Ponta Grossa – Cerca de 150 famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) resistiram à madrugada mais fria do ano, ontem, e reocuparam a fazenda São Francisco II, em Ponta Grossa, nos Campos Gerais, que pertence ao ex-coronel da Polícia Militar Waldir Copetti Neves. Os sem-terra voltaram ao local 20 dias após a desocupação da área pela Polícia Militar. Na fazenda São Francisco I, separada da área invadida apenas por uma cerca de arame farpado, estão seguranças do ex-coronel. O risco de conflito é grande.

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"Sabemos do risco que corremos, mas não vamos sair. Vão ter que nos matar ou prender todo mundo", afirmou o militante Arilson de Assis. O advogado de Copetti, Carlos Eduardo Biazetto, rebateu e disse que o risco existe por parte dos sem-terra. Segundo ele, na manhã de ontem os funcionários da fazenda foram obrigados a deixar a área sob pedradas.

A fazenda foi ocupada pelo MST em agosto de 2005 e a reintegração de posse ocorreu no último dia 4, 18 dias depois do juiz da 3.ª Vara Cível, Francisco Carlos Jorge, determinar a prisão de autoridades militares por desobediência à liminar que determinou a reintegração. Segundo Biazetto, hoje será protocolado na Justiça o novo pedido de reintegração.

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O MST quer que a área seja desapropriada. Segundo o movimento, a fazenda pertence à Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias (Embrapa) e o ex-coronel grilou a área. Copetti nega. Segundo seu advogado, foram gastos R$ 60 mil na recuperação das duas fazendas nos últimos 20 dias, já que os sem-terra teriam danificado o solo para plantar novas culturas. O movimento, no entanto, afirma que, logo depois da desocupação, Copetti mandou arar o terreno plantado.

Essa foi a segunda fazenda reocupada em uma semana no Paraná. Na manhã de segunda-feira, cerca de 40 famílias ligadas ao Movimento dos Agricultores Sem-Terra (Mast) tentaram voltar a ocupar a fazenda São Roque Gonzáles, em Guapirama, no Norte Pioneiro, mas a Polícia Militar frustrou o movimento.

Representantes de entidades ligadas aos fazendeiros usam o termo "terrorismo" para classificar a atuação do MST. O presidente da União Democrática Ruralista (UDR) no Paraná, Marcos Menezes Prochet, critica o governo do estado e diz que os números divulgados sobre desocupações são forjados, porque não levariam em consideração as reocupações. Para o coordenador de política fundiária da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), Tarcísio de Souza, a "desordem" promovida pelo movimento mostra o desrespeito às leis e é um reflexo da "morosidade" do governo em cumprir as ordens de reintegração. A Secretaria de Estado da Segurança Pública informou que vai aguardar a posição da Justiça.