Ponta Grossa - A morte de uma idosa, vítima de violência sexual e espancamento dentro de um hospital, expõe a vulnerabilidade de unidades de saúde. O caso, ocorrido no fim de semana em Piraí do Sul, nos Campos Gerais, é apenas o mais recente. São várias as ocorrências registradas no Paraná nos últimos meses, envolvendo pacientes e profissionais da área de saúde (veja quadro).
Para o presidente do Conselho Regional de Enfermagem (Coren-PR), Montgomery Pastorelo Benites, se todas as unidades de saúde cumprissem a lei e tivessem quantidade suficiente de enfermeiros e auxiliares os pacientes estariam mais seguros. "Não resolveria o problema da violência, mas diminuiria os casos. Sempre haveria alguém por perto, alerta, capaz de observar se está tudo bem, se há algum estranho rondando e até de chamar ajuda", diz.
O Hospital Municipal de Piraí do Sul, por exemplo, tem apenas uma enfermeira, que trabalha oito horas diárias. No restante do tempo, contrariando as normas técnicas, a unidade fica sem um enfermeiro responsável. Benites também salienta que o número de auxiliares de enfermagem precisa ser proporcional à quantidade de leitos. "Se as profissionais não estão sobrecarregadas de trabalho, podem cuidar melhor dos pacientes", afirma. No total, 23 auxiliares trabalham no hospital. À noite, somente quatro auxiliares se revezam no atendimento às diversas áreas. O hospital é o único da cidade e atende aproximadamente 300 pessoas por dia.
Para o Conselho Regional de Medicina (CRM-PR), a sucessão de casos de violência contra profissionais de saúde em ambientes de trabalho é motivo de preocupação. O assunto está sendo debatido em uma comissão interna, levando em consideração que muitos casos de violência são imprevisíveis, mas também que há alternativas para melhorar a sensação de segurança. De acordo com o CRM-PR, não é possível generalizar, já que existem estabelecimentos que controlam atentamente a circulação de pessoas.
Somente quando casos de violência acontecem é que fica evidente a falta de segurança em muitos hospitais. O diretor clínico do Hospital Municipal de Ponta Grossa, Antônio Sobrero, reconhece que apenas depois que um caso grave de violência aconteceu na unidade é que as preocupações com segurança foram levadas mais a sério. Em agosto de 2006, dois pacientes que estavam com transtornos psiquiátricos foram colocados no mesmo quarto. Eram um homem e uma mulher. O homem, de 44 anos, aproveitou que não havia ninguém por perto e que a paciente estava sedada para estuprá-la.
"Até então, tínhamos uma segurança patrimonial. E a partir daquilo passamos a nos atentar mais para o fluxo de pessoas e para o que estava acontecendo dentro do hospital", conta Sobrero. Depois do caso, a unidade é vigiada por seis guardas municipais, com controle na circulação de pessoas e algumas entradas são fechadas depois das 20 horas.
A Federação dos Hospitais do Paraná (Fehospar) alega que, em grandes centros, os investimentos em segurança são visíveis. Prevenção de doenças e casos rumorosos de raptos de crianças levaram à estruturação. Já em pequenas cidades, a capacidade de investimento é menor, dificultando a destinação de recursos para o sistema de segurança. A federação também destaca que alguns casos de violência são imprevisíveis e praticamente impossíveis de evitar e que a recomendação é de que crianças, deficientes mentais e idosos devem receber atenção especial. A Fehospar destaca que a estrutura pública de segurança deve ser acionada em situações específicas, como quando estão internados pacientes vítimas de atentados e sobreviventes de chacina.