Um adolescente é morto a cada dois dias na região de Curitiba. É o que aponta o levantamento da Gazeta do Povo feito a partir dos boletins do Instituto Médico-Legal da capital de 1.º de janeiro a 23 de outubro deste ano. Só em 2009, 117 adolescentes, com idades entre 12 e 18 anos, foram mortos em Curitiba e nos municípios vizinhos (64% dos quais com 17 ou 18 anos). No ano passado, foram 61 casos no mesmo período. Isso significa um aumento de 92% dos crimes cometidos contra adolescentes de 2008 para 2009. Como alerta, cerca de 3 mil jovens devem fazer hoje uma manifestação pela paz em Curitiba, em comemoração ao Dia Nacional da Juventude.
Organizado pela Comissão Juventude da Arquidiocese de Curitiba, o evento tem como lema "Contra o extermínio da juventude na luta pela vida". A tentativa é trazer à tona a discussão sobre os motivos da violência contra o jovem. Para o coordenador da passeata, padre Alexsander Cordeiro, 32 anos, o importante é incluir o jovem na sociedade. Ele ressalta que não basta aumentar o efetivo policial. Segundo ele, é preciso se ter em mente que a solução passa por um tripé: a família deve estar mais presente; o poder público, se preocupar em criar políticas de inclusão e espaços de acompanhamentos nos bairros; e a igreja, oferecer programas para que o jovem possa sair das ruas.
O padre participa há seis anos de encontros com adolescentes de periferia. Nesse trabalho, já teve momentos de surpresa. Nas reuniões, é comum ver os jovens citarem os nomes de 10, ou até de 15 jovens conhecidos que foram mortos recentemente. "O jovem está crescendo em um meio violento, onde vê os amigos morrerem a cada dia", lamenta o coordenador.
As regiões mais violentas, conforme a observação do padre durante os trabalhos desenvolvidos, são a Cidade Industrial, em Curitiba; e os municípios de Almirante Tamandaré, Colombo, Itaperuçu, Rio Branco do Sul e Pinhais, na região metropolitana.
Estratégias
Para o sociólogo Lindomar Bonetti, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), os dados revelam a gravidade do problema. Na sua opinião, a adolescência é um período de vulnerabilidade, em que o jovem não tem maturidade para criar estratégias de autoproteção. Ele afirma também que os modelos familiares em crise e a busca por uma identidade podem ser fatores que expliquem o crescimento de mortes a cada ano.
Falta de condições de vida, com problemas com habitação, desemprego e drogas, deixam o adolescente suscetível à violência. "Pegar em uma arma pode trazer a sensação de poder e preenchimento do vazio social". Para Bonetti, a solução seria criar programas que envolvam mais as comunidades de risco. Ele cita atividades esportivas, discussões na escola e com a família como alguns exemplos. "Só ações governamentais efetivas podem barrar o excesso de violência. Do contrário, veremos crescer as estatísticas".
O programa Atitude, da Secretaria de Estado da Criança e da Juventude, é uma mostra de que políticas integradoras podem dar certo. Implantado desde abril deste ano em quatro cidades da região metropolitana que têm alto índice de violência cometida e praticada pelo jovem (Almirante Tamandaré, São José dos Pinhais, Colombo e Piraquara), o Atitude pretende abordar interdisciplinarmente a atuação e a integração das comunidades e dos jovens para que busquem a solução contra a violência.
Serviço:
Em comemoração ao Dia Nacional da Juventude, a Arquidiocese de Curitiba fará o encontro de jovens hoje, sob tema
"A juventude em marcha contra a violência", a partir das 8h30, em frente da Catedral Basílica; missa às 9 horas e na sequência um ato público pela paz, na Rua Monsenhor Celso.
Dias 20 e 21 de novembro ocorrerá o Fórum que pretende debater políticas públicas para a juventude, no Colégio Bagozzi, das 9 às 17 horas.