Um dos programas mais reconhecidos de Curitiba, premiado pela Organização Pan Americana de Saúde (Opas), o Mãe Curitibana passa por mudanças. O objetivo das alterações, iniciadas em 2013, é que todas as gestantes da cidade sejam atendidas por médicos e enfermeiros da equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF). Com isso, a futura mãe é acompanhada durante toda a gestação pelos mesmos profissionais. Antes, faziam pré-natal em unidades de saúde com ginecologista e/ou enfermeiro sem que necessariamente a mesma equipe acompanhasse toda a gravidez.
Todo mundo
O Mãe Curitibana já não atende só gestantes. Grávida, Fiama da Silva, 23 anos, preferia a unidade exclusiva para gestantes. Mas elogia o serviço. Sílvio Fabris, 53 anos, procurou a unidade ao sentir dores no peito. “O atendimento foi bom”, diz. Uma senhora de 73 anos, que não quis dizer o nome, buscou remédio para o marido, de 75. “Venho desde que começaram a atender outras pessoas. Para nós é muito bom.”
Das 110 unidades de saúde do município, 65 possuem equipes da ESF. Há dois anos, 55 postos tinham Saúde da Família. O número de equipes aumentou de 186 para 240. Isso porque a quantidade de equipes da ESF varia em cada unidade conforme a população local.
Idosos
A mudança da unidade de saúde Mãe Curitibana em uma unidade Saúde da Família coincidiu com a transformação da unidade Ouvidor Pardinho, no centro da cidade, também um posto de Estratégia Saúde da Família. O espaço, que atendia idosos até 2013, abriu espaço para receber pacientes de diversas faixas etárias.
Especialistas alertam que essas mudanças de atendimento a gestantes exige melhoras nas estruturas físicas das unidades de saúde e na contratação de mais profissionais de saúde. Com a mudança proporcionada pela Secretaria Municipal de Saúde, o atendimento com um médico especialista fica limitado a casos mais graves.
Seguindo esse novo modelo adotado pela prefeitura, a própria Unidade de Saúde Mãe Curitibana, no bairro São Francisco, deixou de ser uma clínica especializada ( que realizava primordialmente consultas a grávidas e exames ginecológicos) e passou a incorporar serviços da ESF. Dessa forma, mães e gestantes passaram a dividir o mesmo espaço com públicos de diversos perfis e problemas de saúde.
Fila de espera
Dentro da linha de descentralização e do fortalecimento da saúde básica, a Secretaria Municipal de Saúde realiza a revisão de 16 mil consultas agendadas com especialistas da área– 11 mil relacionada à ginecologia geral e cinco mil, cirúrgicas. O objetivo é reduzir o número de pacientes na fila e tentar resolver alguns desses casos nas unidades básicas de saúde, principalmente através do programa Saúde da Família.
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, mesmo assim, a unidade ainda mantém espaços para exames especializados a gestantes. Nesse mesmo processo, a unidade de saúde Ouvidor Pardinho deixou de atender somente idosos em 2013. A política de saúde adotada pela capital do estado tem como espelho o modelo de saúde da Inglaterra, em que se prioriza o atendimento público e a atenção primária da saúde.
Usuários diversos frequentam a unidade Mãe Curitibana
Basta ficar uma hora na frente da unidade de saúde Mãe Curitibana para perceber que para cada 10 grávidas que são atendidas, outras 10 pessoas também buscam ajuda médica. Grávida de sete meses, Fiama da Silva, de 23 anos, e sua cunhada, Liliane Freitas, 31, prefeririam que a unidade fosse exclusiva para as gestantes. “Se o nome é ‘Mãe Curitibana’ seria o mínimo. O nome já diz”, afirma Fiama. Apesar desta queixa, disse que o atendimento na unidade “foi bom”.
Aos 53, Sílvio Fabris procurou ajuda na unidade após sentir dores no peito. “Estava com dores no peito há uns dias, marquei consulta e o atendimento foi bom”, aponta.
Outra usuária da unidade ouvida pela reportagem não quis revelar seu nome. Aos 73 anos, ela foi até o local para buscar remédios ao marido, que possui 75. “Faz pouco tempo que frequento aqui. Vim aqui desde que começaram a atender outras pessoas. Para nós é muito bom”, diz.
Segundo o coordenador do Mãe Curitibana, Wagner Aparecido Barbosa Dias, o objetivo é fazer com que todos os exames de pré-natal passem a ser realizados pela Saúde da Família até o fim deste ano. Com o atendimento feito pelas equipes ESF, as consultas são realizadas por enfermeiras e médicos generalistas. Com exceção dos casos de gravidez de alto risco, em que a grávida é encaminhada para um hospital de referência e a um especialista.
