Interrogado ontem pela primeira vez desde o assassinato do cartunista Glauco Villas Boas, 53 anos, e o filho dele, Raoni, 25 anos, o estudante Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, 24 anos, voltou a confessar os crimes, reafirmou que foi motivado por uma "inspiração divina" e disse que premeditou a ação. Glauco e Raoni foram mortos com quatro tiros cada, na madrugada de sexta-feira, na casa do cartubnista, em Osasco (SP). Nunes está preso na delegacia da Polícia Federal (PF) em Foz do Iguaçu, no Oeste do Paraná, desde a madrugada de segunda-feira. Não há previsão para ele deixar o estado.
O delegado da Polícia Federal (PF) Marcos Paulo Pimentel revelou que o acusado repetiu durante o depoimento o que já havia dito à imprensa e à polícia logo após ser preso. "A segunda versão que ele apresentou foi bastante coerente com a primeira. Elas são praticamente idênticas." Depois de ser detido, Nunes disse a jornalistas que havia matado Glauco e Raoni inspirado por uma mensagem divina. Em algumas declarações, chegou a dizer que era Jesus Cristo. Um dos policiais que cuida da carceragem da PF disse que Nunes fala o tempo todo, sempre com o mesmo apelo religioso.
O primeiro depoimento do acusado durou cerca de duas horas e meia e ele isentou Felipe de Oliveira Iasi, que dirigia o carro em que os dois foram até a chácara de Glauco. Segundo Nunes, Iasi foi embora antes que os dois fossem mortos. O acusado foi ouvido pelo delegado Archimedes Cassão Veras Júnior, responsável pelo inquérito instaurado em Osasco. Ele esteve ontem em Foz e voltou para São Paulo no fim da tarde.
Nunes teria confirmado ao delegado que planejava levar o cartunista para a casa da mãe, mas a ação teria sido frustrada pela fuga do rapaz que o levou até a residência de Glauco, Felipe Iasi. "Ele é perigoso, se altera no depoimento, dá a impressão de que não pode ser contrariado", disse Veras. Segundo o delegado, o acusado tem o perfil de um psicótico: é inteligente, detalhista e repara em tudo. A arma do crime foi comprada na periferia de São Paulo, onde o criminoso fazia caridade e onde também comprava entorpecentes. A arma está apreendida pela PF para perícia.
Isolamento
Antes do depoimento, o estudante estava isolado na cela 3 do Setor Feminino da carceragem da PF em Foz. Na madrugada de segunda-feira, os outros presos disseram que iriam matá-lo porque ele não parava de afirmar que é Jesus Cristo. Há mais 46 presos na carceragem, entre eles quatro mulheres. O xadrez em que Nunes está preso tem 6 metros quadrados. Segundo um agente federal, o estudante não sai da cela "nem mesmo para o banho de sol". Ele também ganhou a antipatia dos policiais federais.
Nunes passa a maior parte do tempo deitado em um dos dois beliches de concreto da cela, assistindo à televisão. O aparelho não fica no xadrez, mas no alto da parede da galeria. O criminoso ficou até ontem com a roupa do dia em que foi preso, quando seu advogado, Gustavo Badaró, levou uma calça e uma camiseta.
O delegado da PF Marcos Paulo Pimentel fará uma reconstituição para saber o que o acusado fez desde que entrou em território paranaense. Pimentel tem dúvidas sobre como tudo ocorreu desde que o carro roubado que Nunes dirigia foi identificado no posto da Polícia Rodoviária Federal, em Santa Terezinha de Itaipu, até o momento em que cruzou a Ponte Internacional da Amizade, onde disparou várias vezes e feriu um policial federal no braço. A previsão é que a reconstituição aconteça no máximo até o início da próxima semana.