Seminário
Laurentino Gomes fala de história, literatura e educação
Todos os anos, o Instituto GRPCom promove o Seminário de Educação & Leitura, com o objetivo de incentivar a leitura e o exercício da cidadania por meio dela. O evento é parte da programação anual do projeto Ler e Pensar e, nessa edição, convida o escritor paranaense Laurentino Gomes, quatro vezes ganhador do Prêmio Jabuti de Literatura, para um bate-papo. A conversa será mediada pelo jornalista e colunista da Gazeta do Povo José Carlos Fernandes e vai girar em torno de temas como história, literatura e educação.
O seminário será realizado dia 28 de outubro no Teatro Guaíra. Além da presença de Gomes, o evento terá também com uma peça teatral e cerimônia de premiação dos vencedores do Concurso Cultural 2014.
A proposta do concurso, que chega à sétima edição, é premiar o desenvolvimento de práticas pedagógicas que utilizem o jornal como recurso educativo. Nesse ano, a temática central dos trabalhos inscritos é "Escolha consciente", a propósito do processo eleitoral.
Desafios
A intensificação do fluxo de informações e a disponibilidade de novos recursos também implicou mudanças na sala de aula. O desafio enfrentado diariamente pelo professor não é mais a aquisição de conhecimentos, mas tornar possível a apreensão e significação desses conteúdos por meio de exercícios de interpretação, análise crítica e associação entre os conhecimentos. "O aluno de hoje tem contato com uma quantidade imensa de comunicações. O professor deve auxiliá-lo a contextualizar e a refletir sobre todo esse conteúdo", explica Verônica Branco, da UFPR.
Formação
Verônica destaca a importância de políticas de educação que possibilitem a formação continuada do professor, além de uma abordagem interdisciplinar que englobe pedagogia, sociologia da formação, psicologia da educação, estratégias didáticas e recursos para o aprendizado. "Porém, muito mais do que possuir competência acadêmica e técnica, o professor tem que gostar do convívio e da interação, tem que ter interesse pelo crescimento do outro. A prática pedagógica acontece no contato humano e o professor deve se fixar como sujeito de sua comunidade escolar."
Valorização
Apesar de essencial para a formação de todos nós, o status social do professor também sofreu impactos desde a metade do século passado, lembra Verônica. "Hoje é uma profissão estigmatizada pelo desprestígio financeiro. Temos também uma estratificação da profissão que não é benéfica, pois qualifica os profissionais pelo nível escolar em que atuam. Há uma simplificação grande da profissão, quando na verdade é uma profissão complexa, porque mexe com sujeitos e o profissional precisa entender como é esse sujeito", defende.
Mudanças
O perfil do professor mudou bastante nos últimos 40 anos, muito em função de uma transformação do próprio processo de aprendizagem, que alterou os papéis exercidos pelo educador e pelo aluno:
1970 até esse período, o professor era um "conteudista", explica a pedagoga Verônica Branco. "O professor desse período conhecia muito conteúdo, decorava e transmitia." 1980 década marcada pelas primeiras tecnologias da educação, o que trouxe novidade e desafio para o tradicional ambiente escolar. "Aqui, o professor estava preocupado em transmitir com tecnologia, com imagens, com os novos recursos disponíveis", ensina Verônica.
1990 mais tecnologia embarca na rotina escolar. "Foi um período em que o professor passou a dispor de opções variadas de tecnologia, mas tinha dificuldade para se apropriar dela adequadamente", diz a especialista.
2000 o século 21 exige do professor múltiplas competências e interação com o aluno e com colegas de profissão. "O professor trava um embate entre práticas tradicionais e a necessidade de enxergar o aluno", define a especialista.
Todo mundo tem pelo menos uma lembrança com eles e não é para menos: durante anos, acompanham o crescimento e desenvolvimento de crianças que chegam cada vez mais cedo às salas de aula, puxam orelhas (figurativamente) quando necessário e marcam estrelinhas nos cadernos quando merecido. À medida que crianças tornam-se adolescentes, são eles que superam, dia após dia, as oscilações de humor e de disposição e orientam os primeiros pensamentos desses jovens questionadores sobre o futuro além-escola.
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Embora essa típica construção social sobre quem é o professor perdure, a profissão passou por uma grande reconfiguração nos últimos 40 anos, muito em decorrência de uma mudança no entendimento sobre o que é educação. Nas salas de aula, o professor passou de transmissor de conhecimentos para formador de cidadãos e mediador de informações.
"Até meados do século 20 a escola no Brasil foi muito tradicional. A educação era centrada no que o professor transmitia para o aluno. Depois, passamos por um período de descoberta das tecnologias da educação. Só no início do século 21 é que se passou a falar em aprender até então se falava em ensinar. Mas não adianta ensinar se o aluno não aprende", explica Verônica Branco, doutora em Educação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e professora no setor de Educação da instituição.
Mudou, também, o trato com o aluno. Hoje, o ensinar passa pela compreensão por parte do professor de quem é o aluno a quem ensina e quais experiências sociais ele possui. "Essa é a grande virada: considerar as vivências daquele sujeito e como ele aprende, para provocar a necessidade de aprender. A forma como se ensina tem que levar em consideração quem é cada aluno", observa Verônica.
Professora na Escola Municipal Wenceslau Braz, Mariana de Oliveira Tozato, 31 anos e 10 de magistério, integra essa primeira geração de professores cuja formação foi baseada nas novas concepções pedagógicas, que situam o professor em um contexto de ensino bastante heterogêneo.
"O processo de educação envolve o contexto cultural, familiar e socioeconômico da criança. Se o professor elaborar um plano de aula sem conhecer a realidade do aluno, ele fica desconectado, quando na verdade precisa criar um vínculo forte com quem vai ensiná-lo."
Jornal faz a diferença na escola
Ao perceber uma demanda educacional não suprida, Ilze Cristina Sollner de Brito Correa, 36 anos, 20 deles dedicados ao magistério, não se fez de rogada: buscou formação especializada e passou a trabalhar com alunos surdos na Escola Municipal Ulisses Guimarães, em Campina Grande do Sul. No projeto idealizado por ela no Ler e Pensar, a professora estimula a leitura das principais notícias do dia, para que seus alunos aprimorem a compreensão do dia a dia. "Surdos têm mais dificuldade em apreender a informação completa, entendem muitas coisas fragmentadas", explica.
Ciente de que quanto mais associada à realidade vivida mais interesse a aula desperta, Ilze tratou de verificar quais assuntos eram mais familiares aos alunos e decidiu vivenciar a informação jornalística na prática. Para isso, o grupo ultrapassou os muros da escola e foi conhecer um centro de reciclagem de perto; visitou um posto de saúde e entrevistou o diretor da unidade e desbravou um centro de referência em agroecologia. Na volta, elaboraram apresentações para os colegas e um jornalzinho.
Já Mariana Tozato, professora de Ciências na Escola Municipal Wenceslau Braz, usa as edições da Gazeta do Povo para trabalhar educação ambiental com os alunos. Fez leituras e discussões direcionadas de reportagens sobre meio ambiente. Tudo mudou com as chuvas de junho, que provocaram enchentes no Paraná. "Os alunos contavam que suas casas foram alagadas, falavam das roupas e brinquedos que perderam", lembra. Defensora de práticas pedagógicas que contextualizem o conteúdo ensinado e o aproximem da realidade dos alunos, ela chamou pais e professores para um bate-papo sobre o assunto.
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Fonte: Adaptado de Referenciais para o Exame Nacional de Ingresso na Carreira Docente - Documento para Consulta Pública, MEC/Inep.
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