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Quase mil integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) invadiram, no sábado, a sede da Fazenda Nossa Senhora do Carmo, mais conhecida como Fazenda Brasileira, no município de Ortigueira, Região Central do estado. Outros 1,5 mil alqueires da propriedade, no município de Faxinal, já tinham sido ocupados em janeiro de 2003. A área total da fazenda, na divisa entre as duas cidades, é de 4.400 alqueires.

De acordo com o gerente da propriedade, Oseás Albrecht, centenas de sem-terra chegaram na sede a partir das 5 horas, num comboio de 14 caminhões, dezenas de ônibus, automóveis, motocicletas e muita gente a pé. Ele afirmou que a multidão de invasores tinha homens fortemente armados à frente. "Eles dispararam tiros para o alto, arrebentaram portas das casas dos empregados e ameaçaram todos como forma de intimidar", contou.

Albrecht disse que passou mais de três horas nas mãos de vários homens armados. "Recebi chutes, tapas e socos e era ameaçado o tempo todo com armas encostadas em meu corpo. Pensei que fosse morrer", disse o gerente. As treze famílias de empregados da Fazenda Nossa Senhora do Carmo estão provisoriamente alojadas em casas de amigos e parentes. Seus móveis, eletrodomésticos, utensílios e outros pertences foram guardados num barracão cedido por uma igreja, no município de Faxinal, vizinho a Ortigueira. Hoje os funcionários devem prestar depoimento sobre a invasão na polícia.

Reintegração

O proprietário da fazenda, Osvaldo Petrilli, 72 anos, que mora em São Paulo, disse que vai ingressar hoje com uma ação de reintegração de posse. Ele explicou que a Justiça já havia determinado a reintegração da primeira área invadida, além de um interdito proibitório (mecanismo judicial para evitar que o restante da fazenda fosse ocupada).

O pecuarista contou que mantém 5.500 cabeças de gado na área de 2,9 mil alqueires invadida este final de semana. "A fazenda têm 104 açudes, com dezenas de nascentes e muitas áreas de reserva florestal, além de pastagens", informou o pecuarista, anunciando que irá responsabilizar o estado em caso de depredação e prejuízos.

Petrilli revelou que estava negociando com o Incra a venda do lote de 1.500 alqueires invadido em janeiro de 2003. Segundo ele, o Incra havia oferecido pela terra um valor inferior ao praticado no mercado, mas que ele aceitaria a oferta.

A movimentação dos sem-terra está sendo acompanhada à distância pela polícia militar.

Outro lado

Na porteira da fazenda, um grupo dos agricultores sem-terra informou que o objetivo do movimento é lutar pela desapropriação de toda a área da Fazenda Brasileira, o que seria suficiente para assentar centenas de famílias da região.

Um dos integrantes do MST, que se identificou apenas pelo nome de Valdemar, disse que 800 famílias já estão nesta nova área ocupada. Ele negou que o grupo tivesse utilizado espingardas e revólveres durante a ocupação. "Nossa luta acontece apenas com argumentos e pela força de vontade de todos", assinalou Valdemar. Ele disse ainda que as famílias dos empregados foram convidadas a permanecerem na área, mas não aceitaram.

José Damaceno, um dos coordenadores do MST no Paraná, acompanhou a invasão em Ortigueira e Faxinal no fim de semana, mas ontem não foi encontrado para comentar a ocupação.

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