Troco dificulta trabalho dos cobradores
Além dos usuários, que passaram a pagar 30 centavos a mais na passagem de ônibus, os cobradores também sofreram no dia de estreia da nova tarifa. Desde ontem, eles começaram a ter problemas na hora de devolver o troco à população.
Cobradora há 24 anos, Maria de Jesus Freitas conta que percorre mais de dez bancas de doces na tentativa de trocar notas de papel por moedas. A peregrinação ficou ainda mais difícil agora, já que apenas as de 10 centavos não são mais suficientes. "Antes, eu trazia R$ 45 em moedas de 10 centavos. Agora, vou precisar de pelo menos uns R$ 90 de moedas de vários valores", diz.
O primeiro dia da passagem a R$ 2,20 também pegou de surpresa alguns usuários que, sem saber do reajuste, chegavam à catraca com uma nota de R$ 2 nas mãos.
A estudante Bruna Lima teve de ser avisada pela amiga Gabriela Almeida do novo valor da tarifa. "Eu não vi a notícia no fim de semana", explicou a estudante. (ELG)
No primeiro dia útil em que a tarifa de ônibus de Curitiba passou a custar R$ 2,20, movimentos sociais e partidos de oposição ao prefeito Beto Richa (PSDB) começaram a se organizar com a intenção de barrar o aumento. Associações de moradores e entidades estudantis pedem mais transparência na gestão da Urbs e acesso às planilhas de custo da empresa, que foi uma das justificativas usadas para explicar o reajuste. A intenção é tentar barrar o aumento na Justiça.
O governo do estado também se posicionou contra a elevação da tarifa e determinou que a Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (Comec) e a Secretaria de Desenvolvimento Urbano façam um estudo das tabelas de cálculo da Urbs.
Ontem à noite, representantes da Federação das Associações de Moradores de Curitiba (Femotiba), de movimentos estudantis e políticos de oposição a Beto Richa se reuniram para discutir as medidas que podem ser tomadas. A falta de clareza no gerenciamento do transporte público foi um dos pontos discutidos no encontro. Segundo Edson Feltrin, presidente da Femotiba, o aumento unilateral da tarifa de R$ 1,90 para R$ 2,20 é uma atitude que demonstra a pouca transparência na gestão da Urbs. "Ninguém tem acesso aos itens que determinaram esse novo valor da passagem", reclama. "Basta sair na rua pra ver a angústia da classe trabalhadora."
Os participantes da reunião também questionaram o porquê de o Conselho Municipal de Transporte promulgado por lei em janeiro do ano passado ainda não ter sido instalado. Formada por gestores e usuários do transporte público, a entidade deveria ser consultada previamente sobre diversos assuntos, entre eles o aumento na tarifa. "O conselho sequer foi instalado, muito menos ouvido. Não houve nenhum debate em torno do tema", afirma o vereador Pedro Paulo (PT). "Mais uma vez, a Urbs não ouviu ninguém. Só decretou."
O PT promete entrar com uma ação na Justiça, hoje à tarde, em uma tentativa de derrubar o aumento. A Femotiba estuda a possibilidade de impetrar um mandado de segurança coletivo e, por meio de liminar, trazer a tarifa para o antigo valor. Já a União Paranaense dos Estudantes Secundaristas (Upes) se reunirá com sua assessoria jurídica para analisar as condições de também conseguir uma liminar. "Iremos à Justiça de uma maneira ou de outra", diz Rafael Clabonde, presidente da Upes. "Até lá, vamos pressionar a Comec para que faça isso o quanto antes."
Ao menos por enquanto, a Comec deixou de lado a ideia de tentar barrar na Justiça a elevação da tarifa. Por determinação do governador Roberto Requião, o órgão irá analisar as planilhas de custo da Urbs para esclarecer o motivo do aumento. Não há prazo para a conclusão do estudo.
Por meio da assessoria de imprensa, a prefeitura afirma que não irá comentar supostas ações judiciais contra o aumento no valor da passagem. A administração municipal ainda alega que o Conselho Municipal de Transporte não foi instalado porque a regulamentação da entidade só ocorreu em dezembro de 2008.
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