“A mudança melhorou o fluxo de atendimento, tornando maior a eficácia do atendimento”, afirma Dias. Para aumentar o número de equipes em outras unidades de saúde, a prefeitura abriu concurso público para contratar 60 médicos.
Segundo o ex-coordenador do programa, Edvin Javier Boza Jimenez, o Mãe Curitibana, que existe desde 1999, mesmo com as mudanças estruturais implantadas pela atual gestão, continua funcionando bem. “O número da queda de mortalidade infantil comprova que está funcionando.”
Alterações
Compare algumas mudanças estruturais em andamento no programa Mãe Curitibana:
Pré-natal
Como era:
As gestantes faziam pré-natal em unidades de saúde da cidade com clínico geral ou ginecologista ( se tivesse o profissional no posto) ou ainda enfermeiro sem necessariamente que a mesma equipe acompanhasse toda a gravidez.
Como ficou
A nova política de ampliar a Estratégia Saúde da Família possibilita que a mesma equipe realize o acompanhamento da gestante durante todo a gravidez. Consultas são realizadas por enfermeiras e médicos generalistas. Em casos de gravidez de alto risco, é encaminhada para um especialista.
Unidade Mãe Curitibana
Como era:
A Unidade de Saúde Mãe Curitibana atendia prioritariamente gestantes e crianças e realizava outros atendimentos ginecológicos.
Como ficou
A unidade passou a integrar a Estratégia Saúde da Família, atendendo além de gestantes, outros pacientes.
Maternidade
Tanto antes quanto atualmente, a futura mãe já agenda na primeira consulta o local onde será realizado o parto.
Exames HIV
Tanto antes quanto agora, os exames de HIV são realizadas pelo programa.
Antes do parto, as gestantes passam por novos testes rápidos.
Visita domiciliar
Com o aumento da ESF, as equipes podem visitar a gestante em seu domicílio quando a grávida estiver impossibilitada de ir à unidade.
O índice de mortalidade infantil na cidade encerrou 2014 no menor nível da história do município. Foram registrados 7,7 óbitos para cada mil nascidos vivos. Em 1999, no primeiro ano do programa o índice foi de 14,7. Para o atual diretor do programa, o objetivo para este ano é, pelo menos, manter esse índice. “Se reduzir, melhor ainda.”
Falta de especialistas divide opiniões
Com a mudança, não é obrigatória a presença de um médico no atendimento à gestante nos casos em que a gravidez não for de risco. Para a enfermeira Regina Reinaldin, da Pastoral da Criança, todo o pré-natal passou a ser realizado pelas equipes da Saúde da Família e isso não traz prejuízo às grávidas. “Os profissionais são capacitados. A ideia é fortalecer a saúde básica e analisar o contexto do paciente.”
O presidente do Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR), Maurício Marcondes Ribas, ressalta que em casos de consulta clínica a entidade defende que esta seja feita por um médico. “Tenho dúvidas se o profissional não médico tem essa capacitação”. Mas ele afirma que o médico generalista, que atua no ESF, passa por capacitação para a função. “O médico, neste caso, não está habilitado para mexer com gestação de alto risco.”
Sobre o fortalecimento da Saúde da Família, Ribas diz que é cedo para avaliar os resultados. “Isso só será passível de ser analisado daqui a cerca de 25 anos. Tanto a população quanto os profissionais precisam se habituar com a mudança”, ressalta.
Na teoria, mudança pode ampliar o serviço
A professora do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade de Brasília (UnB), Ximena Pamela Bermudez, explica que a descentralização de serviços médicos, por si, não é negativa. Para ela, o fechamento de uma unidade exclusiva para gestantes pode fazer com que o atendimento seja ampliado a outros locais da cidade. “O sistema precisa de reordenamentos no modelo de atenção. Ao descentralizar, na teoria, há uma abrangência maior dos serviços em outros locais”, avalia.
Porém, a pesquisadora, que também é consultora da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), alerta que são necessários alguns fatores para que esse modelo de gestão funcione. Entre os principais, ela elenca estrutura física, recursos humanos e conscientização dos profissionais. “Precisa um reordenamento da estrutura e uma consciência da importância do trabalho que será realizado. Caso contrário, o resultado tende a ser negativo.”
Discordância
No entanto, para o ex-secretário municipal de Saúde, ex-prefeito e atual deputado federal Luciano Ducci, o programa Mãe Curitibana precisa de uma unidade específica para esse público. “Teria que aumentar o número de estruturas especializadas, que possibilitam um atendimento diferenciado e mais dedicado a esse público”, diz. Segundo ele, não era necessário transformá-la em uma unidade Saúde da Família. “Poderia ter criado uma outra unidade e mantido a Mãe Curitibana como era.”
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