A morte de Tikuen Xetá, 61 anos, um dos últimos remascentes dos índios xetás, ameaça a existência da principal identidade da tribo: a língua. Atualmente, os xetás estão reduzidos a apenas sete integrantes puros sem mistura com outras etnias. No total, estima-se em 98 o número de pessoas que tenham sangue xetá no país, espalhados por Paraná, Santa Catarina e São Paulo.
O velório aconteceu ontem no pequeno posto da Fundação Nacional do Índio (Funai) no município de São Jerônimo da Serra, no Norte do estado. De nome branco José Luciano da Silva, Tikuen faleceu domingo em Brasília, vítima de derrame.
Tikuen deixou São Jerônimo da Serra em 9 de dezembro com destino à capital federal. Ele colaborava no trabalho de normatização da língua xetá, desenvolvido no laboratório de língua indígenas da Universidade de Brasília (UnB). Um dos sete filhos de Tikuen, Claudemir da Silva, 27 anos, que tem mãe branca, diz ter crescido vendo o pai perpetuar os costumes xetás, mas que nem ele, nem os irmãos sabem a língua. "Ele era o maior líder do nosso povo, sempre foi muito respeitado", constata Claudemir.
No velório, expressões sérias e preocupadas de quem sabe que suas origens estão se extinguindo. Tucanambá José Paraná Guacá, 53 anos, primo de Tikuen, veio da Reserva Rio das Cobras, em Nova Laranjinhas, e é o único xetá que pode dar continuidade ao trabalho de normatização da língua. Xetá puro, ele fala a língua corretamente. "Era para eu ir junto com ele (Tikuen) para Brasília. Mas eu fiquei doente e não falei mais disso, nem sabia que ele tinha ido", lamenta Tuca é assim que todos o chamam -, que tem diabete e sofre de hipertensão.
Reserva
Outro problema grave e que compromete a preservação do patrimônio cultural dos xetás é a falta de uma reserva indígena própria. Desde 1999 existe projeto de criação de uma reserva para reagrupar a etnia. "Com a morte do meu tio eles (autoridades) podem pensar que nós vamos desistir, mas a gente não vai", ressalta Indiamara Luiz Paraná, 31 anos, filha de Tuca, que mora na Reserva de Mangueirinha, no Sudoeste do estado. Nas reservas onde vivem, os xetás convivem com kaingangues e guaranis.
Em xetá, Tikuen significa menino. Ele será o primeiro índio da etnia a ser enterrado em São Jerônimo. É provável que seja o último.