Numa época em que o conceito politicamente correto era a submissão total da mulher ao homem, alardeado por frases como "O lugar de mulher é no lar. O trabalho fora de casa a masculiniza", publicada pela extinta revista Querida no início da década de 50, Delésia Luigi Slomp causava alvoroço ao cruzar as ruas enlameadas do recém-emancipado município de Campo Mourão, no Centro Oeste do estado, no volante de um Jeep Willys.
Aos 34 anos, a gaúcha destoava da figura feminina tradicional, surpreendendo a sociedade local. Ela não só trabalhava ao lado do marido José Paulino Slomp, pioneiro responsável pela abertura dos primeiros loteamentos da cidade, como também dirigia seu próprio veículo. "O Paulino tinha o dele e eu, o meu", relembra Delésia, que completou 94 anos em janeiro deste ano e continua causando surpresa pelas ruas da cidade, agora asfaltadas e sinalizadas, a bordo de um reluzente Fusca ano 1986.
Oficialmente, ela é reconhecida como motorista na categoria "B" há 45 anos, de acordo com os dados registrados na Carteira Nacional de Habilitação (CNH) renovada em abril de 2012 e válida até 2015. A primeira habilitação ocorreu em 1968, no mesmo ano em que foi criado o Departamento de Trânsito do Paraná (Detran/PR), em substituição ao antigo Departamento do Serviço de Trânsito (DST). Mas ela "manejava o guidom" bem antes.
Lembranças mantidas
Com uma memória imune ao passar dos anos, Delésia relembra que "guiou" pela primeira vez em 1953. "Eu achava bonito o Paulino guiando e também quis aprender. Ele me ensinou", recorda. Em pouco tempo, convenceu o marido a lhe presentear com um Jeep.
Delésia não largou mais o volante, mesmo após a morte de Paulino. Diariamente ela retira da garagem o Fusquinha azul ou o Fox 2006 para se deslocar da fazenda onde mora até o centro da cidade, num percurso médio de 20 quilômetros no trajeto entre ida e volta. "Vou ao mercado, ao escritório da imobiliária, quase todos os dias. Também uso o carro para ir à academia, onde faço musculação e RPG. Ficar sem o carro, seria quase ficar sem minhas pernas", diz ela, que dirige sozinha em velocidade média entre 30 e 60 quilômetros por hora. "Não corro e sempre sinalizo. Tem muitos carros na rua hoje em dia e, é preciso ter cuidado com as alguns motoristas. Nunca fui multada e nenhum guarda me repreendeu", afirma a experiente motorista.