Recife O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) prepara-se para atuar nas cidades, se urbanizar, ensinar os desempregados e trabalhadores não organizados a ir para a rua "fazer a luta", reivindicar, em grandes ações conjuntas com outras entidades a exemplo da Central Única dos Trabalhadores (CUT), União Nacional dos Estudantes (UNE), movimentos de sem-teto, desempregados, perueiros.
A estratégia foi anunciada sexta-feira pelo coordenador nacional do MST, João Paulo Rodrigues, em entrevista no 2.º Fórum Social Brasileiro, no Recife. "Eleição não basta, só se conseguem mudanças estruturais e na política econômica com o povo nas ruas", justificou. "Nos próximos anos o Brasil terá, possivelmente, o maior movimento de massa da história dos últimos 20 anos, caso o governo não avance nas políticas públicas."
O objetivo do MST é fazer uma revolução inspirada no recente exemplo da juventude francesa que, depois de dois meses de intensas manifestações de rua, conseguiu o recuo do governo em relação ao Contrato do Primeiro Emprego, que desaprovava. Revolução é, no seu conceito, resolver o problema do emprego, da moradia, da terra, do Estado burocratizado, das desigualdades sociais, o que também só se consegue com a mudança da política econômica.
João Paulo Rodrigues pressupõe que as ações conjuntas com os movimentos urbanos devem começar a se concretizar em 2007, com uma jornada da juventude rural e urbana. "Não queremos que a turma da cidade bote a camisa do MST, queremos que a turma da cidade lute contra o agronegócio, os transgênicos, as ações imperialistas na América Latina. Queremos grande enfrentamento ao capital financeiro internacional."
Copa do Mundo
A programação do MST integra mobilizações e invasões de terra no primeiro semestre. No segundo semestre pode haver um arrefecimento porque a tendência é de envolvimento da população com a Copa do Mundo e a campanha eleitoral, não havendo com quem dialogar no campo institucional.
No 1.º de Maio, o MST deve fazer protestos em todo o país. Em maio e junho, paralelamente a eventuais invasões, discutirá com as bases um projeto político para o país, além de identificar os pontos comuns de suas idéias com as outras organizações às quais deseja se aliar.
A estimativa de Rodrigues é que 80% dos integrantes do movimento votem pela reeleição de Lula. Mesmo com a frustração de não terem as metas em relação à reforma agrária cumpridas e das denúncias de corrupção no governo, ele avalia que Lula é o mais progressista. Mesmo assim, o MST não assumirá publicamente seu apoio ao presidente pelo menos no primeiro turno. "Queremos autonomia política, estarmos livres para cobrar, não queremos que o MST vire correia de transmissão de nenhum partido ou chapa branca de um candidato."
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