Padre Adelir de Carli tentou permanecer 20 horas no ar em cadeira suspensa por mil balões de festa| Foto: Reuters

Completa um ano nesta segunda-feira (20) a tentativa do padre Adelir de Carli de voar com balões de festa de Paranaguá, litoral do Paraná, até Dourados, no Mato Grosso do Sul. Dado como desaparecido por meses, o corpo do religioso foi localizado no Rio de Janeiro em julho do ano passado. O padre Adelir ficou conhecido na região de Paranaguá por criar uma instituição de assistência aos caminhoneiros, que passa por dificuldades financeiras.

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O objetivo do padre era ficar 20 horas no céu, um recorde em se tratando de voo com balões de festa, modalidade não reconhecida por instituições de balonismo. No site da Pastoral Rodoviária, à qual o padre estava ligado, ele diz ter criado o evento Voar Social, como forma de atrair os canais de mídia e divulgar a pastoral, que presta assistência espiritual e social aos caminhoneiros.

Ele declarava ter "vasta experiência" como esportista de montanhismo, mergulho, pára-quedismo e vôo livre (parapente). De Carli já tinha levantado vôo com a ajuda de 500 balões em 13 de janeiro de 2008, em Ampère, no sudoeste paranaense. Atingiu 5.337 metros e desceu quatro horas e 15 minutos depois, a 110 quilômetros dali, em San Antonio, na Argentina. Segundo ele, o recorde de altitude anterior era de 39 mil metros, de um norte-americano.

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No voo do dia 20 de abril de 2008, Carli pretendia bater o recorde de tempo, que é de 19 horas, e ficar uma hora a mais nos ares, suspenso por cerca de mil balões. No dia da decolagem, o céu estava nublado e com pancadas de chuva. Mesmo assim, o padre manteve o voo. Segundo o empresário José Agnaldo de Morais, da equipe de apoio, Carli chegou a ser aconselhado a adiar a viagem, mas se recusou.

O mau tempo o levou em direção ao mar, causando a queda dos balões. Pouco antes da queda, equipes de resgate fizeram contato, via celular, com Adelir, que chegou a ficar a mais de 50 Km da costa. Os balões do padre foram localizados a 50 quilômetros da costa de Florianópolis.

O corpo do aventureiro foi encontrado em 3 de julho de 2008 no mar, a 100 quilômetros da costa de Maricá, no Rio de Janeiro, por um rebocador a serviço da Petrobras. Após o IML confirmar que o corpo era mesmo do padre dos balões, o corpo foi sepultado em Ampére, sudoeste do Paraná, onde ele iniciou começou a evangelizar.

Homenagem

Uma missa será celebrada no terreno da sede da Pastoral, em memória do religioso, às 19h30 desta segunda-feira (20). O culto será comandado pelo padre Carlimar Gonçalves de Holanda, que assumiu a Paróquia São Cristóvão após a morte de padre Adelir. Em homenagem ao religioso, que gostava de voar com balões, os fiéis chegaram a cogitar a soltura de balões após a missa, mas descartaram a possibilidade a pedidos de outros fiéis. "Desistimos por causa das pessoas de mais idade que vivem na comunidade. Eles não podem ver balões de festa que lembram do padre e começam a chorar. Essa missa será um evento de alegria", disse Denise Gallas, 45 anos, ex-tesoureira da Pastoral Rodoviária.

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Invasão na Páscoa

Ainda de acordo com Denise, a sede da pastoral está com a luz e o telefone cortado por conta de dificuldades financeiras. "Desde que o padre (Adelir) desapareceu e morreu, ficamos muito abalados e o trabalho na pastoral ficou comprometido, pois era ele que comandava tudo, procurava apoio e conseguia as benfeitorias." Denise lembrou ainda que a sede foi saqueada no (12), durante a Páscoa. "Entraram e levaram todo o material de construção que estava separado para a construção da Igreja Matriz, entraram no refeitório e roubaram um freezer, os pratos, panelas e os talheres."Obra paralisada

"Estamos construindo mais de cem quartos para que os motoristas de caminhão e suas famílias possam descansar durante as viagens. É uma maneira de prevenir acidentes, o uso de drogas e do álcool e também para integrar as famílias", disse Denise.

Foram foram investidos, enquanto padre Adelir estava vivo, cerca de R$ 800 mil no projeto, que fica em um terreno de 62 mil m², ao lado do pátio de triagem do Porto de Paranaguá. Padre Adelir de Carli fazia os vôos de balão justamente para divulgar o projeto da Pastoral Rodoviária. De acordo com dom João Alves dos Santos, bispo da Diocese de Paranaguá, uma nova comissão deve assumir a pastoral até o fim deste mês. "O local funcionou de forma modesta durante este período, mas tudo deve voltar ao normal em breve."