A greve de ônibus de Curitiba e região metropolitana prevista para ocorrer hoje não se confirmou. Mas o imbróglio formado em torno da integração do sistema de transporte público está longe de acabar. A diferença entre custos e receitas vem sendo coberta por subsídios públicos desde maio de 2012. Mas, assim como nos dois últimos anos, 2015 começou com uma disputa entre prefeitura de Curitiba e governo do estado, que quer diminuir sua parcela nessa conta.
A "primeira batalha" foi resolvida ontem pelo prefeito Gustavo Fruet, que anunciou no meio da tarde um depósito emergencial de R$ 3,8 milhões no Fundo de Urbanização de Curitiba (FUC). A verba será utilizada para quitar parte da dívida acumulada com as empresas de ônibus e, consequentemente, servirá para custear a folha de pagamento dos trabalhadores. Até ontem, o débito com os empresários era de R$ 9,478 milhões.
Coube ao presidente do Sindimoc, Anderson Teixeira, o ato final da disputa e a confirmação, em coletiva de imprensa realizada na Praça Rui Barbosa, de que a possibilidade de greve estava descartada. Mas avisou que a categoria protestará hoje e o alvo central será o governador Beto Richa.
"Ele [Richa] é o responsável pela instabilidade atual do serviço. Motoristas e cobradores não serão reféns dessa disputa", criticou Teixeira. Ainda não se sabe o horário e nem quantos trabalhadores estarão no ato. "Mas é certo que não faremos nada nos horários de pico", garantiu o sindicalista.
O redirecionamento do foco para Richa tem um motivo. Até ontem, o governo ainda não havia quitado R$ 16,7 milhões referentes às três ultimas parcelas do subsídio que cobre a diferença entre o valor pago pelo usuário metropolitano e o repassado às empresas. Atualmente, a tarifa integrada custa R$ 2,85 e o valor repassado às empresas por passageiro é de R$ 3,18. O atual convênio venceu no último dia 31.
O novo ingrediente do Palácio Iguaçu para diminuir o subsídio é a pesquisa origem-destino finalizada pela Comec no último mês de novembro. Segundo o órgão estadual, os resultados desse levantamento mostraram que o custo por passageiro metropolitano é menor do que o informado pela prefeitura de Curitiba. Isso diminuiria o aporte estadual.
Roberto Gregório, presidente da Urbs, entretanto, contesta essa informação. "As pesquisas são importantes para definir o tamanho do negócio, mas o resultado apresentado pela Comec não pode ser utilizado para discutir o subsídio. Até porque essa pesquisa teve uma metodologia inadequada e tem resultados questionáveis", disse. A principal critica é de que foram entrevistados apenas passageiros embarcados limitando a pesquisa a quem já usa o ônibus.
Demanda
A pesquisa de origem-destino da Comec, realizada pela Fipe, indicou um custo por passageiro metropolitano de R$ 2,85. O órgão estadual, entretanto, ainda não mostrou a fórmula que o fez chegar nesse valor. Para a Urbs, esse custo é de R$ 4,07. Os R$ 3,18 repassados aos empresários veem de uma média que considera também passageiros embarcados e desembarcados em Curitiba.