Quinta-feira foi o último dia em que o médico curitibano Ary de Christan pôde assistir à missa. Religioso, levantava da cama com o dia ainda amanhecendo para acompanhar a Missa de Aparecida pela televisão. Era uma forma de cultivar a espiritualidade em meio à impossibilidade de ir à igreja. Ele faleceu de infarto fulminante ontem, dia em que lançaria um livro de memórias e comemoraria 80 anos. Nesse tempo, exerceu a medicina, entrou para o Exército, de onde se aposentou como coronel, foi professor da PUCPR e provedor da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba. Durante mais de 20 anos, colaborou com artigos para a Gazeta do Povo."Dr. Ary foi uma pessoa completa, que atuou em várias frentes. Em seus artigos costumava escrever contra o aborto e o divórcio, o que gerava muitas polêmicas. Ele não se importava, era um homem de convicções", relembra o jornalista Aroldo Murá, que escreveu o perfil de Christan para o livro Vozes do Paraná. Durante décadas de amizade, Murá percebeu que o amigo raramente falava de si, ou de quando foi médico particular de presidentes como Ernesto Geisel e João Figueiredo. Preferia falar das necessidades da Santa Casa ou da Confederação Nacional das Federações Marianas, que presidiu.
"Ele era muito discreto e prezava a tradição e a família", conta o sobrinho Luís Antônio Serra. Christan nunca se casou e não teve filhos, mas adotou o sobrinho após a morte do pai deste. Para as dezenas de amigos que estiveram no enterro, como o escritor Wilson Bueno, o falecimento foi um choque, já que Dr. Ary estava bem de saúde e feliz com o aniversário.