O soldado da Força Nacional que foi baleado no Complexo da Maré, na quarta-feira (10), morreu no fim da noite de quinta-feira (11). Ele estava internado em estado grave e não resistiu aos ferimentos, segundo a informação confirmada por Alexandre de Moraes, ministro da Justiça.
Atingido no rosto por um tiro de arma longa, o soldado Hélio Vieira Andrade, da Polícia Militar de Roraima, ficou em estado grave após entrar por engano em uma zona de traficantes enquanto fazia uma ronda. Ele foi encaminhado para cirurgia de urgência no Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, zona norte da capital fluminense. O procedimento terminou por volta das 21h, após 4h30 de duração. O soldado não resistiu aos ferimentos.
“Quero expressar meus sentimentos aos familiares do soldado Hélio Vieira, que sofreu um ataque covarde e, infelizmente, morreu hoje em decorrência dos ferimentos. Soldado Vieira é um verdadeiro herói do nosso País. Nosso Presidente da República, Michel Temer, decretará luto oficial pela morte de nosso herói. Honra e Dignidade aos nossos policiais”, afirmou o ministro em conta nas redes sociais.
Planos
O soldado Hélio Vieira Andrade, de 35 anos, já havia decidido o que faria ao voltar para sua casa, em Boa Vista (Roraima): compraria o seu primeiro carro. Para isso contava com as diárias de R$ 540 que recebeu durante seu trabalho nas Olimpíadas pela Força Nacional de Segurança. Em dois anos de corporação, ele cumpriu missões em estados como Mato Grosso, Pará e Alagoas. Esta era a segunda vez em que atuava no Rio – antes, veio para a cidade na Copa do Mundo. Saiu impressionado com a beleza e a violência. Considerava a capital olímpica o local mais problemático por onde já passou.
Nos encontros com os pais e os oito irmãos, sua profissão era um assunto proibido – a matriarca Martinha Andrade, de 46 anos, não queria saber dos perigos que faziam parte do cotidiano de um policial. Católica fervorosa, também ficava contrariada quando os plantões afastavam o filho da missa dominical. Para não irritá-la, antes de ir ao trabalho, repetia uma mensagem no grupo formado por sua família no WhatsApp: “Deus no comando”.
Antes de vestir a farda, Andrade, que era solteiro e não tinha filhos, fez um curso de magistério e, por um ano, deu aulas no ensino fundamental em uma escola pública de Boa Vista. Deixou as salas de aula em 2003, após ser aprovado para um concurso da Polícia Militar. Não era, porém, afeito ao trabalho na rua. Por onze anos, antes de ser cedido à Força Nacional, cumpriu expediente na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, o maior presídio de Roraima, conhecido pela fuga em massa de detentos – na madrugada de segunda-feira, por exemplo, pelo menos 30 homens conseguiram pular os seus muros.
“Hélio preferia trabalhar no presídio porque achava mais seguro do que as ruas. Mas também passava por muitas situações perigosas, porque fugia gente de todo o tipo: traficantes, assassinos, ladrões”, conta o cunhado e guarda municipal Antônio Davidson Câmara, de 36 anos. “Sempre foi muito reservado ao falar sobre sua rotina. Dona Martinha só perguntava se estava tudo bem”.
O caçula da família Andrade, Carlos Ernandes, de 25 anos, lembra como o irmão o ensinava a evitar ameaças. “Ele sempre disse que era preciso combater sem tirar a vida de uma pessoa”, conta o estudante de Ciência da Computação. “Durante muito tempo, ficamos com o coração na mão, porque sabíamos que alguma coisa poderia acontecer. Ele disse que só se sentia seguro no Rio quando andava com outros policiais.”
Em conversas com a família, definia o Rio como “adrenalina sempre”. Sabia que a missão olímpica poderia ser a mais perigosa de sua carreira – por isso, prometeu tomar “cuidado redobrado”. Segundo sua cunhada, a dona de casa Elaine Lima dos Santos, o receio não o impediu de aceitar a viagem, mas ele ficou apreensivo ao saber que atuaria em regiões próximas a favelas.
“Hélio achava o Rio muito complicado. Também ficamos preocupados quando soubemos as regiões por onde ele poderia passar”, lembra Elaine. “Depois desta missão, tinha certeza de que ele nunca mais gostaria de voltar à cidade.”
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