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Um dos mais importantes cientistas brasileiros na área de doenças tropicais, Luiz Hildebrando Pereira da Silva, morreu em São Paulo na noite desta quarta-feira (24), aos 86 anos. Hildebrando fez parte de uma notável geração de pesquisadores engajados politicamente, e que viam na ciência uma maneira de mitigar tradicionais problemas de saúde pública do país, como a esquistossomose, a doença de Chagas e a malária.

Nascido em Santos em 16 de setembro de 1928, filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro aos 16 anos. Em 1953 formou-se em medicina pela USP, universidade da qual foi professor em três períodos. Foi demitido em outubro de 1964 da Faculdade de Medicina depois do golpe militar do mesmo ano; voltou do exílio e tornou-se professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, até ser demitido em abril de 1969, por obra dos Atos Institucionais 1 e 5, respectivamente. E voltou a ser admitido em 1997.

Boa parte da carreira de Hildebrando no exterior foi realizada no Instituto Pasteur de Paris, um dos mais renomados centros de pesquisa biomédica do mundo.

Sua carreira começou no laboratório de Parasitologia dirigido por Samuel Pessoa, o principal mentor dessa geração de pesquisadores engajados. Na equipe estavam dois outros cientistas também exilados, o casal Ruth e Victor Nussenzweig, que foram trabalhar nos Estados Unidos. Outros da mesma geração perseguidos pós-64 foram Erney Camargo, Isaías Raw e Thomas Maack, todos com notáveis carreiras no exterior.

Hildebrando trabalhou de 1961 a 1962 em Bruxelas; e em 1963 em Paris, no Instituto Pasteur, na área de genética molecular. Voltou ao Pasteur depois da cassação de 1969.Em 1979 assumiu a direção da Unidade de Parasitologia Experimental do Pasteur para realizar pesquisas sobre a biologia molecular de parasitas, notadamente os causadores da malária, com ênfase na espécie mais letal, Plasmodium falciparum.

Volta ao Brasil

Com o fim do regime militar, ele pôde voltar ao Brasil e passou a trabalhar desde 1990 com Erney Camargo, do Departamento de Parasitologia da USP, em pesquisas sobre malária em Rondônia, um dos estados brasileiros mais afetados pela doença.

No mesmo ano ele publicou um livro de memórias, "O Fio da Meada" (editora Brasiliense, São Paulo), relatando aspectos da sua dupla carreira, de cientista e de militante comunista.

Ao se referir sobre a situação dos "cientistas engajados", Hildebrando escreveu no livro: "Como decidimos agir no plano social e, portanto, fazer política, temos a pretensão de introduzir também nesse nível a racionalidade da prática científica. Isso traz consequências". Fazer ciência, ele afirma, "exige tempo integral"; já a política "mobiliza coração e cérebro". Ou seja, o "cientista engajado" precisa aprender a "harmonizar o contraditório".

Hildebrando se aposentou do Pasteur em 1996 e voltou definitivamente ao Brasil. Passou no concurso para professor titular de Parasitologia da USP em 1997. Também tornou-se diretor do Instituto de Pesquisa em Patologias Tropicais de Rondônia (Ipepatro), ligado à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Porto Velho.

Ele morreu de falência múltipla dos órgãos após ser internado no começo do mês com pneumonia no Instituto do Coração (Incor), em São Paulo; era casado e tinha cinco filhos.

No seu livro de 1990, ele escreveu sobre a velhice: "Desenhando em meu rosto rugas cada vez mais profundas. Soprando em meus olhos a névoa que me obriga a usar em meus óculos lentes cada vez mais espessas. Eu a vejo bem, com o seu olhar indiferente, fazendo sem se apressar o inventário que lhe encomendou sua irmã, a Morte".

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