Um protesto de moradores do bairro Tatuquara, em Curitiba, interrompeu durante uma hora e meia o tráfego nos dois sentidos da BR-116, ontem pela manhã. De acordo com a Polícia Rodoviária Federal, o bloqueio com pneus queimados causou uma a fila de cinco quilômetros em cada um dos sentidos da rodovia, principal via de acesso a Porto Alegre. Cerca de 600 pessoas participaram da manifestação que pedia a reconstrução de uma escola estadual parcialmente demolida no ano passado.
"Esqueceram de nós", reclama a dona de casa Neide Marli Fontoura, de 50 anos, vizinha de frente da Escola Estadual Beatriz Faria Ansay. Ela diz que as obras de demolição começaram no dia 2 de março de 2005, com a promessa de que esse ano a escola estaria pronta. "Levaram uma semana para derrubar e quase seis meses para tirar o entulho, que estava enchendo a rua de ratos. Até agora as obras não começaram", conta.
Aproximadamente mil alunos estão matriculados no colégio. De acordo com moradores e professores, 500 continuam assistindo às aulas no que sobrou das instalações. O restante dos alunos estuda em salas emprestadas pela Escola Municipal Leonel Brizola, a três quilômetros do colégio. Pais e estudantes reclamam que o trajeto até o local é perigoso. Na rua de tráfego intenso, há mato dos dois lados e não há acostamento. "Minha filha de 13 anos foi assaltada quando voltava da aula, na hora do almoço. Levaram o tênis, sem contar o trauma", afirma o porteiro Marcos Fontoura, um dos líderes da manifestação.
No que sobrou do colégio, as instalações são improvisadas. A cozinha fica em uma antiga sala de aula, em meio a um depósito de comida e material didático. "As panelas foram roubadas em dezembro, junto com alguns equipamentos eletrônicos. Trazemos café pronto de casa", diz o professor de História e Geografia, Gerson Luiz da Cruz. Em uma das salas em funcionamento, a maioria dos vidros está quebrada.
Por conta da situação, os pais decidiram que os filhos só voltam a assistir às aulas quando for tomada alguma providência. "Estamos nos revezando desde segunda-feira para não deixar os funcionários e professores entrarem para trabalhar", diz Marcos Fontoura. Segundo o diretor técnico da Fundepar (órgão do estado responsável por obras em escolas), João Valdemar Abrahão, um problema no cumprimento do contrato da obra ocasionou o atraso. "Pedimos a rescisão do contrato, mas é algo que demora, por conta de prazos para defesa. Só após o encerramento do processo de rescisão poderemos abrir uma nova licitação para a obra. O colégio só deve ficar pronto para o ano letivo de 2007", informa.
A Secretaria de Estado da Educação (Seed) informa que está avaliando a possibilidade de fornecimento de transporte escolar para os alunos, uma das solicitações dos manifestantes. "Normalmente o transporte escolar só atende a zona rural, mas estamos fazendo um levantamento dos alunos que realmente precisam de ônibus para freqüentar o outro colégio", diz a chefe do departamento de infra-estrutura da Seed, Ana Lucia Alburquerque Schulhan.
Segundo Ana Lucia, a secretaria estuda a hipótese de alugar um imóvel próximo à escola para atender melhor os estudantes, mas encontra dificuldade por ser uma região de invasão e construções irregulares. "Estamos avaliando a possibilidade de locação com instâncias superiores. Todos os casos de problemas em escolas são tratados com urgência na Seed, mas dependemos de trâmites legais que não permitem soluções imediatas", diz Ana Lucia. Para a chefe de infra-estrutura, o fato de pais impedirem funcionários da escola de trabalhar é um problema que deve ser tratado pelo Ministério Público.
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