Quase dois meses depois que o governo do Paraná formalizou a intenção de ceder o Belvedere da Praça João Cândido para sede da Academia Paranaense de Letras (APL), o prédio está abandonado. Tombado pelo Patrimônio Cultural do Paraná em 1966, o local, que fica no bairro São Francisco, em Curitiba, é ocupado com frequência por moradores de rua e usuários de drogas. A praça, em geral, também é alvo de vandalismo, o que preocupa e afasta moradores da região.
A pintura azul e branca do imóvel a cada dia dá lugar a uma nova pichação. As vidraças das janelas pouco a pouco foram quebradas e já estão, em sua maioria, espalhadas pelo chão do imóvel, que é referência na praça e um primor da Belle Époque na capital. As portas foram arrombadas e o interior está tomado por um forte odor de urina e fezes.
O chão está tomado por lixo e roupas deixadas por moradores de rua e usuários de drogas. Em algumas partes dos cômodos estão vestígios de entulho queimado. Partes do piso de madeira foram arrancadas por vândalos. Alguns equipamentos de ar-condicionado, segundo frequentadores da praça, foram levados do local pelas pessoas que passaram a ocupar o espaço.
Reclamações
Quem trabalha perto da praça ou frequenta a região reclama do abandono, que não é recente. Paulo Henrique de Lima, 20 anos, proprietário de um estacionamento em frente à praça, diz que a presença de vândalos no local é constante. "No fim de semana, e quando tem a feira no Largo da Ordem, tem muito mais noiados na praça, usando drogas", diz. O proprietário afirma que, na localidade, são comuns casos de assaltos.
Tiago Baltazar, 32 anos, pesquisador da UFPR, é morador da região e, em algumas oportunidades, passeia pela praça. Ele diz que o abandono gerou, aos poucos, a tomada do local por vândalos e usuários de drogas. "Isso não é de hoje. Já ouvi falar que iriam reformar a praça, mas acho que a solução é mais fácil: deveriam ocupar o imóvel e colocar câmeras de vigilância para evitar vandalismo", diz.
A aposentada Iracema Corrêa, 50 anos, diz que a população local já tentou sugerir à Prefeitura de Curitiba formas de melhorar o entorno da praça, mas nada foi feito. "Não é só a casa abandonada. A praça está sem limpeza", reclama a aposentada. No local, há bastante lixo e sinais de fogueira feita por alguns frequentadores.
O abandono do imóvel dura, pelo menos, desde junho de 2014. Até então, durante quase dois anos funcionava no local o Centro Estadual de Defesa dos Direitos da População em Situação de Rua e dos Catadores de Materiais Recicláveis (Centro Pop Rua), criado para dar apoio à população que vive nas ruas da capital. A sede do centro, entretanto, foi transferida para o Alto da Glória.
Após contato, governo inicia limpeza do imóvel
Após contato da Gazeta do Povo, com o governo do Paraná, a Secretaria de Administração e Previdência (Seap) do estado iniciou nesta sexta-feira (28) uma limpeza no local. O objetivo é deixar o imóvel livre de entulhos, arrumar portas e janelas, recolocar fiação de energia elétrica e deixar o espaço livre para a Polícia Militar (PM) e a Guarda Municipal (GM) ocuparem. Ainda nesta tarde, deve ser instalado um sistema de alarme no local.
Segundo a assessoria de imprensa da Seap, após a limpeza, a ocupação do imóvel por parte das forças policiais deve ocorrer de imediato. O espaço será utilizado como uma espécie de módulo das duas corporações, o que evitará o uso da casa por usuários de drogas e moradores de rua.
Um Projeto de Lei tramita na Assembleia Legislativa para que o governo transfira de forma oficial a posse do Belvedere para a Academia Paranaense de Letras (APL). O projeto já passou pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da casa e agora pode ir a votação em plenário. A reforma do espaço, segundo a Seap, deve ser feita pela APL quando a instituição assumir a responsabilidade pelo imóvel.
Conservação da praça
Sobre a conservação da Praça João Cândido, a Prefeitura de Curitiba informou que faz serviços periódicos de manutenção e roçada no espaço e que melhorou a iluminação do local para aumentar a segurança. O local, segundo a prefeitura, é monitorado por câmeras e a GM, em parceria com a PM, faz rondas constantes na região.