Nas próximas décadas, será preciso aumentar em pelo menos 60% a produção agrícola no planeta se for mantido o mesmo padrão de consumo, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO). Além disso, as mudanças climáticas, a escassez de água e a erosão são ameaças para a agricultura.
O assunto foi um dos temas de uma reunião anual da Rede WWF (World Wildlife Fund), que ocorreu entre os dias 5 e 9 de maio, em Foz do Iguaçu, no Oeste do Paraná. Foi o primeiro evento internacional dos integrantes da ONG realizado no país. A WWF está presente em mais de 100 países e conta com 5 milhões de associados.
Superintendente de Políticas Públicas da rede, Jean-François Timmers diz que o planeta está chegando ao limite da capacidade e já se observa no mundo inteiro efeitos da superexploração dos recursos naturais. As mudanças climáticas, que criam escassez, são uma das preocupações dos ambientalistas. O Brasil é um exemplo. A forte seca nas regiões Sudeste e Sul afeta a produtividade de algumas culturas e a segurança no fornecimento de energia elétrica no país. "Há concretamente um impacto real de questões ambientais sobre a economia como um todo", diz Timmers. Ele observa que em algumas regiões do mundo as abelhas estão desaparecendo. Isso faz com que lavouras diminuam a produtividade, de 10% a 20%, por falta de polinização.
O ambientalista ainda comenta que a agenda ambiental não é separada de outros debates de desenvolvimento. Pelo contrário, é condição e sustentação da atividade econômica. "Hoje isso está dissociado nas mentes, mas não nos fatos."
Conforme o relatório Planeta Vivo, do WWF, a produção de alimentos aumentou 45% nos últimos 20 anos. Até 2030, a demanda mundial por energia primária e água crescerá entre 26% e 53%. Isso trará impacto na produção de alimentos. O setor consome um terço da energia primária e 70% da água disponível no planeta.
No evento do WWF em Foz, foram discutidas estratégias e diretrizes globais e o posicionamento da rede em relação aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, uma das propostas resultantes da Rio+20. Os ambientalistas presentes no encontro vão agora tentar inserir as decisões do evento nas estratégias dos grupos que representam.
ENTREVISTA
Para especialista, questão ambiental não trava desenvolvimento
Maria Cecília Wey de Brito, CEO do WWF no Brasil
De acordo com Maria Cecília Wey de Brito, do WWF Brasil, as autoridades políticas precisam se conscientizar de que as questões ambientais não estão descoladas do desenvolvimento social e econômico. Leia trechos do bate-papo com a especialista:
Qual é a maior preocupação do WWF em relação ao Brasil?
A preocupação é de fato conseguir que o governo federal e os governos estaduais passem a observar que meio ambiente não é um ente à parte. Se não cuidarmos, ao mesmo tempo e com todas as políticas, do local de onde nós vivemos e, portanto, do nosso meio ambiente, não haverá melhorias na produção e nas condições de vida das pessoas. É preciso mudar um pouco a forma como tem sido abordada a questão ambiental pelos governantes.
Os governos não incorporaram essa preocupação, de fato?
Pior do que não incorporar, os governos têm visto isso como uma situação em oposição ao crescimento e ao desenvolvimento, como se houvesse uma intenção direta de fazer com que o Brasil e outros países não pudessem alçar melhores condições econômicas, sociais e ambientais.
Podemos afirmar que há um embate do setor ambiental, principalmente com a área do agronegócio?
Isso é uma falácia. Do nosso ponto de vista, isso foi criado como uma forma de mal traduzir para a população a questão ambiental, que é complexa e envolve todo mundo, não só um setor. Tem relação com o setor produtivo, governamental. E quando se coloca uma oposição é mais ou menos como tratar essa discussão como se fosse um jogo de futebol. Não existe essa contraposição, existem ideias que não são necessariamente iguais. Dá para conciliar, e melhor do que tudo, todo mundo precisa que o meio ambiente esteja saudável, se não você não tem produção, emprego, renda e consumo.
No Brasil, há muito desrespeito ambiental por parte do agronegócio?
Existe um pouco de desinformação como em muitas áreas do Brasil, não é apenas no setor agrícola. Há uma informação feita para ser desencontrada, existe um tipo de ganho político sobre isso. Mas creio que a sociedade brasileira é muito melhor do que isso e é capaz de observar essas questões de uma forma mais inteligente. O próprio setor produtivo tem a clara noção de que o planeta tem limites e que eles precisam ser respeitados.
Qual é o maior impacto hoje em termos ambientais?
Em caráter global e persistente são as mudanças climáticas, porque afetam a todos e provavelmente com mais intensidade aqueles com menos condições de se beneficiar economicamente. Muito embora a falta de água e o mal manejo dos recursos hídricos do Brasil têm de ser tratado imediatamente, porque tende a se repetir. A política existe, mas a aplicação é muito mal feita e pouco priorizada.
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