pelo coordenador do Movimento Nacional da População de Rua, Leonildo José Monteiro Filho: “dificilmente um empresário vai dar um emprego para alguém que está com a sua mochila, com o seu colchão”.

Morador de rua há cinco anos, Mauri Garcia Ramos é um pouco mais receoso, mais ainda aprova a ideia. “Hoje é a inauguração, tem que ver como vai ser no decorrer do período. Mas é válido”, diz.

Comércio

Além dos benefícios para os moradores de rua, a expectativa é de que o Guarda Pertences agrade também aos comerciantes, pois irá diminuir o número de colchões, cobertas e mochilas deixados em frente a lojas e outros estabelecimentos durante o dia.

Protagonista de uma polêmica envolvendo moradores de rua no início do ano, a Associação de Bares e Casas Noturnas (Abrabar) aprova a medida, mas diz que é preciso fazer mais. “[É preciso] dar uma carteira de identidade e uma carteira de trabalho para eles”, diz o presidente da Abrabar, Fabio Aguayo.

A Associação Comercial do Paraná, que também pediu providências devido ao aumento do número de pessoas vivendo nas ruas no Centro de Curitiba, disse que não vai comentar a iniciativa ou qualquer assunto referente aos moradores de rua.

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