Após 27 anos de habilitação, Ana Cristina Policarpo superou o medo, com ajuda profissional| Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo

Como funciona

Para cada condutor, um número de aulas

Seja por meio de instrutores particulares ou por uma autoescola, o processo de aumento da confiança em condutores habilitados é semelhante. "A pessoa já é habilitada, então trabalhamos em cima das necessidades dela, com uma aula que a deixe mais confiante. Geralmente se compra de duas a quatro aulas de 50 minutos para que o instrutor possa ver como o motorista está: se é falta de prática, se é medo ou um trauma. Em cima dessa avaliação é feita a contagem das aulas necessárias", explica Ednei Ignácio, diretor de ensino de um centro de formação de condutores de Curitiba.

Assim como as aulas práticas para quem vai tirar a habilitação, no reforço ou reciclagem, como alguns CFCs definem o serviço, o carro é adaptado, com pedais no lado do passageiro que permitem o controle do veículo pelo instrutor. "É bastante parecido com a aula prática de quem ainda não é motorista. A diferença é que são instrutores preparados para trabalhar o psicológico e reforçar o que a pessoa já sabe", fala Ignacio.

O carro utilizado por Fábio César Bomfim em suas aulas particulares também segue as adaptações de um de autoescola. "Sendo do interesse da pessoa, a gente migra para o carro do motorista a partir do momento que ela está apta para isso."

Os custos e o tempo de aula também são os mesmos do curso para fazer a primeira carteira de motorista: o valor gira em torno de R$ 60 a hora/aula, que dura 50 minutos. No caso de instrutores particulares, é mais fácil encaixar as aulas nos horários livres da agenda, já que alguns profissionais atendem nos fins de semana e à noite. Além disso, é possível escolher o trajeto que será percorrido. "Podemos fazer o itinerário da casa até o trabalho, até a faculdade ou à escola do filho, conforme o aluno precisa", afirma Bomfim.

CARREGANDO :)

Carga mínima

Para tirar a CNH, os candidatos precisam cumprir um mínimo de 20 horas/aula. Na sua opinião, qual seria a carga mínima de aulas práticas necessária para que uma pessoa esteja preparada para enfrentar o trânsito?

Escreva para leitor@gazetadopovo.com.br

As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.

A falta de um carro não é o único motivo que faz com que muita gente deixe a carteira de habilitação esquecida numa gaveta qualquer de casa. Tem muito motorista que, mesmo habilitado, não se sente seguro para sair guiando pela cidade. E a solução para quem deseja superar a imperícia, a insegurança e a ansiedade pode ser o retorno à escola – neste caso, representada por Centros de Formação de Condutores (CFCs) e instrutores particulares que oferecem aulas práticas de reforço.

Publicidade

Foi o que fez a microem­presária Ana Cristina Poli­carpo, de 46 anos. Em 1985, ela tirou sua habilitação. De lá para cá renovou a carteira várias vezes, mas dirigiu pouco. Depois de pagar um consórcio, Ana resolveu comprar um carro zero. "Foi então que pensei: agora vou pedir para os outros dirigirem meu carro novo?" Um mês antes de comprar o veículo, ela foi até um CFC e começou a fazer aulas práticas e de sinalização.

Hoje, cinco meses depois, dirige com segurança. "Não adianta ficar estacionado muito tempo e depois pegar um carro e sair achando que é um piloto. Sentidos de ruas mudam, mais pessoas adquirem carro e o trânsito não é o mesmo", fala. Ela conta que fez 20 aulas com um instrutor preparado para isso, em meio ao tráfego intenso da Linha Verde. "Eu tinha que cair no fervo, não adiantava ir para as ruas calmas do treinamento."

Do outro lado, quem trabalha com a missão de levar segurança e autoestima para motoristas habilitados conta que o número de pessoas que procuram ajuda especializada é menor do que deveria. "Financeiramente, o condutor acha que não compensa. Muitos preferem se arriscar no trânsito para tentar pegar confiança sozinho", diz Ednei Ignácio, diretor de ensino de um CFC.

Foco errado

Fábio César Bomfim, instrutor de trânsito particular há cinco anos, aponta que o problema principal é que os motoristas inseguros são muito focados no carro, quando a verdadeira preocupação deveria ser o trânsito. "O risco sempre existe, então é preciso reforçar a autoestima e a segurança do condutor. Fazemos isso em duas etapas: uma com a pessoa dentro do carro e outra em que ela está fora, observando o contexto todo."

Publicidade

Para Bomfim, essa demanda por aulas de reforço surge devido à ineficácia do sistema de ensino e avaliação dos condutores. "O exame não tem um critério para detectar o que é nervosismo e o que é imperícia."

Já Ignácio acredita que o ideal seria mudar a cultura do trânsito do brasileiro. "O Detran está fazendo certo, mas os condutores na rua não fazem isso. Fica muito distante o que se aprende do que se faz."