As infrações de trânsito cresceram 22% em Curitiba e 12,5% nas rodovias estaduais do Paraná na comparação de agosto deste ano com igual período de 2005. Os números apontam para duas causas: o aumento da frota de carros, que cresce em média 7% ao ano, e o abrandamento das penalidades por excesso de velocidade. A lei federal que altera o Código Brasileiro de Trânsito (CTB) é recente (foi sancionada dia 25 de julho pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva), mas já pode estar apresentando reflexos no comportamento dos motoristas. Ela reclassificou algumas infrações, deixando-as mais leves no bolso e na carteira de habilitação.
"Esta lei é ambivalente e perigosa", resume a coordenadora do Núcleo de Psicologia do Trânsito da Universidade Federal do Paraná, Iara Thielen. Se com as classificações grave ou gravíssima já dava a entender que "dá para correr um pouquinho, não faz mal", com a nova classificação é como se dissesse, de novo, que excesso de velocidade não é tão perigoso. A penalização tem sua razão, seu significado, lembra que o motorista infringiu as normas, pôs em risco a vida de pessoas. Para Iara, pior do que induzi-lo a exceder no acelerador, a lei deturpou o significado da lei e da multa. Para a pesquisadora, todo excesso de velocidade é gravíssimo.
A preocupação de Iara se traduz em números, apesar da cautela das autoridades de trânsito ao associar o aumento das infrações aos efeitos das novas regras. No perímetro urbano de Curitiba, as infrações saltaram de 15.335 em agosto de 2005 para 19.750 no mesmo mês deste ano, alta de 22%. Trata-se de uma estimativa, embora bastante realista, já que os agentes não terminaram de validar as imagens de infrações cometidas no mês. A gerente de infrações de trânsito da Diretoria de Trânsito de Curitiba (Diretran), Léa Hatschbach, considera muito cedo para fazer esse vínculo. É preciso esperar uns três ou quatro meses para ver se a tendência se confirma.
A diferença pode estar relacionada, também, à atipicidade do mês de agosto de 2005 por causa do início da sinalização dos radares. Até setembro ou outubro as pessoas ainda prestavam mais atenção ao dirigir, tentando identificar os pontos dos pardais. Léa trabalha há oito anos no controle e fiscalização de trânsito e reconhece, no entanto, que as penas mais brandas podem de alguma forma já ter interferido no comportamento do motorista. O condutor tende a dar uma relaxada porque sabe que uma multa eventual vai pesar menos no bolso e na carteira de habilitação. É como se perdesse um pouco do medo da penalidade.
As estradas estaduais também tiveram um aumento no número de infrações. Os autos de infrações emitidos pela Polícia Rodoviária Estadual (PRE) cresceram 12,5%, passando de 5.705 em agosto de 2005 para 6.519 no mesmo mês deste ano. Da mesma forma que a gerente da Diretran, o capitão Naasson Polak, da seção de planejamento e operações da PRE, também acha cedo para afirmar com segurança que a causa do aumento esteja ligado às penas mais brandas, embora reconheça que elas possam exercer influência sobre o comportamento do motorista.
Com segurança, Polak aponta o aumento do número de veículos em circulação no estado como uma das causas de maior incidência de infrações. A frota passou de 3.182.172 carros em 2004 para 3.432.367 no ano seguinte. Em maio último, o número já havia passado de 3,5 milhões de veículos. "Isso tem de ser levado em consideração", diz Polak. Se aumenta o número de carros e motoristas, é bem provável que também aumente o número de infrações.