Decano dos garçons da velha guarda, morreu na manhã desta quarta-feira (6) Pedro dos Santos, o “Periga”, que trabalhava desde 1968 no Restaurante Imperial na rua José Loureiro, Centro de Curitiba.
Pedro “Periga” morreu aos 80 anos no Hospital do Trabalhador, onde estava internado desde o dia 20 de dezembro depois de uma queda no apartamento onde vivia na rua Tibagi. “Periga” fraturou uma das pernas e no hospital os médicos descobriram que ele tinha problemas cardíacos e hepáticos que o levaram à morte.
“Periga” começou a trabalhar no Imperial no segundo ano de funcionamento da casa, aberta em 1966, no mesmo endereço que ocupa até hoje, na rua José Loureiro, próximo da Praça Carlos Gomes. O restaurante teve como seu primeiro proprietário o espanhol Vitoriano Toron Sento.
Em 1997, o Imperial passou a ser propriedade dos irmãos Marcos e Sérgio Chueh e hoje é gerido pelo último. Sérgio conta que “Periga” era um “membro de sua família, um amigo e profissional exemplar”.
“Era uma pessoa devotada ao trabalho, um cara sistemático, mas que atendia as pessoas de coração aberto”, lembra. Fora do trabalho era “alegre, piadista e escrevia versinhos”.
Nos últimos anos, Periga não fazia mais parte da equipe de garçons da casa. Porém, eventualmente comparecia ao restaurante, fardado com sua gravata borboleta vermelha para matar a saudade dos clientes.
“Sou viúvo. Meus amigos já morreram. Muitos garçons do meu tempo também. Para não ficar em casa sozinho, venho para cá”, disse em entrevista à Gazeta do Povo em 2013.
Em seus tempos de bandeja, porém, “Periga” trabalhou muito. No Imperial, serviu de maionese, filés, rabadas e cumbucas de feijoada – além de muitos chopes e cervejas – pelo menos três gerações de curitibanos.
Emocionava-se ao lembrar que “precisava botar cadeirinha para crianças que hoje, homens feitos, trazem seus filhos e netos”.
Nos últimos anos, dividia um apartamento no Centro com mais três senhores. Seus prazeres eram escutar jogos do Atlético no rádio, comer um ensopado de carne e tomar uma cervejinha com os amigos. “E com as amigas, né. Porque ninguém é de ferro”, dizia “Periga”.
Apelido
“Periga” era um dos últimos representantes da estirpe dos grandes garçons profissionais, ciosos das artes de seu ofício, daqueles que sabem servir o arroz com uma só mão, juntando duas colheres, sem derramar um grão sequer.
Era também mestre da arte de circular no salão com bandejas cheias de tulipas de chope e mignons ao molho bechamel, que desciam às mesas em alta velocidade.
Quanto ao seu apelido e nome de guerra, há duas versões sobre a origem.
Ele contava que a alcunha lhe foi dada na década de 1960, quando trabalhava no Clube Duque de Caxias, na Praça Tiradentes, por conta de sua audácia com as bandejas cheias. “Periga cair, Pedro!”, dizia seu chefe. “Pedro, periga cair esse prato aí!”. O apelido pegou e virou sua marca.
Há outra versão: adepto da chamada loteria zoológica, Pedro era sempre consultado sobre o possível resultado da extração do dia e dizia: “Periga dar urso... Periga dar macaco...”.
Luto
O velório de “Periga” acontece na capela número 01 do Cemitério Municipal São Francisco de Paula, no São Francisco, e o enterro será nesta quinta-feira (7), no cemitério da Colônia Faria, em Colombo (PR). Sérgio Chueh já havia manifestado a vontade de velar o corpo do amigo em Curitiba, para que ele pudesse “receber o último adeus de seus amigos”.
Nesta quinta-feira (7), o restaurante Imperial não vai abrir em razão do luto por seu personagem mais célebre.