Sem-terra começam a erguer barracos para as 2,5 mil famílias| Foto: Fábio Conterno/Gazeta do Povo

Desbloqueio

As máquinas que estavam retidas no espaço ocupado pelo MST foram liberadas no fim de semana com ajuda de policiais do Batalhão de Fronteira. O movimento diz que nunca reteve o maquinário e apenas bloqueou a ponte sobre o rio das Cobras, já liberada. Perto da ponte, a polícia montou um acampamento para impedir que os sem-terra ocupem a sede da empresa. A Araupel obteve mandado de reintegração de posse, ainda não cumprido. O MST propôs ocupar 30% da área até a questão ser definida. A Araupel não aceitou. Amanhã haverá reunião no Ministério do Desenvolvimento Agrário, em Brasília, para discutir a questão.

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Promessas

O presidente da Assembleia Legislativa, deputado Valdir Rossoni, disse que os sem-terra que ocuparam a Araupel estão sendo iludidos com a promessa de um pedaço de terra. Ele se reuniu no Palácio Iguaçu com os prefeitos Edson Hoffmann Prado "Jacaré", de Quedas do Iguaçu, e José Nilson Zgoda, de Espigão Alto do Iguaçu, além de representantes da Araupel. "Todos torcemos para que elas [pessoas do MST]tenham um pedaço de terra, mas tem de ser em um lugar agricultável onde possam tirar o seu sustento, não numa área de reflorestamento. É preciso encontrar outro local para assentar essas pessoas."

O clima ainda é tenso nos municípios de Rio Bonito do Iguaçu e Quedas do Iguaçu, Região Centro-Sul, devido à invasão de uma nova área de terras da empresa Araupel. A ocupação feita pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) na madrugada de quinta-feira coloca em risco 1.050 empregos diretos. "Os trabalhadores da Araupel estão convidados a vir acampar com a gente. Acho que são classes trabalhadoras também, são oprimidos assim como nós somos. Então, nada mais justo do que a gente convidar eles a acampar", afirma Mônica Macedo, da coordenação estadual do movimento.

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Os sem-terra prometem cumprir um juramento feito há 18 anos durante o velório de José Alves dos Santos e Vanderlei das Neves, ambos de 16 anos, mortos na primeira ocupação. Na época, eles prometeram que enquanto existisse um pedaço de terra pertencente à Araupel, iriam lutar para que seja desapropriado para fins de reforma agrária. "Enquanto existir área neste latifúndio, a gente vai ocupar, resistir e produzir. A gente tomou isso como um juramento", disse um dos integrantes da ocupação de 1996, que se identificou como Kiko. Hoje ele ajuda os quatro filhos e outros jovens que fazem parte do novo acampamento.

Quatro dias após a invasão, a Gazeta do Povo esteve no assentamento onde o MST estrutura os barracos das 2,5 mil famílias. O acesso é controlado por um rigoroso sistema de segurança. Em uma guarita, vários "seguranças" abordam quem queira entrar no local. Segundo Mônica, a medida é para evitar que armas e bebidas sejam levadas para o acampamento e tmbém para garantir a segurança de todos. "Independentemente de quem passar por aqui, seja sem terra ou a presidente da República, nós vamos revistar, de forma educada."

Segundo o MST, assim que terminarem de estruturar o acampamento com os barracos, os sem-terra prometem iniciar o plantio na área. "Agora é plantar, produzir e mostrar a que viemos enquanto movimento sem-terra. A expectativa é muito grande de todas as famílias que estão aqui, de poder de sobreviver da terra", diz Mônica.

João Xester, um dos integrantes do acampamento denominado de Herdeiros da Terra 2, disse que a expectativa é grande em conseguir um espaço de terra. Ele conta que já se aventurou tentando ganhar a vida na cidade, mas não conseguiu ficar longe do campo. "Eu quero ver o progresso da agricultura e pelo movimento é a única maneira de se conseguir um pedaço de terra."