O Ministério Público Militar vai recomendar ao Exército que filme todos os patrulhamentos, abordagens e prisões de civis durante a ocupação do Complexo da Maré, na zona norte do Rio de Janeiro, prevista para ocorrer nas próximas semanas. A utilização de armamentos não letais também será sugerida, e sua utilização deverá ser feita de acordo com técnicas de uso progressivo da força. O objetivo é garantir as liberdades individuais dos cerca de 130 mil moradores da Maré, bem como evitar acusações infundadas de supostos crimes cometidos pelos militares. O Exército terá poder de polícia garantido por meio da Garantia de Lei e da Ordem (GLO) que será decretada pela Presidência da República.
Pelo segundo dia consecutivo, nesta terça-feira (25) representantes das forças federais e estaduais passaram todo o dia reunidos no Comando Militar do Leste (CML), no Centro do Rio para detalhar como vai ser a ocupação do Exército. Ainda não foram definidos a data e o efetivo que será empregado.
Segundo fontes que estiveram nas reuniões, a maior dificuldade do Exército está sendo remanejar tropas para o Rio neste momento devido ao esquema de segurança da Copa do Mundo (que já está praticamente fechado). Desta forma, a previsão é que os militares entrem na Maré daqui a duas ou três semanas, já que inicialmente as 16 favelas da região serão ocupadas pela Polícia Militar. "Não se pode descobrir um santo para cobrir outro", diz uma fonte.
A Procuradoria de Justiça Militar no Rio formou nesta terça uma comissão com cinco integrantes que vai realizar o controle externo da operação na Maré. Para isso, os integrantes do grupo deverão estar presentes no local no momento na ocupação do conjunto de favelas pelo Exército, acompanhar a lavratura de autos de prisão em flagrante, visitar constantemente a Delegacia de Polícia Judiciária Militar que será montada na região, e acompanhar as reconstituições de crimes investigados em inquéritos policiais militares (IPMs). Participarão da comissão a procuradora militar Hevelize Jordan e os promotores militares Ednilson Pires, Jorge Melgaço, Max Brito e Irabeni Nunes.
Para facilitar a atuação do Exército na procura por traficantes, armas e drogas na Maré, a procuradora Hevelize Jordan defendeu a expedição de mandado de busca e apreensão coletivo (como ocorreu na ocupação dos complexos do Alemão e da Penha, no final de 2010). "O foco da operação será combate ao tráfico. A Maré é cenário de múltiplas facções. Além disso, a topografia da região é outro fator que dificulta os trabalhos. Não há como termos mandados de busca individuais para cada local suspeito. As sete fases da ocupação do Alemão funcionaram bem desta forma. Se tivesse dado errado, o Exército não estaria sendo chamado novamente", destacou a procuradora.
Tiroteios
Na madrugada desta terça foram registrados novos tiroteios na Rocinha (zona sul) e no Alemão (zona norte), que possuem Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs).
No Alemão, PMs faziam um patrulhamento por volta das 4h30 na Rua Joaquim de Queiroz quando foram recebidos a tiros por traficantes. Houve confronto e um suspeito foi baleado nas nádegas. Ele foi levado ao hospital. Já Handi Miller Jerônimo da Silva, de 22 anos, foi preso. Com ele, os PMs dizem ter apreendido um radiotransmissor, além de maconha e cocaína.
Já na Rocinha, traficantes atacaram uma viatura da UPP na localidade conhecida como Dioneia. Houve tiroteio, mas ninguém se feriu.
Durante o dia, PMs apreenderam, na Favela Nova Holanda, na Maré, 50 quilos de maconha, 20 quilos de cocaína, quatro pistolas, quatro granadas, cinco rádios transmissores, cinco litros de cheirinho da loló e 40 pedras de crack. Ninguém foi preso. Oito carros roubados foram recuperados.
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