Rio de Janeiro - As chuvas na região serrana do Rio de Janeiro mataram 271 pessoas desde terça-feira até as 23 horas de ontem. Em Teresópolis, a cidade mais atingida, morreram 130 pessoas. Em Nova Friburgo, foram 107 vítimas. Em Petrópolis, são 34 mortos. Os números ainda podem aumentar. Ontem, durante o dia, o saldo de vítimas crescia a cada minuto e os números divulgados eram desencontrados. As três cidades sofrem ainda com falta de energia, água e telefone. A previsão é que as chuvas fortes continuem nos próximos dias na região serrana e em outras áreas do Rio. Teresópolis decretou estado de calamidade pública e Nova Friburgo, estado de emergência.
A nova tragédia no Rio acontece menos de um ano depois do desabamento do Morro do Bumba, em Niterói, em decorrências das chuvas, em abril do ano passado, quando morreram 168 pessoas. O número de vítimas na região serrana do Rio já é o equivalente a 85% ao total de mortos em todo o ano passado no estado e a 57% das vítimas no país. Em 2010, 316 pessoas morreram em conseqüência das chuvas no Rio. Em todo o Brasil, foram 473. O total de mortos desde terça-feira se aproxima da pior tragédia causada por temporais no estado, em 1988, quando morreram 300 pessoas.
Os primeiros relatos vindos das cidades apontam para o caos. Em Nova Friburgo, um colégio teve de ser utilizado como necrotério provisoriamente. A cidade está coberta de lama e as ruas estão repletas de pessoas que perambulam à procura de um abrigo. Em Friburgo, entre os mortos estão quatro bombeiros que socorriam as vítimas de um prédio que desabou na noite de terça-feira. A prefeitura teme mais mortes, já que a cidade registrou cerca de 30 deslizamentos de terra ontem.
O acesso ao município foi interrompido por causa da queda de barreiras na RJ-142. Um dos principais pontos turísticos da cidade, o teleférico, foi danificado. Os deslizamentos também soterraram parte do hotel Recanto Itália, que fica ao lado do teleférico. "Ouvi um forte estrondo e acordei aos gritos. Só deu tempo de pegar a bolsa com os documentos e meus dois cachorros", afirmou Fátima Acre, 35 anos, que mora ao lado do hotel e também teve a casa destruída. Ela conta que gritou para os hóspedes também deixassem o hotel.
Em Teresópolis, vários bairros ficaram isolados e sem energia elétrica. Segundo a prefeitura, cerca de 800 pessoas trabalham na operação de atendimento aos atingidos pela chuva. As famílias desabrigadas e desalojadas são encaminhadas para o ginásio Pedro Jahara, conhecido como Pedrão, no centro da cidade. O secretário do Ambiente do estado do Rio de Janeiro, Carlos Minc, classificou a chuva como a " maior catástrofre da história de Teresópolis. "Não foi possível escolher o que ia cair. Casa de rico, casa de pobre. Tudo foi destruído", disse a empregada doméstica de 27 anos, Fernanda Carvalho.
Em Petrópolis, a água subiu mais de cinco metros de altura. A estilista e designer Daniela Conolly, de 39 anos, e mais sete parentes, além da babá de seu filho, morreram juntos. Eles estavam hospedados num sítio no Vale do Cuiabá, em Itaipava, distrito de Petrópolis, para comemorar o anivérsário do pai dela, que também faleceu.
A desgraça estava em todos cantos. "A gente está desesperado. O caseiro me ligou às 6h30. Ele me disse que a chuva arrastou carros, tudo o que tinha pela frente e destruiu a ponte. Ele me disse ainda que os pais do nosso eletricista morreram afogados e que há mortos entre os hóspedes de uma pousada no local", conta o economista José Roberto Afonso tem uma casa em um condomínio da região.
O caseiro Manoel Cândido da Rocha Sobrinho, 45 anos, descreveu a situação no vale do Cuiabá como "um mar de lama". "Moro em um local mais alto, mas quando olho para baixo só vejo um mar de lama. A maioria das pessoas se salvou subindo em árvore ou correndo para lugares mais altos", afirma.