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Pandemia

Morte suspeita interdita hospital

Paulo Maia e outros parentes do vigilante José Ricardo Maia, morto no domingo: funcionários e visitantes do hospital receberam máscaras depois da morte | Marcelo Elias/Gazeta do Povo
Paulo Maia e outros parentes do vigilante José Ricardo Maia, morto no domingo: funcionários e visitantes do hospital receberam máscaras depois da morte (Foto: Marcelo Elias/Gazeta do Povo)

Um homem de 24 anos pode ter sido a primeira vítima da gripe A (H1N1), conhecida como gripe suína, na região de Curitiba. O vigilante José Ricardo Maia faleceu por volta das 8 horas da manhã de domingo no Hospital e Maternidade Pinhais. O Brasil registrou até o momento 15 mortes causadas pela gripe A. O país tem 1.175 casos confirmados da doença. No Paraná, são 56 confirmações.

O hospital, único do município de Pinhais, na região metropolitana de Curitiba, foi interditado ontem à tarde para desinfecção e os quatro funcionários que tiveram contato direto com o paciente foram afastados: são dois enfermeiros, um médico e um auxiliar de enfermagem.

Os funcionários ficarão sem trabalhar até o resultado do exame que apontará se Maia tinha ou não o vírus Influenza A. Uma amostra de sangue do paciente foi encaminhada ao Rio de Janeiro ontem. O prazo inicial para a entrega é de três dias, mas a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) informou que pode demorar mais porque a demanda nos laboratórios é grande.

O hospital tem 40 leitos e atende em média 120 pessoas por dia. Os cerca de 20 pacientes que estavam internados permaneceram no hospital ontem à tarde – apenas as novas consultas foram encaminhadas para outros locais. Segundo o diretor-técnico do hospital, Artur Zanellato, por ordem do Centro de Epidemiologia do estado o hospital vai reabrir hoje normalmente, após ser desinfectado.

"Os funcionários da recepção vão trabalhar com máscaras até que saia o resultado do exame. Também vamos ficar atentos aos sintomas", diz. Zanellato afirma que não há motivos para pânico, porque o paciente com suspeita de gripe A ficou isolado o tempo todo. "Não há riscos de ele transmitir um possível vírus para os outros", explica. Por outro lado, a secretária de Saúde de Pinhais, Vilma Serra, chegou a afirmar ontem que o hospital ficaria interditado (sem novos pacientes) até que se confirmasse se o caso foi ou não de infecção pelo vírus A (H1N1).

Sintomas

Maia procurou o hospital na última quinta-feira com febre alta, tosse e dificuldades respiratórias. O médico que o atendeu diagnosticou a suspeita da gripe A e o encaminhou para a unidade de saúde do Sítio Cercado. Segundo Paulo Maia, irmão da vítima, ele foi de moto até o posto. "Lá o médico receitou alguns medicamentos e o encaminhou para casa. No sábado, ele passou mal, sentiu muita dificuldade de respirar e voltou para o hospital de Pinhais. Como lá não tinha Unidade de Terapia Intensiva (UTI), ele ficou isolado em um quarto", explica o irmão. O laudo da causa da morte apresentado pelo hospital diz que Maia morreu de falência respiratória.

O vigilante entrou, dias antes dos primeiros sintomas, em contato com alguns argentinos que visitaram a empresa onde trabalhava. Depois disso, começou a apresentar sinais da gripe. Maia era casado e tinha uma filha de 2 anos. Ontem, a esposa encaminhou a menina para um pronto-socorro porque ela apresentava sinais de gripe.

Os familiares que tiveram contato com a vítima devem ficar em casa de quarentena, em observação. O corpo não vai para o Instituto Médico-Legal porque as amostras para exame foram retiradas no hospital. O caixão será lacrado para evitar a contaminação de amigos e parentes. De acordo com a assessoria da Secretaria de Saúde, em todos os casos de doença respiratória aguda grave há coleta de material para exame.

Medo

Assim que foi determinada a coleta de material para exame por suspeita de gripe suína, o hospital distribuiu máscaras para todos os funcionários e visitantes. Quem chegou ao hospital se assustou com a notícia. O casal Mariana Pereira e Valdenir Pereira Lopes internou a mãe dele, 47 anos, no mesmo dia, por suspeita de aneurisma. Assim que os dois souberam do possível caso da gripe, decidiram retirá-la do hospital e encaminhá-la para outro lugar. "Ainda não sabemos para onde vamos levar, mas estamos com medo de ficar aqui", comentou o filho.

Giro pelos hospitais

A reportagem percorreu ontem à noite os principais hospitais de Curitiba para ver como estavam os pronto-socorros em relação à gripe suína. Apenas no Hospital Santa Cruz havia problemas: um paciente com suspeita de ter o vírus Influenza A, Rafael Alves, esperava havia 45 minutos por atendimento na recepção, tossindo próximo a outras pessoas. "Ele tem febre alta, dor no corpo e tosse bastante. Chegamos faz tempo, falamos que poderia ser a gripe suína. Deram uma máscara para ele e nós ficamos aqui esperando o tempo todo, sem máscaras", diz a irmã de Rafael, Priscila Nascimento. Depois que a reportagem chegou ao local, Rafael foi imediatamente isolado e atendido. Segundo a chefe de enfermagem Mariana Cavalcanti Simões, as recepcionistas deveriam ter isolado o paciente suspeito, mas ela não sabia explicar porque isso não havia sido feito.

Rafael não viajou ou teve contato com pessoas que viajaram para os países onde já ocorre a transmissão, mas ele ficou preocupado porque as dores começaram a aumentar. No entanto, o hospital descartou a possibilidade de ele estar com a gripe A.

Colaborou João Varella

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