Correndo o o risco de terem a carteira de habilitação suspensa por excesso de multas, motoristas no Sul do país estão sendo investigados pela aplicação de um golpe em que conseguem, por exemplo, transferir pontos pelas infrações para documentos de pessoas já falecidas.
Em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, o motorista Nilton Rodrigues de Freitas foi multado por falar ao celular enquanto dirigia em dezembro de 2009. Foi multado e perdeu 8 pontos na carteira. A situação seria normal se o motorista estivesse vivo no momento da infração. Mas ele faleceu em novembro daquele ano, segundo sua viúva.
De acordo com o Detran, o nome e o documento de Nilton foram usados para que o verdadeira motorista não tivesse pontos na carteira e o direito de dirigir suspenso. Fraudes como essa contam até com a participação de infratores de aluguel.
Em Curitiba, no Paraná, um despachante que preferiu não ser identificado explica que, por R$ 50, ele consegue transferir para laranjas os pontos dos motoristas que levaram as multas. "Tem mais ou menos uns 20 motoristas que eu faço isso. É gente que não se importa de perder 5 pontos, que não anda muito, trabalha o dia todo em escritório e só sai com o carro no fim de semana, não leva multa", diz ele.
De acordo com o Ministério Público do RS, também é comum o uso de prontuário de atendimento médico para tentar anular multas. Alguns são apresentados por motoristas que diziam estar correndo para levar doentes a hospitais. Mas os boletins de atendimento são idênticos e só mudam nome do paciente, além de data e horário de entrada, de acordo com o órgão. "Algumas pessoas sequer existem no banco de dados, as patologias são sempre as mesmas e as orientações médicas também. É nitidamente falsificado", diz o promotor de Justiça Flávio Duarte.
No RS, o Detran está conferindo a documentação de quem quer transferir pontos da carteira para evitar falsificações. "Os processos estão sendo encaminhados para a polícia civil, judiciário para apuração", diz Ildo Szinvelske, diretor técnico do órgão no estado.
Despachantes e advogados que fornecem informações falsas estão sendo identificados e podem pegar até 5 anos de prisão para cada tentativa de fraude.