Cerca de 15 mil pessoas acompanharam a procissão do Fogaréu na cidade de Goiás na madrugada desta quinta-feira (1º). O ritual resgata tradições do século 18 e representa a perseguição dos soldados romanos a Jesus na antiga Jerusalém. A tradição no município de Goiás Velho tem cerca de 138 anos. Os 40 farricocos, personagens centrais da encenação, saíram descalços, com vestimentas de seda coloridas, inspiradas nas procissões da Espanha e de Portugal dos séculos 17 e 18. Com as luzes apagadas, somente as tochas carregadas por eles e por 300 fiéis, iluminaram as ruas durante o percurso.
Da Igreja da Boa Morte, os farricocos partiram em direção a Igreja do Rosário. Lá eles encontraram uma mesa com pão e vinho, que simulava a última ceia de Cristo. Na encenação, os penitentes perguntam onde está Jesus, e o hospedeiro responde que o Cristo "já se foi".
No decorrer do percurso, a procissão segue a batida dos surdos, que aceleram o ritmo da caminhada dos farricocos. Em alguns momentos, eles parecem mesmo correr, o que transmite a sensação de uma real perseguição. O menino Jean Lucas de Messias, de 11 anos, é um dos integrantes do grupo. Pela primeira vez, ele tocou surdo ao lado do pai no Fogaréu. "Eu fiquei com medo de errar, mas meu pai e o maestro me deram apoio. Espero tocar de novo."
Por último, os penitentes chegaram à Igreja de São Francisco de Paula, que representa o Monte das Oliveiras. Ali, um coral apresentou músicas barrocas do século 18. Um dos farricocos tomou o estandarte com imagem de Cristo pintada por Veiga Valle, que simboliza que Jesus foi finalmente capturado. Ainda com as tochas acesas, os farricocos ficaram parados nas escadarias da igreja e acompanharam a missa. O cenário emocionou a professora Margareth Cardoso que veio do Rio de Janeiro para a procissão.
"Eu sempre sonhei em vir aqui, por causa da semana santa. Não tenho palavras para expressar meus sentimentos ao ver todo este cenário."
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