Diariamente, Delésia Luigi Slomp percorre 20 quilômetros pelas ruas de Campo Mourão| Foto: Carlos Ohara/ Gazeta do Povo

Carteiras com décadas

Número de condutores com "muita" experiência não para de crescer

O Detran-PR não confirmou se Delésia Slomp é a motorista mais antiga do estado. Segundo o órgão, os prontuários dos motoristas não podem ser divulgados. Nesta semana, a imprensa dos Estados Unidos deu destaque a Edythe Kirchmaier, moradora da Califórnia, que renovou sua carteira de motorista aos 105 anos. Edythe possui 86 anos de carteira de habilitação – e sem registro de infrações. Edythe deve entrar para o Guiness Book, o Livro dos Recordes, como a motorista há mais tempo em atividade no mundo.

Anna Variani, que morreu em 2009 aos 98 anos, em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, era considerada a motorista mais antiga do Brasil, com 67 anos de habilitação. No ano passado, o curitibano Laurindo Soares de Gouvêa, de 101 anos, renovou a carteira nacional de habilitação até 2015. Gouvêa é habilitado desde 1963, quando pôde comprar seu primeiro carro, e nunca recebeu uma multa. Extraoficialmente ele é considerado o motorista mais antigo em atividade no país.

As regras de renovação da CNH a partir dos 65 anos são mais rígidas. Além da avaliação convencional, os candidatos passam por testes de verificação das funções auditivas, além da visual. O período de validade do documento é reduzido de cinco para três anos.

CARREGANDO :)

Numa época em que o conceito politicamente correto era a submissão total da mulher ao homem, alardeado por frases como "O lugar de mulher é no lar. O trabalho fora de casa a masculiniza", publicada pela extinta revista Querida no início da década de 50, Delésia Luigi Slomp causava alvoroço ao cruzar as ruas enlameadas do recém-emancipado município de Campo Mourão, no Centro Oeste do estado, no volante de um Jeep Willys.

Aos 34 anos, a gaúcha destoava da figura feminina tradicional, surpreendendo a sociedade local. Ela não só trabalhava ao lado do marido José Paulino Slomp, pioneiro responsável pela abertura dos primeiros loteamentos da cidade, como também dirigia seu próprio veículo. "O Paulino tinha o dele e eu, o meu", relembra Delésia, que completou 94 anos em janeiro deste ano e continua causando surpresa pelas ruas da cidade, agora asfaltadas e sinalizadas, a bordo de um reluzente Fusca ano 1986.

Publicidade

Oficialmente, ela é reconhecida como motorista na categoria "B" há 45 anos, de acordo com os dados registrados na Carteira Nacional de Habilitação (CNH) renovada em abril de 2012 e válida até 2015. A primeira habilitação ocorreu em 1968, no mesmo ano em que foi criado o Departamento de Trânsito do Paraná (Detran/PR), em substituição ao antigo Departamento do Ser­­viço de Trânsito (DST). Mas ela "manejava o guidom" bem antes.

Lembranças mantidas

Com uma memória imu­­ne ao passar dos anos, Delésia relembra que "guiou" pela primeira vez em 1953. "Eu achava bonito o Paulino guiando e também quis aprender. Ele me ensinou", recorda. Em pouco tempo, convenceu o marido a lhe presentear com um Jeep.

Delésia não largou mais o volante, mesmo após a morte de Paulino. Diariamente ela retira da garagem o Fusquinha azul ou o Fox 2006 para se deslocar da fazenda onde mora até o centro da cidade, num percurso médio de 20 quilômetros no trajeto entre ida e volta. "Vou ao mercado, ao escritório da imobiliária, quase todos os dias. Também uso o carro para ir à academia, onde faço musculação e RPG. Ficar sem o carro, seria quase ficar sem minhas pernas", diz ela, que dirige sozinha em velocidade média entre 30 e 60 quilômetros por hora. "Não corro e sempre sinalizo. Tem muitos carros na rua hoje em dia e, é preciso ter cuidado com as alguns motoristas. Nunca fui multada e nenhum guarda me repreendeu", afirma a experiente motorista.