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Pressa e pressão para mudança de sexo: 4 relatos sobre ideologia de gênero

Confira os relatos sobre ideologia de gênero
Confira os relatos sobre ideologia de gênero (Foto: Pexels)

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O diagnóstico de um paciente com disforia de gênero (a sensação de pertencer ao gênero oposto ao do sexo biológico) é um dos cenários mais complexos para profissionais de psicologia e psiquiatria. Mas a experiência demonstra que, na maior parte dos casos, os sinais desse transtorno desaparecem com o tempo. Por isso, a abordagem mais conservadora costumava prescrever um acompanhamento psicológico adequado durante um período razoável de tempo. Recentemente, entretanto, métodos mais cautelosos têm sido abandonados em favor de uma transição rápida com cirurgia e hormônios, que deixa marcas irreversíveis. Ao mesmo tempo, profissionais de saúde críticos desse modelo são silenciados, seja por meio dos órgãos de classe, como o Conselho Federal de Psicologia, seja por meio da pressão dos grupos mais engajados ideologicamente. Hoje, a tese mais popular é a de que não cabe a psicólogos e psiquiatras avaliar se o paciente deve ou não fazer a transição, mas apenas facilitar o acesso a hormônios e cirurgias. É a chamada terapia “afirmativa”, que pode gerar sequelas gravíssimas em pacientes com disforia de gênero temporária. Para mostrar as nuances na discussão sobre o assunto, a Gazeta do Povo convidou quatro pessoas - três profissionais de saúde e um ex-transexual - a compartilharem suas experiências pessoais nesse campo. Todos demonstram preocupação com os sinais de que a ideologia está se sobrepondo à ciência.

"O bom e honesto raciocínio clínico seria tratar a mente em vez de fazer uma cirurgia"

Por: Sérgio*, psiquiatra com 30 anos de experiência.

Trabalho num grande hospital público de uma capital. Há alguns anos, apareceu lá uma paciente buscando uma mastectomia por acreditar ser transexual. Pediram minha avaliação. Eu conversei com a paciente e contraindiquei essa cirurgia. Eu concluí que ela estava em conflito emocional e que precisaria de tratamento psicológico, não de uma intervenção cirúrgica. Fiz um parecer, as psicólogas vieram conversar comigo para tentar me demover. Eu disse: “Olha, é o meu parecer, a minha formação médica e eu acho que ela precisa de psicoterapia e não cirurgia”. Então apareceram pessoas de um grande centro universitário do meu estado que tem um ambulatório especializado em transtorno do gênero. E praticamente interditaram o meu parecer, por causa do suposto maior conhecimento deles na área. Depois eu vim a saber que essa pessoa foi operada. Passados dois ou três anos, me procuraram para pedir apoio, porque essa pessoa estava angustiada: já havia tentado suicídio, estava usando droga. E eu me recusei, mas cheguei a entrevistar a paciente mais uma vez. Ela atribuía os problemas à cirurgia. Uma pessoa com o psiquismo aparentemente saudável desenvolveu abuso de droga, tendência suicida, depressividade, não tinha relacionamento pessoal, perdeu o emprego, estava morando de favor. Hoje, o fluxo nesses casos é mais rápido: tem uma entrevista com uma psicóloga específica que encaminha para esse setor de transição de gênero. O bom e honesto raciocínio clínico seria tratar a mente em vez de fazer uma cirurgia. Os protocolos anteriores exigiam uma observação de dois ou três anos. Eu sou consultor de alguns colégios particulares de classe média alta e percebo que existe uma pressão, especialmente entre as meninas, em favor dessa coisa de gênero fluido. Não é uma experiência própria, de motor próprio. É uma pressão social.

*Nome fictício a pedido do entrevistado.

"Na psicologia, o profissional que vai contra o que o Conselho defende pode até ter o registro cassado"

Por: Raphael Câmara, professor da UFRJ e conselheiro do Conselho Federal de Medicina.

