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O conservadorismo ganhou força nos últimos anos com o surgimento de grupos, movimentos e associações que atuam em defesa da vida, da família e dos direitos individuais como a liberdade de expressão e religiosa.
Considerados apartidários e sem vínculos políticos, a maioria dos movimentos se aproxima das bandeiras defendidas pelo presidente Jair Bolsonaro, que ganharam destaque ao longo do seu governo e colaboraram para o despertar da direita brasileira no país. A partir de 2023, eles preveem obstáculos, principalmente por causa das pautas "progressistas" do governo Lula, mas acreditam ser capazes de resistir às medidas abusivas e ideológicas.
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Um dos grandes movimentos que se fortaleceu nos últimos anos foi o Movimento Conservador, que surgiu em São Paulo no ano de 2016, em meio à crise institucional do governo da ex-presidente Dilma Rousseff. Além de defender a moral e os valores cristãos, o movimento se expandiu na formação intelectual, cultural e política com base nos ensinamentos do professor e filósofo Olavo de Carvalho, para formar uma militância organizada em favor dos princípios conservadores. Eles esperam anos difíceis a partir de 2023, mas acreditam sair bem-sucedidos na oposição.
Presente em 12 estados, 85 municípios e com mais de 3.000 membros atuantes, o movimento procura estar presente nas casas legislativas e organiza manifestações a favor dos policiais militares, contra o aborto, contra a doutrinação política nas escolas, contra a lei de migração e a favor da revogação do estatuto do desarmamento.
Em entrevista à colunista Cristina Graeml, o presidente do Movimento Conservador no Nordeste, André Almeida destacou o crescimento de grupos conservadores nos estados nordestinos, cuja população é considerada, em sua maioria, de esquerda, como um motivo de esperança. "Essa é uma onda que não é modismo, veio pra ficar. Era como se [o conservadorismo] estivesse adormecido dentro de nós, brasileiros, e com a chegada de alguém que tomou a frente disso, aflorou", disse.
Veja abaixo alguns dos movimentos com viés conservador que surgiram e se consolidaram durante a gestão Bolsonaro e quais são seus planos para os próximos anos:
Salvamos Vidas
A defesa da vida desde a concepção, uma das pautas primordiais dos conservadores e que será atacada pela nova gestão no Ministério da Saúde de Lula, conta com uma forte organização de movimentos e ONGs que atuam contra a descriminalização do aborto no país. Um dos grandes movimentos nacionais é o Movimento Nacional da Cidadania pela Vida – Brasil Sem Aborto, uma organização de natureza suprapartidária que atua de forma estruturada para pautar ações e argumentos a partir de evidências e pesquisas no campo da genética, da embriologia, da bioética e da legislação vigente.
Na luta contra o aborto, surgiu no ano passado o "Juntos, Salvamos vidas", com intuito de arrecadar recursos financeiros para a causa pró-vida. O movimento iniciado no dia das Mães de 2021 por alguns jovens de Belo Horizonte deu tão certo que já conta com mais de 60 mil seguidores no perfil @salvamosvidas no Instagram.
Coordenado por dois casais de jovens atuantes na causa pró-vida, o Salvamos Vidas conseguiu arrecadar mais de R$100 mil com a venda de um kit pró-vida, com um livro e um lenço. Todo dinheiro arrecadado tem sido destinado para as casas de acolhimento a gestantes espalhadas pelo Brasil.
"A articulação de grupos abortistas é muito forte, financiados por grandes empresas e fundações internacionais. Em contrapartida, muitas casas pró-vida, que abrigam e dão assistência para mulheres que rejeitam a opção do abroto e se abrem à vida, vivem apenas de doações. Por isso, o grupo começou a pensar em como poderia ajudar a levantar dinheiro para ajudar essas instituições", disse Nicholas Costa, um dos fundadores do grupo.
Pelo Instagram, o grupo oferece informações sobre a agenda abortista em todo o mundo, dá explicações sobre a prática do aborto e mostra a realidade dos bebês que são abortados, além de trazer depoimentos de mulheres que desistiram de abortar.
Em janeiro de 2023, o grupo pretende promover um curso gratuito para as pessoas que quiserem dar início a uma iniciativa pró-vida em sua cidade e as informações serão divulgadas pelo Instagram. "O objetivo é contribuir para a criação de uma rede pró-vida bem fortalecida em todo o país, capaz de fiscalizar os projetos de lei pró-aborto, em especial impedir as investidas que vierem do Governo Lula, e de atender gestantes em todos os estados", explicou Nicholas.
