RECIFE - Cerca de 500 trabalhadores rurais ocuparam na madrugada deste domingo o engenho São João, pertencente à usina Tiúma, do gurpo Votorantim, na cidade de São Lourenço da Mata, na região metropolitana de Recife. Com porretes, foices, facões, enxadas, eles arrombaram o que chamaram de "maldita cerca" da propriedade e, no meio da manhã, já estavam armando suas barracas de lona negra para instalar o acampamento.
Não houve conflito entre os sem-terra e a guarda da usina. Os manifestantes invadiram o local gritando palavras de ordem e declamando o poema "O comando", de Bertold Brecht. A ocupação faz parte da jornada de luta pela reforma agrária que deverá se estender até abril, quando o MST espera ter realizado um total de 30 invasões em Pernambuco.
Além da ocupação do engenho São João, em São Lourenço da Mata, até as 10h30m deste domingo os sem-terra invadiram outras propriedades em Pernambuco, nos municípios de Vertentes, São Caetano e Cumaru. As quatro ocupações mobilizaram um total de 1.080 famílias. As duas outras foram na Zona da Mata (onde se concentra a agroindústria açucareira) e no agreste (área de transição entre o sertão e a Zona da Mata).
O Coordenador Regional do MST, Jaime Amorim, afirmou sábado que o movimento não vai ficar refém da agenda nacional este ano - Copa do Mundo e eleições presidenciais - e que as ocupações seguirão em 2006 no mesmo ritmo do ano passado. Ele disse que o movimento vai voltar a apoiar o presidente Luís Inácio Lula da Silva - "entre José Serra e Lula não há o que discutir" - e anunciou que, se até março não forem resolvidas as pendências jurídicas da reforma agrária no estado, os líderes do MST em Pernambuco repetirão uma iniciativa que naquele mês completa uma década: uma greve de fome, a exemplo da que ocorreu em 1996, liderada pelo próprio Amorim.