Essa questão de gênero virou pauta identitária, e tem piorado muito. Os militantes são fortes, passam por cima da ciência e, quando você fala contra eles, te tacham de preconceituoso. Quando participei de uma audiência pública na Câmara dos Deputados, uma deputada queria me prender por "transfobia". Eu estava lá como técnico, para falar de um assunto técnico, e fui ameaçado de prisão (na ocasião, Câmara afirmou que alguns parlamentares criticam o gasto com cesarianas no SUS, mas não questionam a realização de cirurgias de mudanças de sexo). Na psicologia, o profissional que vai contra o que o Conselho defende pode até ter o registro cassado. Isso é muito perigoso e prejudica o paciente, porque o profissional fica com medo de ser ameaçado, cassado e sofrer punição. Eu não deixo de fazer o meu trabalho por causa de perseguição, porque já tenho uma carreira consolidada e dois empregos públicos concursados. Mas um profissional iniciante certamente vai ser retaliado, e vai ter muito menos facilidade para conseguir emprego e progredir na carreira. Isso é um fato. No início, tentaram impedir meu crescimento, em várias situações. Por exemplo: em concursos públicos de “marcar x” eu sempre fui primeiro lugar. Mas quando depende de banca e envolve questões subjetivas, a situação muda. Já fui prejudicado. (...) Nunca tive voz em congressos da Febrasgo (Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia), mesmo sendo especialista nos temas. Tenho mestrado e doutorado, publiquei diversos arquivos em revistas internacionais, e nunca sou chamado.

"Há muitos casos de jovens que se arrependeram e estão destransicionando, buscando a sua vida de volta, porém, com marcas profundas psíquicas e físicas, como a mutilação e a esterilização"

Por: Akemi Shiba, psiquiatra especialista em infância e adolescência.

“Você quer um filho vivo ou um filho morto?” Essa é a falácia que induz muitos pais a autorizarem o início do tratamento de transição de gênero com bloqueadores da puberdade e hormônios cruzados. Muitos filhos ameaçam os pais de suicídio caso esses não autorizarem o tratamento de afirmação de gênero. Os pais precisam entender que o risco de suicídio é uma emergência psiquiátrica e como tal deve ser tratada. Mas, após debelado o risco, a segunda etapa é tratar as causas do problema. Cerca de 90% dos casos de disforia de gênero se resolvem espontaneamente no final da adolescência. Então, caso uma criança ou adolescente inicie o tratamento de afirmação de gênero, ela perde a chance de seguir para o desfecho de resolução natural. Esse caminho de intervenções hormonais culminará na cirurgia de mudança de sexo e consequentemente em uma esterilização definitiva. Nos casos de disforia de gênero transitória, a intervenção hormonal e cirúrgica pode ser um desastre. Há muitos casos de jovens que se arrependeram e estão destransicionando, buscando a sua vida de volta, porém, com marcas profundas psíquicas e físicas, como a mutilação e a esterilização. Há intenso debate no meio científico internacional a respeito da conduta de afirmação de gênero na infância e adolescência. Isso configura uma terapia não consagrada na medicina. A corrente que defende o desenvolvimento natural, sem intervenções hormonais e cirúrgicas, se contrapõe à que preconiza intervenções com hormônios artificiais que iniciam a transição de gênero e que culminarão na esterilização cirúrgica. Há forte reação por partes de grupos ativistas e políticos pró-agenda transgênero contra os profissionais que expõem as razões para proteger o desenvolvimento natural da criança e do adolescente. Exemplo claro foi a repercussão da palestra sobre disforia de gênero na infância e adolescência que eu ministraria no dia 18 de março em Porto Alegre e que foi adiada em função do lockdown. Pelo intenso debate que o caso suscitou, ficou muito evidente o quando a sociedade está sedenta por mais conhecimento e como há uma corrente contrária a esse debate.

"Muitas vezes a gente pensa que a redesignação genital é a solução para os problemas. Não é a realidade (...)"

Por: Robert Diego de Paula, 33 anos, ex-transexual.

Eu vivi como transexual durante muitos anos. Eu me percebi como transexual aos 15 anos de idade e transicionei. Em 2010, decidi ir para a Tailândia fazer a cirurgia de redesignação sexual, acreditando que seria para sempre. Nunca pensei que um dia eu poderia deixar de ser transexual, até os 27 anos de idade, depois que tudo já estava completo. Então eu pensei: “É só isso? Então a solução para os meus problemas se resumiu a isso?” Não me senti totalmente satisfeito depois da transição. Muitas vezes a gente pensa que a redesignação genital é a solução para os problemas. Não é a realidade; o problema não está no corpo, está na mente. Eu hoje entendo quando as pessoas questionam: “Por que não o tratamento psicológico? Por que não ir ao psiquiatra e fazer esse acompanhamento?” A mente é que precisa ser tratada. Mas há uma pressão política pela transição. Tudo o que é no campo do sentimento pode ser transitório. A minha transexualidade foi transitória, como a de tantos adolescentes passam por uma transição dentro da sua adolescência. Afirmar para os adolescentes que eles têm incongruência de gênero, nos casos em que na verdade há apenas uma confusão, vai criar um número muito maior. Hoje, há uma inflação hoje por modismo. E quanta atenção os profissionais da saúde têm dado a esse modismo?

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