O promotor Marcelo Celestino, do Ministério Público (MP) de Goiás, disse ontem que vai processar criminalmente um grupo de 20 cirurgiões cardíacos que atuam no estado por meio da Cooperativa dos Cirurgiões Cardiovasculares de Goiás (Copaccardio), por se recusarem a fazer cirurgias e por formação de cartel.
A decisão deve-se à resistência dos médicos em não voltar a trabalhar. Eles teriam cruzado os braços após rejeitar proposta de aumento no valor dos procedimentos cirúrgicos, de R$ 894 para R$ 3 mil, feita pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O aumento foi considerado insuficiente, a fila de pacientes cresceu e, com ela, os riscos de morte, garante o MP.
"Já são três as crianças mortas porque as cirurgias deveriam ter sido feitas imediatamente e não ocorreram", disse o promotor para a reportagem. Ele explicou que em função do impasse, iniciado no mês de fevereiro, a fila de cirurgias não anda. O que teria provocado a morte das crianças. Segundo o MP, há uma fila com cerca de 100 crianças à espera de cirurgia.
Morte
Uma dessas crianças, Maria Clara de Jesus Lima, de 2 anos e oito meses, morreu ontem. Nos últimos dois meses, já morreram outras duas. "Estou moído por dentro, sinto uma tristeza profunda", disse Eronilson de Jesus, o pai da menina que morava em Rio Verde (GO), a 235 quilômetros de Goiânia.
A morte de Maria Clara, segundo nota oficial da Secretaria de Saúde de Goiás, ocorreu pela formação de uma bolha no pulmão direito. A cirurgia no Hospital da Criança (HC) foi conduzida por equipe médica que ainda atende pelo SUS, formada por especialistas em cirurgias cardíacas em adultos.
Maria Clara precisou de uma correção do canal arterial, indicada por médicos no primeiro mês de vida. Morreu por hipertensão pulmonar e insuficiência respiratória, diz o laudo. A Polícia Civil abriu um inquérito para investigar a morte.
Para o promotor, a população já está penalizada porque os médicos teriam reduzido seus interesses à questão monetária e não no restabelecimento da saúde: "Na ponta do lápis, com o reajuste do SUS eles passam a ganhar R$ 50 mil/mês com as cirurgias. Mas não estão satisfeitos, querem mais", diz.
Na avaliação de Wilson Luiz da Silveira, médico e diretor da cooperativa dos cirurgiões, a Copacardio, as contas dos médicos têm resultado diferente dos cálculos do MP. Primeiro, disse ele, a tabela não é reajustada há décadas. Depois, garante, o que se ganha é pouco. Por fim, comentou que as cirurgias, em geral, são corretivas para defeito cardíaco congênito, o que exige a intervenção de uma equipe de cirurgiões.
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