Escolas Abertas
O fechamento das escolas durante a pandemia mobilizou pais e mães, contrários ao confinamento forçado, na criação do movimento Escolas Abertas. Com início na cidade de São Paulo, no ano de 2020, o movimento se consolidou e já está presente em 20 estados e mais de 600 municípios. Atualmente, o grupo atua contra a doutrinação na escola, a favor da manutenção das escolas abertas (caso políticos e sindicatos proponham novos confinamentos) e de uma educação de qualidade, especialmente no ensino básico. O lema da entidade é "educação com foco no aluno".
"A gente percebe que as crianças não aprendem na escola; o nível de aprendizagem está muito aquém dos padrões internacionais. Em São Paulo, a discrepância é muito grande, o estado tem a maior renda per capita e não é o primeiro colocado em educação básica no país", disse Isabel Quintella, presidente do Escolas Abertas.
Segundo Isabel, o movimento tem se especializado em políticas públicas nas escolas públicas e conta com o apoio de vários especialistas para garantir "melhorias na educação básica no Brasil a médio e longo prazo".
"A gente acredita que a escola tem que ter resultados, como mães e como famílias e receptoras do serviço público queremos bons resultados", declarou.
O movimento defende um ambiente seguro para os estudantes e cobra uma gestão mais eficaz nas escolas públicas, tendo em vista o alto investimento com recursos públicos e a baixa eficácia no ensino. "O Brasil investe muito em Educação, se comparado com outros países é o que mais investe em percentual de PIB. O problema não é a falta de recursos é a falta de gestão que não funciona e deixa muito a desejar, por isso que os alunos não aprendem", disse Quintella.
No próximo governo do presidente Lula, Isabel destacou que a associação Escolas Abertas continuará trabalhando em busca de políticas públicas que garantam uma educação de qualidade e que preservem o direito e a participação das famílias. Todas as ações do movimento podem ser acompanhadas pelo perfil do Instagram.
Advogados conservadores
Em meio aos ataques à liberdade de expressão e os abusos do ativismo judicial nos últimos anos, vários movimentos de advogados e juristas conservadores se consolidaram no Brasil em defesa da democracia, dos direitos individuais e dos princípios cristãos.
Um desses movimentos, que surgiu no ano de 2019, é a Ordem dos Advogados Conservadores do Brasil (OACB). Criada no período em que o esquerdista Felipe Santa Cruz presidia a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o advogado João Alberto da Cunha Filho explica que a associação "não surgiu pra se opor à OAB, mas como uma voz que contrapõe o desvirtuamento da OAB que passou a ter um posicionamento mais político e ideológico de esquerda".
A OACB conta com mais de 300 advogados inscritos e centenas de apoiadores pelo Brasil. Além de preservar os valores e princípios conservadores, os advogados também atuam contra qualquer doutrinação ideológica político-partidárias e de gênero nas escolas e universidades.
Para Cunha Filho, o principal trabalho da entidade foi ressaltar o ataque à liberdade de expressão por parte do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O magistrado teme que a "perseguição aos conservadores" será ainda maior no próximo governo, mas garantiu que a OACB continuará a fazer seu trabalho de conscientização da classe.
Juristas conservadores
Após uma conversa em um grupo de WhatsApp, composto por estudantes e professores de Direito, policiais, militares, membros do Ministério Público Federal (MPF) e Advocacia Geral da União (AGU), o estudante de direito João Daniel Silva decidiu criar a Associação Brasileira de Juristas Conservadores (Abrajuc), que foi fundada oficialmente em agosto do ano passado.
Com representantes em todos os estados brasileiros, a Abrajuc tem se posicionado em artigos e notas contra as "arbitrariedades" do judiciário brasileiro. A associação apartidária pretende lançar brevemente o primeiro livro sobre ativismo judicial. Fazem parte da entidade juristas como a juíza Ludmila Lins Grilo, o procurador da República André Uliano, a procuradora de Justiça do Distrito Federal Ruth Kicis e o juiz federal Harley Wanzeller.
Segundo João Daniel Silva, presidente da Abrajuc, a associação está em fase de registro junto ao cartório para obtenção de CNPJ, mas já está funcionando dentro do que é possível e se consolidou no "período de ascensão do conservadorismo".
"O conservadorismo sempre existiu, mas teve um período extenso em que ele ficou adormecido ou escondido por vergonha ou medo de retaliação, e de 6 anos para cá começou uma onda conservadora. São frutos da semeadura do professor Olavo de Carvalho e com o movimento político houve essa germinação", disse.
Entre as principais pautas da Abrajuc, estão a defesa da vida desde a concepção, da liberdade de expressão plena, estado de direito, democracia, combate ao ativismo judicial e a defesa dos cidadãos de ter porte e posse de arma para defesa pessoal e do patrimônio. Os juristas com viés conservador que tiverem interesse em ingressar na Abrajuc podem encaminhar uma mensagem pelo perfil da associação no Instagram.